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Marcio Aith
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  4 de dezembro
  Onde está o dinheiro das dot.com?
 

Em setembro do ano passado, fui a Seattle entrevistar Jeff Bezos, fundador e dono da "Amazon.com", um dos ícones do que convencionou-se chamar de nova economia. Bezos havia perdido US$ 8 bilhões de seu patrimônio pessoal em apenas uma semana, em virtude da variação repentina no preço das ações de sua companhia.

Investidores reclamavam que, por nunca ter apresentado lucros, sua companhia seria, na verdade, um erro de concepção: o comércio de livros pela internet poderia ser uma boa coisa para os leitores, mas não daria lucros aos empresários.

Perguntei a Bezos se ele temia que um "crash" das Bolsas pudesse quebrar o negócio que havia fundado em 1994, aos 30 anos, depois de abandonar a carreira no mercado financeiro.

"A única coisa que interessa é que há quatro anos eu não tinha um único cliente. Hoje tenho 10,7 milhões. Não existe nenhuma outra empresa em toda a história da economia mundial que tenha crescido tão rápido como a minha."

Bezos disse ainda que, ao contrário de outras companhias associadas à nova economia, a Amazon.com investiu o dinheiro pego no mercado em coisas concretas: centros de armazenagem, de distribuição, custos com o transporte dos produtos.

Passado mais de um ano da entrevista, observo a quebradeira das empresas de internet nos EUA, iniciada na primeira metade do ano. Mais do que um fenômeno de Bolsas, o "crash" que se seguiu à euforia nesse setor é um caso de transferência de recursos.

Cálculos variam, mas convencionou-se dizer que quase US$ 4 trilhões evaporaram das Bolsas desde março passado.

O verbo "evaporar" tem força jornalística, mas não é preciso. O dinheiro colocado por investidores na Bolsa foi o dólar e, sendo dólar, não desapareceu. Poucas pessoas falam sobre o assunto, mas o fato é que o dinheiro só teria sumido em caso de desvalorização do dólar. Ele simplesmente mudou de mãos: saiu do bolso dos investidores e entrou no bolso dos empresários que convenceram o mercado a comprar ações da "nova economia". O preço das ações evaporou, mas não o dólar usado para comprá-las.

Além dos empresários que criaram empresas, outras pessoas, que venderam as ações na alta, também ganharam dinheiro no meio do processo.

Bezos diz que o dinheiro que recebeu foi gasto em investimentos visíveis e existe uma boa chance de sua companhia sobreviver a esse difícil período.

Posso estar errado, mas aposto que, mais do que falências, a "nova-economia" está produzindo os falidos mais milionários da história. É só investigar.


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