Em
setembro do ano passado, fui a Seattle entrevistar Jeff Bezos, fundador
e dono da "Amazon.com", um dos ícones do que convencionou-se
chamar de nova economia. Bezos havia perdido US$ 8 bilhões
de seu patrimônio pessoal em apenas uma semana, em virtude
da variação repentina no preço das ações
de sua companhia.
Investidores
reclamavam que, por nunca ter apresentado lucros, sua companhia
seria, na verdade, um erro de concepção: o comércio
de livros pela internet poderia ser uma boa coisa para os leitores,
mas não daria lucros aos empresários.
Perguntei
a Bezos se ele temia que um "crash" das Bolsas pudesse
quebrar o negócio que havia fundado em 1994, aos 30 anos,
depois de abandonar a carreira no mercado financeiro.
"A
única coisa que interessa é que há quatro anos
eu não tinha um único cliente. Hoje tenho 10,7 milhões.
Não existe nenhuma outra empresa em toda a história
da economia mundial que tenha crescido tão rápido
como a minha."
Bezos
disse ainda que, ao contrário de outras companhias associadas
à nova economia, a Amazon.com investiu o dinheiro pego no
mercado em coisas concretas: centros de armazenagem, de distribuição,
custos com o transporte dos produtos.
Passado
mais de um ano da entrevista, observo a quebradeira das empresas
de internet nos EUA, iniciada na primeira metade do ano. Mais do
que um fenômeno de Bolsas, o "crash" que se seguiu
à euforia nesse setor é um caso de transferência
de recursos.
Cálculos
variam, mas convencionou-se dizer que quase US$ 4 trilhões
evaporaram das Bolsas desde março passado.
O verbo
"evaporar" tem força jornalística, mas não
é preciso. O dinheiro colocado por investidores na Bolsa
foi o dólar e, sendo dólar, não desapareceu.
Poucas pessoas falam sobre o assunto, mas o fato é que o
dinheiro só teria sumido em caso de desvalorização
do dólar. Ele simplesmente mudou de mãos: saiu do
bolso dos investidores e entrou no bolso dos empresários
que convenceram o mercado a comprar ações da "nova
economia". O preço das ações evaporou,
mas não o dólar usado para comprá-las.
Além
dos empresários que criaram empresas, outras pessoas, que
venderam as ações na alta, também ganharam
dinheiro no meio do processo.
Bezos
diz que o dinheiro que recebeu foi gasto em investimentos visíveis
e existe uma boa chance de sua companhia sobreviver a esse difícil
período.
Posso
estar errado, mas aposto que, mais do que falências, a "nova-economia"
está produzindo os falidos mais milionários da história.
É só investigar.
Leia
colunas anteriores
27/11/2000
- Os ventos nos empurram para uma nova
crise financeira
20/11/2000 - A solidão do grande
furo
13/11/2000 - Já
está pronta a defesa do governo brasileiro: "Não tem nada de errado,
mas, se tiver, a culpa é do Bresser"
06/11/2000 - Porque os eleitores dos
EUA não votam
30/10/2000
- Clinton,
o Halloween e a solidão dos últimos dias no poder
|