NOSSOS
COLUNISTAS

Amir Labaki
André Singer
Carlos Heitor Cony
Clóvis Rossi
Eleonora de Lucena
Elvira Lobato
Gilberto Dimenstein
Gustavo Ioschpe
Helio Schwartsman
Josias de Souza
Kennedy Alencar
Lúcio Ribeiro
Luiz Caversan
Magaly Prado
Marcelo Coelho
Marcelo Leite
Marcia Fukelmann
Marcio Aith
Nelson de Sá
Vaguinaldo Marinheiro

Clóvis Rossi
crossi@uol.com.br
 
06 de Fevereiro de 2001
  A nova fuga dos judeus
  A derrota de Ehud Barak nas eleições de terça-feira em Israel é todo um compêndio sobre a impossibilidade prática, no mundo moderno, de um governante jogar temas desagradáveis na agenda de sua sociedade e, ao mesmo tempo, sobreviver eleitoralmente. Serve, portanto, para governantes de todas as latitudes e não apenas para os de um país que, a cada momento, tem que tomar decisões que vão muito além do trivial e dizem respeito à vida e à morte.

Claro que a derrota de Barak não se deve a um único fator. Raramente, aliás, alguém perde ou ganha uma eleição por um só motivo. Há sempre uma coleção deles, de peso variável, a influir nos resultados.

No caso de Israel na terça-feira, um dos fatores foi, sem dúvida, o fato de que Barak obrigou os judeus a se debruçarem sobre questões que a esmagadora maioria gostaria de ver desaparecer magicamente.

Primeiro, Jerusalém. Barak deixou claro que tratar a cidade como "capital eterna e indivisível" do Estado judeu é um bom slogan, apela aos sentimentos, mas não é necessariamente a verdade absoluta e incontrastável.

Cedo ou tarde, Israel vai ter que lidar com pretensões árabes legítimas à parte Oriental da cidade e ao Monte do Templo ou Esplanada das Mesquitas, aquela elevação que abriga duas mesquitas, acima do Muro das Lamentações.

O que Barak fez foi pôr esse fato na mesa cedo, em vez de tarde.

Segundo, os refugiados. Por mais que pareça irrealista imaginar que todos os 3,5 milhões ou talvez até 4 milhões de refugiados palestinos possam voltar para seus antigos lares (que, na esmagadora maioria dos casos, nem mais existem), o fato é que o Estado judeu também terá que encarar, cedo ou tarde, o fato de que foi responsável pelo êxodo de uma massa ponderável de palestinos.

De novo, Barak colocou esse tema na mesa, ao negociar com os palestinos essas duas questões (entre outras), que fazem parte do chamado status final dos entendimentos entre as partes.

Nem os mais pacifistas, entre os israelenses, estavam de fato preparados para encarar esses temas. Ainda mais no ambiente rarefeito criado pela violência dos últimos quatro meses.

Posto de outra forma: o eleitorado israelense, ao fugir de Barak, fugiu também de questões incômodas. O diabo é que elas não vão desaparecer.



Leia colunas anteriores:
27/12/2000 - Política, economia e nuvens
20/12/2000 - O que é bom para os EUA...
13/12/2000 - As donas do mundo
06/12/2000 - Previsões, ora as previsões
29/11/2000 - Cenas explícitas do ovo da serpente

| Subir |

Biografia
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A - Todos os direitos reservados.