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No
início da noite de quinta- feira veio a notícia: três
acionistas da Telemar haviam sido afastados do comando da companhia
pela Anatel, a agência reguladora do mercado de telecomunicações.
A
medida recaiu sobre a Inepar (empresa paranaense comandada por Atilano
de Oms Sobrinho), a Macal e a Fiago. As duas últimas são
nomes completamente desconhecidos do público.
A
primeira foi criada pelo empresário carioca Antônio Dias
Leite Neto e a segunda representa um grupo de fundos de pensão
capitaneados pela poderosa Previ, dos funcionários do Banco
do Brasil.
A
Anatel não apenas afastou os acionistas, como abriu processo
de investigação contra cada uma deles que pode resultar,
em última instância, no cancelamento de algumas trocas
de ações havidas desde a privatização
da Telebrás, em julho de 98, supostamente sem a anuência
do governo.
Por
que a Anatel voltou sua espada contra a Telemar? Afinal, trata-se
de uma companhia com quase 11 milhões de clientes, espalhados
por 16 Estados que constituem sua área de concessão.
A
hipótese número um, aceita por grandes empresários
do setor, é a de que o alvo principal da agência seria
o banco Opportunity. Em julho do ano passado, o banqueiro Daniel Dantas
comprou ações e debêntures (tí
tulos de dívida) conversíveis em ações
da Inepar, que, oficialmente, é dona de 11,275% do capital
da holding que controla a Telemar.
Na
prática, dizem os adversários de Dantas, ele já
seria dono de fato das ações que, para efeitos oficiais,
continuam em nome da Inepar. De fato, é uma suspeita difícil
de contestar. Na Inepar, os executivos dizem que a
empresa não tem mais responsabilidades ou poder de decisão
sobre a Telemar desde que o Opportunity comprou suas debêntures.
Corroborando
tal versão, a Inepar se fazia representar no conselho de administração
da Telemar, até duas semanas atrás, por uma executiva
do Opportunity, a italiana Carla Cicco.
Se
a Anatel comprovar que o Opportunity é sócio de fato
da Telemar, as coisas estarão pretas para Daniel Dantas e não
é por outro motivo que Carla Cicco deixou rapidinho o posto
de conselheira da companhia. Como o banco já é acionista
controlador de uma outra tele fixa _a Brasil Telecom, que tem concessão
em dez Estados_ não poderia participar de outra concessionária
do mesmo serviço.
O
caso da Fiago é similar ao da Inepar. Como a Previ tem 51%
da Fiago e é também acionista da Brasil Telecom, a Anatel
a jogou na mesma vala do Opportunity. Refiro-me, é claro, às
suspeitas de participação simultânea em duas empresas
de telefonia fixa.
No
caso da Macal, o problema, aparentemente, é mais simples. O
órgão regulador questiona o fato de Dias Leite ter vendido
suas ações para o GP Investimento, empresa dos antigos
donos do Banco Garantia, sem prévia autorização
governamental.
Pergunto-me
por que a Anatel demorou tanto a abrir os inquéritos, uma vez
que as operações em questão são conhecidas
no mercado há vários meses?
Um
outro ponto me intriga. A MCI, que controla a Embratel, foi comprada
no Estados Unidos pela WorldCom. A Telecom Italia _uma das maiores
acionistas da Brasil Telecom_ mudou de dono na Europa e passou para
o controle da Olivetti.
Nem
por isso, a Anatel afastou estas duas multinacionais de seus empreendimentos
no Brasil. Será que a regra só vale para
brasileiros?
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