NOSSOS
COLUNISTAS

Amir Labaki
André Singer
Carlos Heitor Cony
Clóvis Rossi
Eleonora de Lucena
Elvira Lobato
Gilberto Dimenstein
Gustavo Ioschpe
Helio Schwartsman
Josias de Souza
Kennedy Alencar
Lúcio Ribeiro
Luiz Caversan
Magaly Prado
Marcelo Coelho
Marcelo Leite
Marcia Fukelmann
Marcio Aith
Nelson de Sá
Vaguinaldo Marinheiro

Clóvis Rossi
crossi@uol.com.br
 
29 de novembro
  Cenas explícitas do ovo da serpente
  Para muita gente, talvez seja um episódio menor e, ainda por cima, distante. Mas desconfio que o caso do menino Joseph deveria merecer o máximo de publicidade possível, no mundo todo, porque é um dos muitos indicadores de que o ovo da serpente nazistóide nunca morre e pode ser sempre fecundado.

Primeiro, o caso original. Joseph é filho de mãe alemã e pai iraquiano, mas naturalizado alemão. No verão (europeu) de 1997, morreu afogado na cidade de Sebnitz, na parte Leste da Alemanha, depois de ter sido torturado por três menores de idade filiados à extrema-direita.

Pouco tempo atrás, os três acusados foram postos em liberdade, porque a Promotoria considerou que as provas eram insuficientes e porque pôs em dúvida a credibilidade de uma testemunha do caso.

Pois bem: assim que os três foram postos em liberdade, a família do menino passou a ser vítima cotidiana de hostilidades noturnas, proferidas por militantes da extrema-direita.

O caso já seria gravíssimo se fosse uma família comum. Mas a mãe, Renate Kantelberg, é vereadora e do partido (o SPD, social-democrata) a que pertence o atual chanceler alemão (primeiro-ministro), Gerhard Schroeder. O que só demonstra que a extrema-direita se sente poderosa e impune o suficiente para desafiar uma autoridade do próprio partido majoritário.

Conforme a denúncia da família, o menino Joseph foi torturado e depois morto por afogamento sem que centenas de testemunhas interferissem para salvá-lo. Seu "crime": a origem iraquiana do pai.

Ontem, o jornal Frankfurter Allgemeine criticou, em sua primeira página, as autoridades locais por permitirem que bandos de jovens extremistas desfilem regularmente junto à casa do menino morto, proferindo ameaças contra seus familiares.

O jornal diz que seja quais tenham sido as reais circunstâncias da morte de Joseph, "há um entorno no qual é de se imaginar o pior".

Se não é a descrição perfeita e acabada do ovo da serpente, não sei o que é.


Leia colunas anteriores
22/11/2000 - Cada vez mais cruel
15/11/2000 - Pecados, do império e dos súditos
08/11/2000 - O império é pragmático
1º/11/2000 - Falsos brilhantes

25/10/2000 - Bateu, publicou

| Subir |

Biografia
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A - Todos os direitos reservados.