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5 de outubro
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Greve
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Um fantasma ronda Hollywood: o fantasma do sindicalismo. Uma greve
de atores e roteiristas promete paralisar a produção
ficcional para cinema e televisão em meados do próximo
ano. Uma prévia confronta já há cinco meses atores
e a indústria publicitária.
O conflito gira, de maneira geral, em torno da reivindicação
de atores e escritores com respeito a pagamentos referentes a mercados
alternativos em expansão, como as TVs por assinatura, o vídeo
e o DVD e a Internet.
Se um filme descobre um novo mercado em DVD, uma telessérie
volta a ser reprisada numa emissora por assinatura ou uma rádionovela
ressurge numa das emissoras da Internet, nada mais justo que os artistas
envolvidos em sua criação sejam devidamente recompensados
por este ganho complementar dos produtores.
Com um total conjunto de 135 mil filiados, o Screen
Actor´s Guild e a American
Federation of Television and Radio Artists lideram a campanha
dos atores. A Writers
Guild of America ,11 mil associados, a dos roteiristas. O atual
conflito tem os publicitários representados, entre outros,
pela American Association
of Advertising Agencies. A "home page" de cada associação
traz informações atualizadas sobre a evolução
das negociações e a posição de cada uma
delas. A seção dedicada a entretenimento do Yahoo
organizou também um bom dossiê.
O risco da paralisação é real. A greve dos roteiristas
está marcada para começar em primeiro de maio de 2001.
A dos atores, em 30 de junho. Um acordo é possível,
mas não parece provável. "Se você acha que
estará filmando em junho e julho (de 2001), sua capacidade
mental está debilitida", reconheceu ao "The
New York Times" o poderoso produtor Scott Rudin.
Precavidos, os estúdios já aceleraram sua linha de montagem.
A produção de filmes concentra esforços para
estocar novas obras. Telesséries estão rodando episódios
extras. As TVs apostam em novas atrações de "reality
show", como "Survivor" e "Big Brother", e
de especiais de jornalismo para completar a grade de programação,
caso a greve se estenda. A última vez que os roteiristas cruzaram
os braços sobre os teclados foi entre março e agosto
de 1988, empurrando de setembro para novembro o início da temporada
da TV americana.
A presente mobilização em Hollywood convida a duas reflexões.
A primeira é a devolução do glamour ao sindicalismo.
O furacão neoliberal liderado por Thatcher e Reagan e a derrocada
do modelo soviético de socialismo em 1989 estigmatizou as atividades
sindicais como movimentos jurássicos, inimigos do progresso
e adversários da história. Greves voltaram a ser pestes
sociais, banidas pelo ar saneador do capitalismo online.
Eis agora estrelas como Harrison Ford, George Clooney, Kevin Spacey
e Helen Hunt doando dinheiro para o fundo dos grevistas e votando
com os milionários rostos em favor do movimento. É como
se Saddam Hussein fosse substituído por Indiana Jones no "outdoor"
planetário de resistência ao Consenso de Washington ou
à sua versão revisada, a chamada Terceira Via. Os manifestantes
de Seattle e Praga devem estar celebrando a conquista dos melhores
garotos e garotas-propaganda do planeta.
A greve pode ter ainda repercussões para além do universo
simbólico. Caso se estenda, é possível haver
uma falta de filmes para alimentar o mercado de salas nos EUA e mundo
afora. Estratégias emergenciais discutem uma onda de reprises
e uma maior abertura para produções independentes e
filmes estrangeiros nas salas americanas.
Não sou tão otimista a ponto de apostar numa maior exportação
de filmes brasileiros para o ultra-resistente mercado dos EUA a partir
do final de 2001. Menos improvável seria, na escassez provisória
de filmes americanos, imaginar alguma folga no monopolizado mercado
brasileiro de salas de cinema.
Os beneficiados poderiam ser filmes nacionais prontos para exibição.
O potencial represado, que comprometeu as bilheterias de "Central
do Brasil" e "Eu Tu Eles", para ficar em dois exemplos
nobres e recentes, poderia ser verdadeiramente testado. Não
custa sonhar.
Leia colunas anteriores
28/09/2000 - Eles
tu eu
21/09/2000
- Oscar 2001: a largada
14/09/2000 - Amazon à Brasileira
07/09/2000 - TV Tablóide
31/08/2000 - Branco,
míope, comunista
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