Um dos choques de editar a Ilustrada, de dois meses para cá, vem sendo o convívio sufocante com a indústria cultural. Eu venho tentando expressar esse choque, neste espaço, recorrendo a nietzschianos e frankfurtianos, em seus questionamentos contraditórios da "barbárie estilizada".
Mas a indústria cultural, para mim, vem representando algo mais comezinho, mais cotidiano. É um diálogo diário com os mecanismos da indústria, de que o caderno, afinal de contas, é parte.
Exemplo maior são as negociações envolvendo reportagens e entrevistas exclusivas, em troca de espaço. Quero e venho tentando, no dia-a-dia, quando não hora a hora, contornar ou evitar tais negociações, mas elas se tornaram um vício da cobertura de artes e entretenimento.
Para ser mais específico, uma editora ou gravadora ou produtora disso ou daquilo _até mesmo de teatro_ liga e oferece a exclusividade de um lançamento ou estréia. Para tanto, exige o diabo, ou melhor, a alma.
Registre-se que isso acontece de alto a baixo, da alta cultura à arte popular, em proporções muito semelhantes.
Outro exemplo são as "junkets", as entrevistas em linha de montagem que o próprio cinema _expressão maior da indústria cultural_ já ironizou.
Em algum momento nas últimas décadas, talvez nos últimos anos, a "barbárie estilizada" se estabeleceu como a regra, levando de roldão não só um caderno idiossincrático, como sempre foi a Ilustrada, mas o jornalismo todo.
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As alternativas que vão se colocando podem ser mistificadoras, quando não patéticas, para não dizer coisa pior.
Pode-se abraçar um novo velho "absoluto", como vêm proclamando vozes à esquerda e à direta, respectivamente com o marxismo e o cânone europeu, mas o resultado é que "no mercado todas as teorias se equivalem, seja a de Marx, Hitler..." _como escreveu a professora Olgária Mattos.
Ou pode-se persistir sinceramente no relativismo, na diversidade do pós-modernismo, que abraçou tão aberta e lucrativamente a "barbárie estilizada".
Tenho para mim que o pêndulo, como disse um amigo, Marcelo Coelho, mudou de direção. Eu mudei. O problema é que não sei bem, ainda, para onde. Mas tenho algumas idéias.
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