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"Faço lobby ao contrário.
Auxilio as empresas a entende
rem o processo de trabalho do
governo para que possam se posicionar". Assim o ex-secretário-geral do presidente, Eduardo Jorge Caldas definiu, em seu depoimento à subcomissão do Senado, na quinta-feira, o papel que tem desempenhado junto ao empresariado desde que deixou o governo, em abril de 98.
Não tem sido este o entendimento de muitos empresários
que, em conversas reservadas,
afirmam que Eduardo Jorge era
um homem
de grande poder, mesmo depois
afastado do governo. "Nenhum
de nós teria coragem de recusar
o pedido dele", afirmou um em
presário do ramo de seguros
que, obviamente, falou com a
condição de que sua identidade
fosse mantida em sigilo.
Lobby, no Brasil, sempre foi sinônimo de tráfico de influência. Basta
ver a quantidade de ex-ministros, ex-parlamentares e ex-executivos
de estatais que se tornaram "assessores" de em presas privadas assim
que deixaram seus cargos públicos.
Vou citar um caso, a título de exemplo, mas há milhares deles por
aí. O ex-ministro dos Transportes na primeira gestão de Fernando Henrique
Cardoso, Odacyr Klein, é hoje vice-presidente do Syndarma, o poderoso
sindicato das empresas de navegação.
Klein tem escritório em
Brasília e seu trabalho é fazer
lobby junto aos congressistas
nas questões de interesse do
setor naval e junto ao Ministério
dos Transportes, onde ainda é
chamado de "ministro" pelos
funcionários.
Nas empresas recém-privatizadas, ex-dirigentes do período estatal costumam ser contratados
para o cargo de "diretor de relações institucionais", para cuidar dos contatos com o governo.
Por vários motivos, eles valem
ouro para as empresas. Em alguns casos, foram responsáveis pela confecção de normas que passaram a regulamentar as empresas, após a privatização.
Quem melhor para assessorar
uma empresa a encontrar brechas na regulamentação do que o próprio autor do regulamento?
Na pior das hipóteses, um ex-dirigente de estatal vale ouro pelos amigos que deixou no governo. Pode dirigir-se ao burocrata do
serviço público como seu ex-colega de trabalho, o que, certa
mente, facilita muito o trânsito
da empresa nas esferas oficiais.
Não digo que ex-dirigentes público sejam contratados para
corromper fucionários públicos.
Falo de pequenos favores, de
ambos os lados.
Lembro-me de que no período
militar, grandes empresas tinham militares da reserva em
seus quadros, para "facilitar" o
acesso ao governo. É a mesma
situação de agora, quando se
discute a atuação de Eduardo
Jorge.
Nada se provou de concreto,
até o momento, contra o ex-assessor
de FHC e, como a subcomissão
do senado que o interrogou já
disse que não pedirá a
quebra de seu sigilo bancário, é
provável que nada venha a ser
provado e que caso vá para o
limbo da história.
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