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Passando pela França, testemunhei nas últimas semanas
o espaço dedicado pela imprensa para a abertura da versão
gaulesa da Amazon.com, talvez a principal loja de comércio
online na área cultural. O shopping virtual criado por Jeff
Bezos vai enfrentar concorrentes locais como a Alapage (alapage.com),
Bol (bol.com) e FNAC (fnac.com), entre outros. Um teste do Le Monde
(lemonde.fr) mostrou que a Amazon sai na frente quanto à velocidade,
entregando na casa dos fregueses franceseses em metade do tempo. Mas,
do milhão (!?!) de livros vendidos na França diariamente,
só 5 mil são hoje negociados por meio da Internet.
EUA,
Grã-Bretanha e Alemanha sediaram as primeiras representações
da empresa. Jeff Bezos criou um gigante que parece ter pés
de barro. Fundada há cinco anos, a Amazon continua no vermelho.
Perdeu 650 milhões de dólares só no primeiro
semestre deste ano. No Le Monde de 9 de setembro último, Bezos
reconhece: "Queria criar um pequena empresa muito rentável
e acabei criando uma enorme que perde dinheiro".
Mais
dia, menos dia, parece provável que chegará a vez de
Cultura, Siciliano, Submarino etc. enfrentarem-na por aqui. Na verdade,
à distância, já o fazem. Sempre morri de curiosidade
quanto às encomendas da clientela brasileira da Amazon. Morria.
Um novo serviço da loja online agora nos permite conhecer os
principais produtos vendidos ao Brasil.
"Guerra
Nas Estrelas -Episódio 1: A Ameaça Fantasma", em
video. "O Sexto Sentido", em DVD. "Riding With the
King", de Eric Clapton e B. B. King, em CD. "Harry Potter
and the Goblet of Fire", o quarto volume da saga, nos livros.
São estes os atuais campeões de vendagem para o Brasil
pela Amazon.
Exceto
o último, cuja tradução ainda espera lançamento
pela Rocco, todos poderiam ser adquiridos no mercado brasileiro.
A
regra vale, de maneira geral, para o conjunto das listas. A imensa
maioria dos CDs, DVDs e fitas de video que lideram o ranking está
disponível em edições nacionais em qualquer shopping.
Quanto
aos filmes, fogem à regra lançamentos recentes no mercado
americano, como "O Informante" (o nono DVD), e "South
Park: Maior, Melhor e Sem Cortes" (o décimo VHS) -exibido
lá em salas ainda em 1999 e aqui apenas há algumas semanas.
Entre os CDs, contam-se uma ou outra exceção, como a
nova compilação de canções da telessérie
"Ally McBeal" (Heart and Soul: New Songs From Ally McBeal
Featuring Vonda Shepard), muito mais cultuada lá do que cá.
A
relação mais curiosa é, assim, a dos livros.
Os quatro primeiros postos pertencem, claro, a Harry Potter -mesmo
estando os dois primeiros já disponíveis em português.
Outro infanto-juvenil, com dicas para o jogo Dungeons & Dragons,
ocupa o quinto posto. É o que se chama de Poder Jovem na era
da Web.
A
metade final da lista é dominada por livros sobre computação,
sendo uma antologia sobre o e-capitalismo (Digital Capital, de Don
Tapscott e outros), um manual para web-designers (Design Web Usability,
de Jakob Nielsen) e um livro técnico sobre o sistema XML (XML
By Example, de Benoit Marchal).
Duas
surpresas positivas completam a relação de mais vendidos.
No sexto posto, temos "From Dawn to Decadence: 500 Years of Western
Cultural Life, 1500 to Present" (Da Aurora à Decadência:
500 Anos de De Vida Cultural no Ocidente, de 1500 ao Presente), de
Jacques Barzun. "Um monumento", segundo Elio Gaspari -e
para mim basta. Por fim, duas posições abaixo, eis o
manual de auto-ajuda com grife, "The Consolations of Philosophy"
(Os Consolos da Filosofia), assinado pelo mesmo Alain de Bottom de
"Como Proust Pode Mudar Sua Vida" e "Ensaios de Amor".
Não
consigo entender as listas para CDs, DVDs e videos. Acho que as relações
incluem compras de impulso num prazo algo longo, isto é, compradores
apressados que adquirem os produtos quando saem no mercado americano,
com pequena vantagem de tempo sobre o lançamento no Brasil.
É isso ou tem gente queimando dinheiro -o que é sempre
mais fácil via cartão de crédito.
Quanto
aos livros, crianças e jovens redescobrindo a leitura, atualizações
sobre informática, uma sólida introdução
à história da cultura, conselhos de Sócrates
e Nietzsche: reconheça-se, poderia ser muito pior.
Leia colunas anteriores
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31/08/2000 - Branco,
míope, comunista
24/08/2000 - Na
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17/08/2000 - "No limite" é
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10/08/2000
- Garrafa virtual
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