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Nelson de Sá
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  27 de setembro
  Depois do fim da história
 

Quando a batalha de Praga começou, na ponte que leva ao Palácio da Cultura onde ocorre a reunião do FMI e Banco Mundial, já havia terminado um encontro paralelo num pequeno centro comunitário, chamado Domovina, no subúrbio. Foi a contra-reunião, como apelidaram.

Nela, em lugar de Hoerst Koehler, diretor-gerente do FMI, James Wolfenson, presidente do Banco Mundial, e do nosso Pedro Malan, falou entre outros a escritora canadense Naomi Klein, que começa a ser apresentada como a porta-voz, até ideóloga, dos protestos anti-corporações.

É a autora de "No Logo - Taking Aim at the Brand Bullies", livro lançado há pouco menos de um ano (ed. Picador) e que conseguiu retratar, antes de Seattle, o movimento de massa que se formava contra o império das "marcas" _a imagem que ela usa para identificar as corporações globalizadas.

Uma passagem do livro, tradução minha:

_ Acionistas éticos, congestionadores da cultura, retomadores das ruas, ativistas hackers dos direitos humanos, guerreiros contra os logos de escolas e sentinelas das corporações na Internet estão todos no primeiro estágio de criar uma alternativa, centrada no indíviduo, ao mando internacional das marcas. Uma alternativa tão global, tão capaz de ação coordenada quanto as corporações que ela quer subverter.

A contra-reunião, com as diversas organizações que coordenam os protestos em Praga, tratou menos das corporações suas adversárias do que dessa alternativa apontada por Klein. Em suma, tratou do "novo movimento", como ele também é chamado.

A pergunta central da contra-reunião, segundo um relato do Indymedia, foi "para onde vamos a partir daqui". O tema comum foi a "força na diversidade", em outras palavras: "A alternativa à globalização das corporações é geralmente retratada como anarquia, mas na verdade deve ser concebida como pluralidade".

No dizer de Naomi Klein, os protestos não são só sobre economia, mas sobre cultura. Estabelecem novos paradigmas, para além do fim da história.

*

O presidente da reunião do FMI e Banco Mundial, Trevor Manuel, sobre os manifestantes, na BBC:

_ Eu sei o que eles são contra, mas não tenho idéia do que eles são a favor.

Naomi Klein, na contra-reunião:

_ Eles dizem que não temos foco. É melhor acreditar. Nós estamos em toda parte. Não à política de uma bandeira única.

*

O estudante que escreveu de Praga não enviou mais nenhuma mensagem, depois que sugeri a ele escrever um texto _devidamente pago. Mas no meio da cobertura da batalha, nas mensagens gravadas num terminal livre do Indymedia por pessoas que entravam e saíam dos protestos, surgiu um texto em português que talvez seja dele:

_ São 11h30. As coisas aqui na praça, onde se realiza a concentração, estão calmas. O ambiente é festivo. As marchas estão começando. Embora não estejam autorizadas, a polícia não está reagindo. Vou me juntar à festa.

Logo abaixo, com exclamação:

_ Fight the power!



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