|
A
cena é cada vez mais frequente em Washington DC. No sábado à noite
passado, policiais fecharam por vinte minutos a avenida Connecticut
para dar passagem a Bill Clinton.
Os pedestres, já sabendo tratar-se do presidente pela força didática
da rotina, pararam nas calçadas para vê-lo. Só que dessa vez, como
era o último final de semana do Halloween, a maioria fantasiava-se
de bruxa, sádica (o), masoquista e super-herói - entre outras idéias,
geralmente tão originais.
Primeiro vieram os batedores, depois uma fila de carros oficiais.
Clinton estava no carro do meio, sozinho, com ar sério, pensativo.
A luz interna do automóvel estava ligada, talvez para que o público
de fora o visse, para que registrasse a presença do nobre ocupante.
Não parecia que queimava o tempo do trajeto lendo um livro ou um jornal.
Olhava com gosto as pessoas fantasiadas do lado de fora do conforto
oficial e, vez ou outra, ria ou acenava de volta.
Em 1992, aos 46 anos, Clinton foi o político mais jovem a ocupar o
cargo em toda a história presidencial norte-americana, depois de Theodore
Roosevelt (42) e John Kennedy (43). Ele vai sair do poder com 54 anos,
jovem demais para vestir pijama mas exageradamente fiscalizado para
ter uma vida normal.
Sua mulher, Hillary, será provavelmente eleita senadora por Nova York
e se ocupará do novo cargo por anos e anos. Sua filha, Chelsea, como
toda jovem norte-americana, buscará diversão e independência fora
da família. Diante desse cenário, Clinton, dentro daquela limusine,
devia estar imaginando o que será de seu futuro. Ele já anunciou,
como faz todo presidente que deixa o cargo, que montará uma biblioteca
com seu nome e acervo pessoal. Não parece ser suficiente. De dentro
daquele carro, Clinton parecia querer fantasiar-se de xeique árabe,
encher a cara e aproveitar a festa.
Leia
colunas anteriores
23/10/2000
- Bush, a incógnita da política norte-americana
16/10/2000 -
Alta
Fidelidade
09/10/2000
-
Dossiê Caribe: limites de uma investigação
02/10/2000
- Marta e a mágica do cobertor longo
25/09/2000 - O dia em que o brasileiro
perdeu o FMI
|