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15 de junho |
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Tragédia no Rio mostra três
faces do abandono no Brasil
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A
professora de artesanato Geísa Firmo Gonçalves, 20, morava num casebre
no final de um beco da Rocinha. Tinha vindo do Ceará para tentar melhorar
de vida no Rio há um ano. Atuava em escola na favela. Pegou aquele
ônibus para ir ao banco descontar um cheque pago por trabalhos seus.
Cestas feitas com tiras de jornal velho vendidas em shopping center.
Desesperada, descabelada, gritou por compaixão. Morreu baleada na
frente das câmeras de TV.
Sandro do Nascimento, 21, não tinha família. Dormia numa praça no
Catumbi. Não sabia ler e escrever. Em 93, sobreviveu à chacina da
Candelária, quando oito garotos foram mortos por policiais. Tinha
13 anos e seu rosto apareceu nos jornais. Era um menino de rua acuado,
sujo. Perambulou por aí e se envolveu com drogas e assaltos. Apavorou
o país ameaçando os reféns daquele ônibus. Foi assassinado por policiais
no camburão.
Pouco ainda se sabe de Marcelo dos Santos, soldado do Bope. Ele empunhou
a submetralhadora que provocou a tragédia do final do sequestro. Era
considerado um dos melhores do seu grupo. Acostumado a participar
de operações em favelas, gostava de armas pesadas. Contam que estava
sem treinar o uso da arma há um ano _provavelmente desde a época em
que Geísa chegou ao Rio. Depois do que aconteceu ao lado daquele ônibus,
teve uma crise nervosa. Como a professora retirante e o menino de
rua, era pobre.
As histórias de Geísa, Sandro e Marcelo se cruzaram no Jardim Botânico.
As quatro horas de angústia e o desfecho terrível foram transmitidos
ao vivo. Viraram assunto na hora do jantar de boa parte das casas.
Trouxeram a lembrança de tantos outros dramas não televisionados.
Quem não sabe de um outro caso, assim, apavorante e cotidiano?
Os três daquele ônibus mostraram, com repugnante contundência, o abandono
em que nos encontramos. Não é de surpreender que 56% dos paulistanos
afirmem que o governo Fernando Henrique Cardoso não está empenhado
na busca de soluções para reduzir a violência no país. É essa a sensação
geral.
Qual o caminho a tomar? O Datafolha perguntou. Para 64% da população,
é preciso adotar medidas de combate ao desemprego e melhoria na educação.
É melhor gastar mais na área social do que na polícia, dizem os entrevistados
em São Paulo .
O governo faz o discurso na direção inversa. Depois do show de horror
e realidade na TV, corre para anunciar medidas no sentido de ampliar
o policiamento. Enquanto passa a tesoura no orçamento social.
Assim, as três pobres histórias que se cruzaram naquele ônibus parecem
não ter fim. As vidas de geísas, sandros e marcelos continuarão
se despedaçando por aí. Dando espaço para o palanque cínico dos que
insistem em deixar para depois as soluções. As prioridades oficiais
são outras. E não andam de ônibus.
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