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eleonora@uol.com.br
  22 de junho
  Organização Mundial da Saúde escancara fosso social no Brasil
 
   
  A Organização Mundial da Saúde (OMS) pesquisou os sistemas de saúde em 191 nações. O Brasil ficou no 125º lugar. Depois de países como Brunei, Sri Lanka, Fiji, Cabo Verde, Tonga, Butão e Paraguai.
Se for considerado só o quesito "justiça no pagamento do sistema", o Brasil cai para a 189ª posição. Só não é pior do que Myanma (ex-Birmânia) e Serra Leoa. Nesses lugares, como aqui, os pobres pagam, proporcionalmente, muito mais pela saúde do que os ricos.
É só passar na farmácia para identificar uma parte desse retrato. Os remédios costumam ter reajustes acima da inflação, dos salários e das aposentadorias. Estudo feito pela Unicamp mostrou que laboratórios aumentaram seus preços em até 232% entre 95 e 98. A inflação no período foi de 39,53%.
Segundo a Unicamp, 50 laboratórios da indústria farmacêutica (de um total de 400) dominam 89,69% do mercado. A concentração e o poder do setor ajudam a explicar a ferocidade dos aumentos. A hesitação do governo em defender o cidadão-consumidor também. Dá para supor quem mais perde com essa situação e acaba comprometendo mais renda com a saúde, digo, a doença.
O Ministério da Saúde contesta os números da OMS. Mas eles ainda estão expostos nas filas de hospitais, na correria dos médicos, nas greves de servidores, no avanço de doenças da pobreza. O serviço de saúde que o governo oferece é, em geral, uma droga mesmo.
Apesar de alguns esforços, a tendência é de desmanche do setor na área pública. O desvio de verbas foi constante nos últimos anos. Para os mais pobres não há, como regra, alternativa aos conturbados, depenados e melancólicos postos.
A classe média tenta pular para os planos privados. Busca alguma segurança. Esbarra nos reajustes acima da inflação, nos prazos de carência e nas exigências das empresas. Os doentes crônicos são simplesmente rejeitados.
Contrariando a lei, os planos de saúde não aceitam cidadãos com Aids, HIV, câncer, diabetes. Eles, na prática, só querem os sadios como clientes. Os demais que entrem nas filas dos postos. A privatização da saúde não quer ter incomodação e gastos com a doença. E o controle oficial, de novo, hesita em defender, com energia, o cidadão.
Nesse quadro, não dá para enxergar nem a famosa "Belíndia" desenhada pelo economista Edmar Bacha. Aqui estamos bem atrás não só da Bélgica como da Índia. Esse país está para lá do Paraguai. É vizinho do Haiti, que é aqui mesmo.


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