NOSSOS
COLUNISTAS

Amir Labaki
André Singer
Carlos Heitor Cony
Carlos Sarli
Cida Santos
Clóvis Rossi
Eduardo Ohata
Eleonora de Lucena
Elvira Lobato
Gilberto Dimenstein
Gustavo Ioschpe
Helio Schwartsman
José Henrique Mariante
Josias de Souza
Kennedy Alencar
Lúcio Ribeiro
Luiz Caversan
Magaly Prado
Marcelo Coelho
Marcelo Leite
Marcia Fukelmann
Marcio Aith
Melchiades Filho
Nelson de Sá
Régis Andaku
Rodrigo Bueno
Vaguinaldo Marinheiro

Amir Labaki
labaki@uol.com.br
  28 de setembro
  Eles tu eu
  FHC imita JK, cinema recicla TV e um adeus

Começou a trabalhar nesta semana em Brasília o Grupo Executivo de Desenvolvimento da Indústria do Cinema no Brasil, que força um pouco a mão e perde um "d" para retomar a sigla juscelinista Geic (deveria ser Gedic). Nada que surpreenda: a era tucana tem verdadeiro fetiche por siglas, a começar da transformação do ministro Fernando Henrique Cardoso no candidato FHC.

O gesto busca aproximar simbolicamente o neo-Geic do Geic original, criado em fins de 1958 por JK. Era então um Grupo de Estudos da Indústria Cinematográfica, o terceiro criado por Juscelino, logo depois dos dedicados à indústria automobilística e à de construção naval.

O Geic de 1958 era presidido pelo ministro de Educação e Cultura, Clóvis Salgado. O Geic de 2000 tem por coordenador o ministro da Casa Civil, Pedro Parente. Há quem comemore a mudança administrativa (mais perto do Planalto, mais longe da cultura) como um "up-grade" para a questão audiovisual. É ver para crer.

Seis ministérios e representantes da atividade cinematográfica vão discutir, segundo o ministro Francisco Weffort no Valor de ontem, "a criação de empresas na produção de cinema e como criar mecanismos pelos quais haja mais atividade empresarial na área".

O neo-Geic é a resposta governamental às acerbas críticas a sua atuação que marcaram o 3. Congresso Brasileiro de Cinema. Tanto é assim que excluíram do novo grupo ninguém menos que o principal executivo federal do setor, o secretário do Audiovisual do MinC, José Álvaro Moisés. É uma forma ambígua de desautorizá-lo sem substituí-lo. Já vimos este filme antes.

Não pretendo alimentar qualquer bairrismo, mas vem exclusivamente do Rio de Janeiro toda a representação da chamada "classe" no neo-Geic. Nada contra Luiz Carlos Barreto, Carlos Diegues, Gustavo Dahl, o distribuidor Rodrigo Saturnino e o articuladíssimo Evandro Guimarães da Globo. São os inevitáveis da hora. Mas onde está a representação do resto do país? Só se faz e consome cinema e TV no Rio?

Tudo somado, é mais um mau começo.

* * *

Há celebração demais para a marca de 600 mil entradas para "Eu Tu Eles", de Andrucha Waddington, e para o sucesso de público também nos cinemas de "O Auto da Compadecida", de Guel Arraes. Para o pesado investimento de estréia, o belo filme de Waddington rendeu pouquíssimo.

Seu pico de bilheteria já foi ultrapassado. "Eu Tu Eles" deve aproximar-se da marca de "O Castelo Rá-Tim-Bum" (pouco mais de 700 mil) e tornar-se uma das dez maiores bilheterias desde a retomada. Ainda assim, é decepcionante para seu potencial, com o aplauso de crítica, bom boca-a-boca, repercussão internacional, campanha publicitária agressiva etc.

Por sua vez, apesar da precariedade técnica, "O Auto da Compadecida" merece essa segunda vida nas telas de cinema. Só temo pela apressada defesa da reciclagem de produtos televisivos como nova fórmula mágica para a redenção do cinema brasileiro. Há um Guel Arraes, um Jorge Furtado para cada quinze fulanos -e nem é preciso dar nomes.

Não há muita novidade nessa transferência de sucesso da sala de estar para a do multiplex: para ficarmos em exemplos recentes, basta notar que, da lista de dez líderes de arrecadação desde 1995, apenas "Central do Brasil" não tem fortes vínculos estéticos (na falta de melhor palavra) ou produtivos com a televisão, de "Xuxa Requebra" e "Zoando na TV" a "Carlota Joaquina".

* * *

Por falar em TV, para as viúvas e viúvos de "No Limite" assumo o luto pelo anúncio do encerramento próximo das atividades do Superstation, nosso melhor canal por assinatura, ao lado do Canal Brasil. Confira antes que acabe a um debate dominical em "Meet the Press", a um David Letterman, ou a um matutino "Today". Ou simplesmente ligue a hora que puder (falo, claro, para a minoria que pode pagar os inflacionados preços das TVs por assinatura, não por coincidência também internautas).

Superstation vai, "No Limite" fica. É um monumento para nossos tempos.

Leia colunas anteriores
21/09/2000 - Oscar 2001: a largada
14/09/2000 - Amazon à Brasileira

07/09/2000 - TV Tablóide
31/08/2000 -
Branco, míope, comunista
24/08/2000 -
Na rota do documentário

| Subir |

Biografia
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A - Todos os direitos reservados.