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Acabo
de ver uma entrevista com um astrofísico (português
?) chamado João Magueijo, defensor da teoria da inconstância
da velocidade da luz. Se correta, será uma revolução
na Física que derrubará, de uma tacada, boa parte
do gênio de Lavoisier e Einstein, entre muitos outros, e quase
tudo que pensamos entender sobre os caminhos e destinos do Cosmo.
Coisa tão grandiosa que não há espaço
aqui para explicá-la, e tão complicada que não
há nesse escriba talento para fazer-lhe justiça.
Mas o que chamou atenção na entrevista de João
foi ele ter contado que chegou a essa conclusão quando ainda
era um "fellow" na sua universidade e, como precisava
arranjar um trabalho para sustentar a si e aos seus depois de terminado
o período de estudos, resolveu guardar toda essa iconoclastia
para quando já estivesse estabelecido, com emprego garantido.
Fiquei imaginando cá com os meus botões quanto teria
perdido o mundo se, nesse meio tempo, João tivesse morrido
sem poder abrir a boca. Felizmente, recebeu uma bolsa generosa para
fazer sua pesquisa aqui na Inglaterra, e hoje está aí,
tratando de revolucionar o conhecimento científico. João
teve a sorte de ser um cientista, ocupação que ainda
rende polpudas bolsas de estudo. Não é o mesmo para
escritores, pintores, políticos, filósofos, etc.
Aí você fica pensando: quantos gênios já
não foram desperdiçados na história da humanidade
porque, atrelados aos valores burgueses que nos aprisionam, tiveram
de abandonar suas paixões para pagar contas, sustentar filhos,
ter uma posição respeitável, etc.
A estrutura familiar, dentre todas as imposições sociais,
é a mais taxadora: a não ser que o sujeito tenha nascido
rico ou acerte a loteria, é praticamente impossível
conciliar uma carreira com atividade revolucionária - tanto
estética quanto política, já que nenhuma delas
paga, já que no caso da estética o revolucionário
não é compreendido por ninguém, e no caso da
política os interesses contrariados facilmente sufocarão
a teoria e seu arauto, metaforica e literalmente. Há que
se pagar contas, pagar aluguel, vestir-se. Opta-se, então,
por uma carreira rentável. Esta, à medida que o sujeito
envelhece, paga mais. O excedente não é usado para
aposentar-se, mas sim para sustentar os filhos, cuja adolescência
e necessidade de auxílio parece alongar-se cada vez mais.
Quando os filhos já estão na idade de seguir rumo
próprio (e começar sua própria teia de dependências),
o sujeito já está velho demais, e ainda corre o risco
de ter de sustentar os pais.
Não é por acaso, assim, que todas as instituições
montadas para preservar o status quo - especialmente a religião
organizada e o governo - insistam na supremacia da família
como núcleo indissolúvel da nação, e
aliem preços altos a serem pagos por movimentos de liberação
individual - do adultério ao abandono da prole - através
de penas judiciais e/ou espirituais.
O caminho para a construção de uma nova sociedade
talvez passe, então, não pelo redesenhamento da estrutura
do Estado ou das relações de poder internacional,
mas sim pela reinvenção da relação do
homem com seus dependentes. Algum filho da mãe se atreve?
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