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Não
tenho condições de saber como a TV brasileira tratou as manifestações
e incidentes da terça-feira aqui em Praga. Mas, se repetiu a dose
dos canais tchecos e da CNN, o telespectador brasileiro ficará com
a nítida sensação de que os adversários do FMI (Fundo Monetário
Internacional) e, mais abrangentemente, da globalização, não passam
de uns vândalos loucos para sair para o quebra-quebra.
Falso. Há, de fato, um punhado de vândalos que vai para as manifestações
pronto para a baderna pura e simples.
Mas a maioria dos manifestantes segue outra lógica, ruidosa, é verdade,
mas civilizada e até alegre (menos, claro, para as vítimas dos cercos
que montam a eventos internacionais como o Encontro Anual do FMI
e do Banco Mundial, oficialmente inaugurado na terça-feira).
A divergência entre os dois grupos é de tal natureza que algumas
ONGs (Organizações Não-Governamentais) não tiveram o menor acanhamento
em distribuir nota oficial para criticar a violência empregada por
seus companheiros de protesto.
O problema é que, ao contrário do que diz um certo comercial, imagem
é tudo. E a imagem mais forte é, evidentemente, a do quebra-quebra,
a das bombas de gás lacrimogêneo com as quais a polícia reage, a
de gente ferida, a do sangue escorrendo, a de gente sendo presa.
É inevitável, por isso, que predominem essas imagens em prejuízo
das manifestações não-violentas, até porque imagens fortes dispensam
legenda, ao passo que explicar as razões dos protestos necessita,
sim, legenda e até investir algum tempo para decifrar do que de
fato se trata.
De todo modo, os manifestantes, violentos ou não, ganharam mais
uma vez o dia. No horário nobre da TV tcheca, apareceram muito mais
que os atos oficiais do Encontro do FMI. O que, por sua vez, funciona
como emulação:
na próxima reunião internacional, o pessoal vai querer superar Praga
e promover atos ainda mais espetaculares.
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