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Não incluo o
patriotismo entre as minhas poucas e discutidas virtudes. Mesmo
assim, fiquei inchado de orgulho cívico, há tempos, quando soube
que o Brasil, a Bolívia e o Paraguai haviam assinado soleníssimo
documento garantindo à comunidade internacional que jamais usariamos
a energia nuclear para fins que não fossem pacíficos.
Pouco depois, o Brasil curvou-se mais uma vez à globalização, assinando
um tratado contra a proliferação das armas nucleares. Resistia-se
a isso, pois o dito tratado beneficiava os poucos países que já
detêm arsenais atômicos. O argumento tinha lógica: o tratado eterniza
o status quo em matéria de poderio nuclear. Quem tinha, teria sempre.
Quem não tinha, que continuasse fabricando estrelinhas e busca-pés
para as festas juninas.
Antes que me acusem de defender o genocídio nuclear, deixo claro
que também sou contra o uso desse tipo de arsenal para defender
ou atacar seja lá o que for - o que de resto não influi para mais
ou para menos na questão. Aproveito apenas a ilação: assim como
o tratado contra a proliferação das armas atômicas beneficia o restrito
grupo das potências que já dispoem de bombas nucleares, a globalização
tende a privilegiar para todo o sempre os países que já superaram
o problema da miséria, da doença e da instabilidade política.
Globalizar é manter o status quo não apenas na corrida nuclear mas
na corrida econômica e social. Quem chegou lá, que fique e peça
compreensão aos que ainda se esbofam para atingir o mesmo patamar
de desenvolvimento.
O raciocínio é o mesmo. Assim como a proliferação das armas nucleares
pode bagunçar o equilíbrio militar e estratégico do mundo, a luta
pela superação da pobreza pode prejudicar o botim da economia mundial.
Daí que cada macaco deve ficar no seu galho.
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04/5/2000
- Vizinhos
e internautas
02/5/2000 -
Dos
deuses antigos
27/4/2000 -
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aérea
20/4/2000 -
Companheiro de viagem
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