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Uma
casinha pobre na periferia de São Gonçalo (município vizinho de Niterói,
um dos muitos que compõem a região metropolitana do Rio de Janeiro)
foi transformada, quem diria, em base de operação de uma quadrilha
internacional especialista em fraudar ligações telefônicas internacionais.
Quando a polícia chegou lá, avisada pela Embratel, encontrou um menor,
de 17 anos, que confessou receber R$ 100,00 por mês de um oriental
para tomar conta de quatro aparelhos telefônicos que haviam sido instalados
também por ordem do tal estrangeiro.
O rapaz não soube dizer o nome do oriental. Tampouco tinha noção de
que vinha participando de um crime, e, naturalmente, afirmou não ter
a mais vaga idéia do tamanho do golpe que a quadrilha praticava.
Isto é o que se pode chamar de efeito colateral da globalização. De
repente, uma casa humilde de um subúrbio passa a ocultar uma minicentral
telefônica e a completar, de modo clandestino, ligações entre vários
países do mundo.
Nesse caso específico, descoberto pela Embratel, o jogo era comandado
por uma quadrilha supostamente baseada no Oriente Médio, pois a maioria
das ligações tinham como origem o Líbano e o Kuwait.
A coisa
funcionava mais ou menos assim: a central, em São Gonçalo fazia uma
chamada para o Kuwait, por exemplo. Quando a ligação era atendida,
a pessoa, no exterior, era colocada numa linha de espera. A mesma
central fazia uma segunda ligação para o exterior e, em seguida, colocava
as duas partes em ‘’conference call", ou seja, para se falarem. Os
telefones funcionavam dia e noite para atender a demanda.
A fraude
com telefones fixos é um fato absolutamente inovador. Até agora, conhecíamos
fraudes semelhantes, só que praticadas com telefones celulares. As
quadrilhas roubavam ou clonavam telefones celulares e os usavam ininterruptamente
para ligações internacionais, até que o esquema fosse descoberto pela
empresa operadora, que cortava a linha.
No caso do telefone fixo, a situação é um pouco mais complicada. Depois
que a Telebrás foi privatizada, a telefonia de longa distância foi
separada da telefonia local. As ligacões internacionais e interurbanas
feitas pela Embratel são cobradas em conta específica emitida pela
empresa.
No entanto,
a linha instalada na residência do assinante é de responsabilidade
da operadora local. Se um cliente da Embratel ou da Intelig deixar
de pagar sua conta, sua linha telefônica não é cortada.
Isto dá uma boa vantagem para os fraudadores que acabam dispondo de
tempo para sua atividade ilegal.
Você pode
me perguntar: as multinacionais sabiam disso quando entraram no leilão
da Telebrás? Sabiam sim. A fraude telefônica é uma praga mundial,
que consome bilhões de dólares. O Brasil ainda é peixe pequeno nesta
rede, mas, como efeito da globalização, já entrou na rota das quadrilhas
internacionais.
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