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Dia 06.02.02

"Patrícia, meu amor, te adoro"

Nos 53 dias de espera do fim do sequestro, Patrícia Viotti cumpriu um ritual. Deitada na cama, preparando-se para dormir, colocava entre as mãos as fotos do marido, Washington Olivetto, e repetia, por várias vezes, uma frase: "Nós somos fortes, nós somos fortes". Entregava-se a uma espécie de mantra na esperança de que a energia daquelas palavras pudesse chegar até o cativeiro. "Eu me sentia conversando com ele."

No seu cativeiro, no Brooklin, Washington também cultivava um ritual amoroso. Escreveu em vários tijolos da parede, numa composição harmoniosa, a declaração que seria estampada nos jornais depois da libertação: "Patrícia, meu amor, te adoro". Naqueles tijolos, ele registrava os nomes -Homero, o filho, por exemplo- de quem o ligava ao prazer de viver. "Foi o jeito que encontrei de sempre lembrar os meus pontos focais", conta Washington, que, exposto apenas à luz artificial, não sabia mais distinguir o dia da noite.

Ele gosta tanto de amplos espaços que preferiu não ter uma sala na W/Brasil, tornando-se pioneiro, no país, de uma inovação arquitetônica. Tem espaço em várias estações de trabalho. "Não sei ficar numa sala fechada", dizia frequentemente. Metido num cubículo de 1,5 m por 3 m, sem banheiro, impossibilitado de conversar (até mesmo com o carcereiro), Washington encontrou a salvação nas letras. Apesar de tudo, não lhe negaram o direito ao papel. "Escrevia sem parar para me manter conectado. Há muito tempo já não estava acostumado a escrever à mão. Por isso estou agora repleto de calos nos dedos."

Quando os dedos não mais suportavam a dor, ele buscava refúgio nas palavras marcadas nos tijolos com lembranças de prazer. "O laço mais forte era o amor de Patrícia." Naquele mural emotivo, fama, dinheiro e poder -coisas que Washington ganhou muito na vida- não tinham mais importância. O essencial, o que o ligava à vontade desesperada de sair dali, de sobreviver, era o afeto.

Autor de tantas frases famosas e de anúncios que projetaram o Brasil na propaganda mundial, ele fez de seu cativeiro um jeito inesquecível de dar originalidade a uma declaração de amor tão repetida em todos os cantos do planeta. Só mesmo um gênio publicitário seria capaz de fazer que um tenebroso sequestro também fosse lembrado como um caso de amor por causa de um anúncio de cinco palavras gravadas em baixo-relevo na parede de uma casa numa rua chamada Kansas.

 

 
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