Quando
a batalha de Praga começou, na ponte que leva ao Palácio
da Cultura onde ocorre a reunião do FMI e Banco Mundial,
já havia terminado um encontro paralelo num pequeno centro
comunitário, chamado Domovina, no subúrbio. Foi
a contra-reunião, como apelidaram.
Nela,
em lugar de Hoerst Koehler, diretor-gerente do FMI, James Wolfenson,
presidente do Banco Mundial, e do nosso Pedro Malan, falou entre
outros a escritora canadense Naomi Klein, que começa a
ser apresentada como a porta-voz, até ideóloga,
dos protestos anti-corporações.
É
a autora de "No Logo - Taking Aim at the Brand Bullies",
livro lançado há pouco menos de um ano (ed. Picador)
e que conseguiu retratar, antes de Seattle, o movimento de massa
que se formava contra o império das "marcas"
_a imagem que ela usa para identificar as corporações
globalizadas.
Uma
passagem do livro, tradução minha:
_
Acionistas éticos, congestionadores da cultura, retomadores
das ruas, ativistas hackers dos direitos humanos, guerreiros contra
os logos de escolas e sentinelas das corporações
na Internet estão todos no primeiro estágio de criar
uma alternativa, centrada no indíviduo, ao mando internacional
das marcas. Uma alternativa tão global, tão capaz
de ação coordenada quanto as corporações
que ela quer subverter.
A
contra-reunião, com as diversas organizações
que coordenam os protestos em Praga, tratou menos das corporações
suas adversárias do que dessa alternativa apontada por
Klein. Em suma, tratou do "novo movimento", como ele
também é chamado.
A
pergunta central da contra-reunião, segundo um relato do
Indymedia, foi "para onde vamos a partir daqui". O tema
comum foi a "força na diversidade", em outras
palavras: "A alternativa à globalização
das corporações é geralmente retratada como
anarquia, mas na verdade deve ser concebida como pluralidade".
No
dizer de Naomi Klein, os protestos não são só
sobre economia, mas sobre cultura. Estabelecem novos paradigmas,
para além do fim da história.
*
O
presidente da reunião do FMI e Banco Mundial, Trevor Manuel,
sobre os manifestantes, na BBC:
_
Eu sei o que eles são contra, mas não tenho idéia
do que eles são a favor.
Naomi
Klein, na contra-reunião:
_
Eles dizem que não temos foco. É melhor acreditar.
Nós estamos em toda parte. Não à política
de uma bandeira única.
*
O
estudante que escreveu de Praga não enviou mais nenhuma
mensagem, depois que sugeri a ele escrever um texto _devidamente
pago. Mas no meio da cobertura da batalha, nas mensagens gravadas
num terminal livre do Indymedia por pessoas que entravam e saíam
dos protestos, surgiu um texto em português que talvez seja
dele:
_
São 11h30. As coisas aqui na praça, onde se realiza
a concentração, estão calmas. O ambiente
é festivo. As marchas estão começando. Embora
não estejam autorizadas, a polícia não está
reagindo. Vou me juntar à festa.
Logo
abaixo, com exclamação:
_
Fight the power!
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