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Marcelo Coelho
  18 de agosto
  Que droga!
 
   
Primeiro, foi a bandeira da prisão perpétua. Agora, são os programas eleitorais com ar de seriado: e Maluf aparece como paladino da segurança pública na disputa pela prefeitura de São Paulo.
Todos sabem que um prefeito não tem quase nada a fazer diretamente pela redução da criminalidade --exceto no que diz respeito a reprimir os assaltantes dos cofres públicos, o que não sei se é especialidade do candidato do PPB.
Se tantos aplicam a Maluf o lema do “rouba, mas faz”, será que agora vão aderir ao “rouba, mas prende?” Ao “rouba, mas também mata”? Ou ao “rouba, mas não estupra”? Seja como for, é ingênuo pensar que a campanha eleitoral vá discutir de fato programas e soluções para a cidade. A função de toda campanha é muito mais “expressiva” do que racional. Importa falar do que dói, do que incomoda; o voto é, em grande parte, desabafo.
E mais do que nunca se sente a violência na cidade. É de longe o maior problema: a pesquisa da Folha publicada nesta quinta-feira tem dados impressionantes. No bairro do Itaim Paulista, um terço dos entrevistados conhece alguém que foi assassinado nos últimos doze meses.
Não há como não ver o grande fracasso da gestão de Mário Covas nessa área. Aliás, espanta-me como Covas é poupado pela opinião pública. Seriedade, integridade política, sem dúvida ele tem. Mas só as rebeliões na Febem seriam suficientes para evidenciar sua triste, patética, ofendida inoperância.
Acho que estou mesmo de mau-humor. Mas uma coisa que não consigo engolir é a mania dos candidatos de dizer que vão combater as drogas e a criminalidade de nossa juventude construindo quadras de esporte e campos de futebol.
Essa história de que “esporte não é droga”, etc., me parece um mito, uma superstição. Talvez um viciado em crack não consiga jogar basquete, mas duvido que quem tenha adolescentes em casa não perceba o óbvio. Adolescentes adoram esporte e fumam maconha. Passam o dia brincando de skate e vão para a balada e para a bebida nos fins-de-semana.
O que, de resto, é normal. Não vou satanizar a maconha nem a bebida, embora seu consumo pelos adolescentes possa ser preocupante. Mas tampouco vejo porque divinizar o esporte. Maradona jogava futebol e cheirava cocaína. Exceção? Talvez.
Mas podemos pensar de modo inverso. A moda dos esportes radicais, por exemplo, assim como a droga, seriam sintomas de uma mesma necessidade: a de brincar com o perigo; a de lançar-se a uma frenética busca pela “intensidade” das experiências, numa voracidade que parece típica do adolescente contemporâneo.
Tudo, atualmente, se dirige ao jovem como se dissesse: mais, mais, sempre mais. Um completo vazio na vida espiritual tem de ser preenchido por mais bens de consumo, mais videogames, mais esportes, mais drogas. Não falta lazer ao adolescente: falta sentido, falta significado, falta função a encontrar na vida.
Claro que, se quiserem construir vinte ginásios de esporte na cidade, isto é bom. Ajuda na socialização do cotidiano, serve como ponto de encontro para as pessoas, e praticar esporte faz bem à saúde. Mas é bem característico da pobreza mental contemporânea ver na atividade física a solução para um mal-estar mais amplo.


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