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Para
muita gente, talvez seja um episódio menor e, ainda por cima,
distante. Mas desconfio que o caso do menino Joseph deveria merecer
o máximo de publicidade possível, no mundo todo, porque
é um dos muitos indicadores de que o ovo da serpente nazistóide
nunca morre e pode ser sempre fecundado.
Primeiro,
o caso original. Joseph é filho de mãe alemã
e pai iraquiano, mas naturalizado alemão. No verão
(europeu) de 1997, morreu afogado na cidade de Sebnitz, na parte
Leste da Alemanha, depois de ter sido torturado por três menores
de idade filiados à extrema-direita.
Pouco
tempo atrás, os três acusados foram postos em liberdade,
porque a Promotoria considerou que as provas eram insuficientes
e porque pôs em dúvida a credibilidade de uma testemunha
do caso.
Pois
bem: assim que os três foram postos em liberdade, a família
do menino passou a ser vítima cotidiana de hostilidades noturnas,
proferidas por militantes da extrema-direita.
O caso
já seria gravíssimo se fosse uma família comum.
Mas a mãe, Renate Kantelberg, é vereadora e do partido
(o SPD, social-democrata) a que pertence o atual chanceler alemão
(primeiro-ministro), Gerhard Schroeder. O que só demonstra
que a extrema-direita se sente poderosa e impune o suficiente para
desafiar uma autoridade do próprio partido majoritário.
Conforme
a denúncia da família, o menino Joseph foi torturado
e depois morto por afogamento sem que centenas de testemunhas interferissem
para salvá-lo. Seu "crime": a origem iraquiana
do pai.
Ontem,
o jornal Frankfurter Allgemeine criticou, em sua primeira página,
as autoridades locais por permitirem que bandos de jovens extremistas
desfilem regularmente junto à casa do menino morto, proferindo
ameaças contra seus familiares.
O jornal
diz que seja quais tenham sido as reais circunstâncias da
morte de Joseph, "há um entorno no qual é de
se imaginar o pior".
Se
não é a descrição perfeita e acabada
do ovo da serpente, não sei o que é.
Leia colunas anteriores
22/11/2000 - Cada vez mais
cruel
15/11/2000 - Pecados,
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08/11/2000 - O
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1º/11/2000 - Falsos brilhantes
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