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desembucha@uol.com.br"
  29 de outubro
Primeiro, derrubemos a família. Depois...à revolução
 
   

Acabo de ver uma entrevista com um astrofísico (português ?) chamado João Magueijo, defensor da teoria da inconstância da velocidade da luz. Se correta, será uma revolução na Física que derrubará, de uma tacada, boa parte do gênio de Lavoisier e Einstein, entre muitos outros, e quase tudo que pensamos entender sobre os caminhos e destinos do Cosmo. Coisa tão grandiosa que não há espaço aqui para explicá-la, e tão complicada que não há nesse escriba talento para fazer-lhe justiça.

Mas o que chamou atenção na entrevista de João foi ele ter contado que chegou a essa conclusão quando ainda era um "fellow" na sua universidade e, como precisava arranjar um trabalho para sustentar a si e aos seus depois de terminado o período de estudos, resolveu guardar toda essa iconoclastia para quando já estivesse estabelecido, com emprego garantido.

Fiquei imaginando cá com os meus botões quanto teria perdido o mundo se, nesse meio tempo, João tivesse morrido sem poder abrir a boca. Felizmente, recebeu uma bolsa generosa para fazer sua pesquisa aqui na Inglaterra, e hoje está aí, tratando de revolucionar o conhecimento científico. João teve a sorte de ser um cientista, ocupação que ainda rende polpudas bolsas de estudo. Não é o mesmo para escritores, pintores, políticos, filósofos, etc.

Aí você fica pensando: quantos gênios já não foram desperdiçados na história da humanidade porque, atrelados aos valores burgueses que nos aprisionam, tiveram de abandonar suas paixões para pagar contas, sustentar filhos, ter uma posição respeitável, etc.

A estrutura familiar, dentre todas as imposições sociais, é a mais taxadora: a não ser que o sujeito tenha nascido rico ou acerte a loteria, é praticamente impossível conciliar uma carreira com atividade revolucionária - tanto estética quanto política, já que nenhuma delas paga, já que no caso da estética o revolucionário não é compreendido por ninguém, e no caso da política os interesses contrariados facilmente sufocarão a teoria e seu arauto, metaforica e literalmente. Há que se pagar contas, pagar aluguel, vestir-se. Opta-se, então, por uma carreira rentável. Esta, à medida que o sujeito envelhece, paga mais. O excedente não é usado para aposentar-se, mas sim para sustentar os filhos, cuja adolescência e necessidade de auxílio parece alongar-se cada vez mais. Quando os filhos já estão na idade de seguir rumo próprio (e começar sua própria teia de dependências), o sujeito já está velho demais, e ainda corre o risco de ter de sustentar os pais.

Não é por acaso, assim, que todas as instituições montadas para preservar o status quo - especialmente a religião organizada e o governo - insistam na supremacia da família como núcleo indissolúvel da nação, e aliem preços altos a serem pagos por movimentos de liberação individual - do adultério ao abandono da prole - através de penas judiciais e/ou espirituais.

O caminho para a construção de uma nova sociedade talvez passe, então, não pelo redesenhamento da estrutura do Estado ou das relações de poder internacional, mas sim pela reinvenção da relação do homem com seus dependentes. Algum filho da mãe se atreve?

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