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  23 de outubro
  Bush, a incógnita da política norte-americana
 
A duas semanas das eleições presidenciais nos EUA , a população norte-americana tende a eleger o republicano George W. Bush, uma incógnita política, para o cargo de Bill Clinton na Casa Branca.
A se confirmar esse prognóstico, indicado por pesquisas eleitorais divulgados no final de semana, os EUA estarão colocando no poder um homem cujas únicas características conhecidas são seu passado de alcoólatra e o fato de ser filho de George Bush, antecessor inexpressivo de Clinton no cargo.

Não quero dizer, com isso, que um eventual governo Bush trará riscos automáticos para o mundo. Há quem defenda, com argumentos sólidos, que Ronald Reagan e o próprio Clinton pareciam ser mais frágeis e menos preparados, antes de se elegerem, do que o jovem Bush hoje.

No entanto, aqueles eram outros momentos, com contextos diferenciados.

Desta vez, os eleitores norte-americanos, ao colocarem Bush na frente das pesquisas, estão revelando duas características preocupantes deles mesmos.

A primeira, o moralismo, poderá fazer com que o rumo dos EUA e do resto do mundo seja alterado por causa de um bizarro episódio sexual envolvendo um presidente e sua ex-estagiária.

Não há dúvida com relação a isso. Depois de oito anos de prosperidade e de inovações tecnológicas, analistas e o bom-senso indicam que, não fosse o relacionamento de Clinton com Mônica Lewinsky, o vice-presidente Al Gore seria eleito sem problemas.

A segunda característica dos norte-americanos que ficaria exposta com uma vitória de Bush e a "jequice" incontrolável de um povo que, apesar do pretenso desprezo com que trata os ingleses, inveja a monarquia de seus colonizadores.

Digo isso porque, para a família Bush, o processo eleitoral norte-americano representa uma oportunidade de restauração, de tirar do poder um usurpador que roubou de uma família (que se julga monárquica) um segundo mandato no poder.

Toda essa euforia dos norte-americanos com Bush despreza uma realidade preocupante: apesar do programa de governo do candidato republicano, cuidadosamente preparado por assessores astutos, ninguém sabe o que ele pensa e como administrará, se vencer, a maior potência econômica e militar do mundo.

Jornais norte-americanos começam agora, com um tremendo atraso, a esmiuçar seus seis anos de gestão como governador do Texas, segundo maior Estado do pais, atrás de uma linha política, de uma conduta-padrão que explique o que está por trás deste homem de 54 anos que parece rir ao relatar o número de penas de morte cumpridas sob sua gestão.

O resultado dessa busca tem sido inócuo. Bush governou por meio de assessores escolhidos pelo pai e, nas poucas oportunidades que teve para se manifestar com espontaneidade, produziu gafes políticas incríveis, todas feitas para demonstrar um conservadorismo que vale votos na política norte-americana. Numa dessas gafes, Bush disse que "apenas aqueles que aceitaram Cristo como seu salvador poderão entrar no reino do céu". Reza a lenda que seus assessores demoraram duas horas para lhe explicar que, num pais com judeus, budistas e muçulmanos, ele havia feito uma besteira.

É verdade que o desempenho de Bush nos três debates com Gore foi melhor que o esperado. No entanto, ficou óbvio que tal desempenho foi amparado por frases que decorou e que repetiu como resposta a todas as perguntas que lhe foram feitas. Se eleito, Bush irá precisar de muito mais do que frases decoradas para lidar com um mundo cada vez menos maniqueista e mais complicado.

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