NOSSOS
COLUNISTAS

Amir Labaki
André Singer
Carlos Heitor Cony
Clóvis Rossi
Eleonora de Lucena
Elvira Lobato
Gilberto Dimenstein
Gustavo Ioschpe
Helio Schwartsman
Josias de Souza
Kennedy Alencar
Lúcio Ribeiro
Luiz Caversan
Magaly Prado
Marcelo Coelho
Marcelo Leite
Marcia Fukelmann
Marcio Aith
Nelson de Sá
Vaguinaldo Marinheiro

Gustavo Ioschpe
desembucha@uol.com.br"
  5 de novembro
Ou é burro, ou é mais esperto do que imaginamos
 
   

Caso se confirmem as pesquisas eleitorais, teremos nessa semana a vitória de W. Bush à presidência americana. Nunca, que eu saiba ou me recorde, terá havido vencedor mais cavalarmente despreparado, ignorante e “aloof” do que seu oponente. Al Gore, apesar de toda sua dureza e falta de carisma, é um político experiente, preparado, com os pés no chão e uma história de sucessos que o fazem o melhor vice-presidente da história americana. Terá perdido para alguém que diz “grecianos” ao invés de “gregos”, que não sabe nem o nome de importantes líderes internacionais, que só costuma ler livros sobre beisebol, que faliu quase tudo que tocou e que, ao ser confrontado com uma avalanche de números e estatísticas em um debate, só conseguiu responder que o seu adversário estaria usando uma “matemática obscura” (“fuzzy math”).

O etsablishment liberal americano está indo à loucura. Os jornais importantes do país - NY Times e Washington Post - já vieram a público declarar apoio a Gore; em todas as revistas intelectualizadas faz-se um malabarismo para entender como é que Gore, com todo o sucesso de uma gestão que presidiu o maior crescimento econômico da história americana, consegue estar perdendo pra esse caipira. Joe Klein, na última New Yorker, diz que Gore apequenou-se ao entrar dentro do esquema de “focus groups” e pesquisas de opinião, e assim perdeu sua estatura superior. Hendrik Hertzberg, na mesma revista, defende que o problema estaria com os eleitores, votando de acordo com a personalidade dos candidatos, como se fosse eleição para grêmio estudantil e não presidência da República. Os grupos mais conservadores defendem que a culpa é da devassidão da gestão Clinton. E os fanáticos certamente dirão que a culpa é do candidato a vice, Lieberman, judeu.

Frente a essa desconexão entre a intelectualidade e o populacho, é interessante entender o que está se passando. E eu defenderia, como já o fizeram outros, que o público americano, ao contrário de burro ou ingênuo, está sim optando conscientemente pelo mais inepto. Há um consenso nos EUA de que o boom econômico não tem muito a ver com Clinton, mas sim com uma economia que já se clona e cresce por seus próprios méritos. De mãos, os americanos só acreditam na invisível do mercado, e já se cansaram da boba onipresente de Clinton. Querem, assim, um presidente que não bagunce o coreto. Que não venha com nenhum grande plano de assistência social ou que mexa com o superávit do orçamento. E que também não incomode com escândalos pessoais ou grandes iniciativas internacionais.

Suspensos pelas ondas de um mercado acionário transbordante, os americanos já abandonaram o estágio onde há um sentimento de coletividade, de res publica. Quem tinha que se dar bem teve todas as oportunidades pra tanto, e quem está na pior é por culpa sua e dane-se - essa parece ser a cosmovisão reinante na terra do tio Sam. Como em uma tragédia, os sucessos da dupla Clinton-Gore terão causado seu ocaso, e Brutus reinará pelos próximos anos. A não ser que estejamos errados eu e as pesquisas, e que vença alguém com alguns neurônios de sobra.

* * *

Uma eventual derrota de Gore terá mais um toque de tragédia grega. É inegável que Gore perderá por seus próprios méritos e deméritos, muito mais do que Bush terá ganho pelos seus. Mas, se olharmos para os números, veremos, provavelmente, que Gore terá perdido por causa dos 4% ou 5% que devem ir para Ralph Nader, um independente com grande tradição nos movimentos ecológicos e de direitos civis. Repetir-se-á, com sinal trocado, o resultado das eleições de 1992, quando um caipira de Arkansas venceu um presidente da República que acabava de vencer uma guerra triunfalmente, porque os votos deste foram repartidos com outro caipira, maluco, chamado Ross Perot. O presidente em questão, como todos sabem, era George Bush, pére.

Leia colunas anteriores
29/10/2000 - Primeiro, derrubemos a família. Depois...à revolução
22/10/2000 - A um passo do genocídio
15/10/2000 -
A culpa é de quem ?
08/10/2000 - Aos derrotistas... Oh! O Fracasso
1º/10/2000 - Pra inglês ver


| Subir |

Biografia
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A - Todos os direitos reservados.