Fazia
tempo que eu não tinha uma noite de teatro. Não vi
nenhum espetáculo, o que não consigo há meses,
mas o teatro vai muito além das apresentações,
nas coxias.
Começou,
no caso, com uma discussão sobre crítica, num palco.
De um lado da mesa, Sérgio de Carvalho, diretor e autor;
do outro, Fabio Cypriano, o novo crítico do jornal.
Repetiram-se
argumentos já velhos conhecidos, como o questionamento
da aceitação do teatro _da arte_ como mercadoria;
de outro lado, a exigência de ver cada peça _cada
obra_ em sua singularidade, na diversidade corrente.
Em
suma, de um lado, a patrulha ideológica; de outro, os vendidos
ao mercado. Mais uma vez, ninguém chegou a conclusão
nenhuma, mas o diálogo foi inesperadamente aberto, até
desarmado.
Talvez
se esteja caminhando para uma convivência na pluralidade,
como vem acontecendo em tantas partes; quem sabe até uma
síntese.
*
Encerrado
o debate, encontrei o diretor Zé Celso e o ator Marcelo
Drummond, que relataram os problemas com o grupo Silvio Santos,
com o qual o teatro Oficina trava uma batalha pública por
espaço.
Zé
teria recebido um telefonema de Eduardo Suplicy, que acompanha
o Oficina desde os anos 60, dizendo que Marta, a favorita, havia
se reunido com diretores do grupo SS.
Zé
também estava inquieto com o fato de Júlio Neves,
arquiteto do shopping cultural de SS no entorno do Oficina, estar
tentando contratar os arquitetos que trabalham com os projetos
do teatro.
Em
parte inspirado por sua resistência neste e em outros episódios,
mas também pela aproximação recente com MST
e o próprio movimento Arte contra a Barbárie, o
Oficina está iniciando a montagem de "Os Sertões",
de Euclides da Cunha.
Em
cena, alegoricamente, uma vez mais, a resistência diante
das "forças contra o povo".
*
Para
fechar a noite, o final de uma leitura do primeiro tratamento
de uma _distante_ adaptação de Daniela Thomas para
"O Banquete", de Platão.
Não
acompanhei a leitura nem acho que deveria mesmo. Embora não
seja mais crítico, continuo repórter e o teatro
não se abre para a imprensa com facilidade, quando está
em criação.
Mas
já dá para dizer que ninguém deve esperar
uma aula socrática. Para começar, o elenco é
quase todo de mulheres _e Daniela é uma admiradora do ótimo
"O Julgamento de Sócrates", de I.F. Stone, do
qual o filósofo não sai com a melhor das imagens.
Eu
teria mais para relatar, mas ainda não é hora.
Registre-se
que Daniela e Bete Coelho _e Lígia Cortez e Iara Jamra_
estão mais próximas de espelhar o que buscam há
tempos: retratar as coxias do teatro, que não poucos _até
este ex-crítico_ consideram melhor do que muitos espetáculos.
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