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FHC imita JK, cinema recicla TV e um adeus
Começou a trabalhar nesta semana em Brasília o Grupo Executivo de
Desenvolvimento da Indústria do Cinema no Brasil, que força um pouco
a mão e perde um "d" para retomar a sigla juscelinista Geic (deveria
ser Gedic). Nada que surpreenda: a era tucana tem verdadeiro fetiche
por siglas, a começar da transformação do ministro Fernando Henrique
Cardoso no candidato FHC.
O gesto busca aproximar simbolicamente o neo-Geic do Geic original,
criado em fins de 1958 por JK. Era então um Grupo de Estudos da Indústria
Cinematográfica, o terceiro criado por Juscelino, logo depois dos
dedicados à indústria automobilística e à de construção naval.
O Geic de 1958 era presidido pelo ministro de Educação e Cultura,
Clóvis Salgado. O Geic de 2000 tem por coordenador o ministro da Casa
Civil, Pedro Parente. Há quem comemore a mudança administrativa (mais
perto do Planalto, mais longe da cultura) como um "up-grade" para
a questão audiovisual. É ver para crer.
Seis ministérios e representantes da atividade cinematográfica vão
discutir, segundo o ministro Francisco Weffort no Valor de ontem,
"a criação de empresas na produção de cinema e como criar mecanismos
pelos quais haja mais atividade empresarial na área".
O neo-Geic é a resposta governamental às acerbas críticas a sua atuação
que marcaram o 3. Congresso Brasileiro de Cinema. Tanto é assim que
excluíram do novo grupo ninguém menos que o principal executivo federal
do setor, o secretário do Audiovisual do MinC, José Álvaro Moisés.
É uma forma ambígua de desautorizá-lo sem substituí-lo. Já vimos este
filme antes.
Não pretendo alimentar qualquer bairrismo, mas vem exclusivamente
do Rio de Janeiro toda a representação da chamada "classe" no neo-Geic.
Nada contra Luiz Carlos Barreto, Carlos Diegues, Gustavo Dahl, o distribuidor
Rodrigo Saturnino e o articuladíssimo Evandro Guimarães da Globo.
São os inevitáveis da hora. Mas onde está a representação do resto
do país? Só se faz e consome cinema e TV no Rio?
Tudo somado, é mais um mau começo.
* * *
Há celebração demais para a marca de 600 mil entradas para "Eu Tu
Eles", de Andrucha Waddington, e para o sucesso de público também
nos cinemas de "O Auto da Compadecida", de Guel Arraes. Para o pesado
investimento de estréia, o belo filme de Waddington rendeu pouquíssimo.
Seu pico de bilheteria já foi ultrapassado. "Eu Tu Eles" deve aproximar-se
da marca de "O Castelo Rá-Tim-Bum" (pouco mais de 700 mil) e tornar-se
uma das dez maiores bilheterias desde a retomada. Ainda assim, é decepcionante
para seu potencial, com o aplauso de crítica, bom boca-a-boca, repercussão
internacional, campanha publicitária agressiva etc.
Por sua vez, apesar da precariedade técnica, "O Auto da Compadecida"
merece essa segunda vida nas telas de cinema. Só temo pela apressada
defesa da reciclagem de produtos televisivos como nova fórmula mágica
para a redenção do cinema brasileiro. Há um Guel Arraes, um Jorge
Furtado para cada quinze fulanos -e nem é preciso dar nomes.
Não há muita novidade nessa transferência de sucesso da sala de estar
para a do multiplex: para ficarmos em exemplos recentes, basta notar
que, da lista de dez líderes de arrecadação desde 1995, apenas "Central
do Brasil" não tem fortes vínculos estéticos (na falta de melhor palavra)
ou produtivos com a televisão, de "Xuxa Requebra" e "Zoando na TV"
a "Carlota Joaquina".
* * *
Por falar em TV, para as viúvas e viúvos de "No Limite" assumo o luto
pelo anúncio do encerramento próximo das atividades do Superstation,
nosso melhor canal por assinatura, ao lado do Canal Brasil. Confira
antes que acabe a um debate dominical em "Meet the Press", a um David
Letterman, ou a um matutino "Today". Ou simplesmente ligue a hora
que puder (falo, claro, para a minoria que pode pagar os inflacionados
preços das TVs por assinatura, não por coincidência também internautas).
Superstation vai, "No Limite" fica. É um monumento para nossos tempos.
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