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André Singer
asinger@uol.com.br
  6 de dezembro
  Mistura Fina
   
   

Congresso, fim de milênio e sorvete de manjericão

Antes de embarcar para uma nova excursão para o nordeste, de onde pretendo voltar com sabores locais - como o conhaque de pitanga, que tanto sucesso fez entre os leitores desta coluna - insisto no tema insípido das mesas do Congresso. Noto, pela quantidade de emails que Roberto Carlos e Gilberto Freyre dão mais ibope, no entanto, sou obrigado, por dever de ofício, a falar de política. Aguentem um pouco.

Na sexta-feira (1/12) eu dizia que a escolha dos presidentes da Câmara e do Senado tendem, em geral, ao paroquialismo. Continuo a achar isso. Porém, a coluna de Elio Gaspari no domingo (3/12) alertou para a influência dos presidentes das Casas em votações estratégicas merece a preocupação do governo.

Creio que Gaspari tem razão. Acrescento que, se ao Planalto, causa apreensão o que ocorre na outra esquina da praça dos Três Poderes, a nós, cidadãos, também deveria causar. Pela simples razão de que as tais votações terminarão por bater no cotidiano de cada um. Pode demorar, pode vir por vias transversas. Mas chega.

Tendo em mente o alerta certeiro de Gaspari redobrei a atenção ao tema. Descobri uma análise do cientista político Sérgio Abranches que vai ainda mais longe. Ele acha que se o PSDB vier a ocupar a presidência da Câmara, como quer o deputado-candidato Aécio Neves, a coalizão governista será rompida.

O raciocínio de Abranches parte das mesmas premissas que eu apresentei aqui na sexta-feira. Há três partidos (PSDB-PMDB-PFL) para dois cargos. Como resolver o assunto sem deixar ninguém de fora?

À primeira vista parece impossível. Abranches afirma que a solução é a seguinte: um dos partidos, no caso o PSDB, ocupa a presidência, enquanto os outros dois, PMDB e PFL, ficam, cada um, com a direção da Câmara e do Senador. É por isso que a candidatura Aécio e o acordo PSDB-PMDB seriam inaceitáveis pelo PFL. Assim como, seria inaceitável para o PMDB um acordo PSDB-PFL.

Abranches não diz, mas a conclusão é óbvia, que Fernando Henrique não poderia aceitar, em hipótese alguma, a candidatura Aécio, e menos ainda a coligação PSDB-PMDB. A menos que deseje uma ruptura da aliança.

A possibilidade de fragmentar a base governista parece ser uma cogitação de facções do PSDB desejosas de ver o partido reassumir características social-democratas. Uma dobradinha com o PMDB, que exclua o PFL, seria coerente com pregações desenvolvimentistas como as do ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros.

O presidente da República, contudo, não dá nenhum sinal de que pense em algo nessa linha. Muito pelo contrário, todo o esforço da Presidência vai na direção de manter e solidificar o arco de partidos que o apóia. Opção, aliás, óbvia do ponto de vista da realpolitik.

Conclusão: o enguiço no Congresso, que só se resolverá no final de janeiro, tem um potencial mais explosivo do que parece à primeira vista. Meu palpite é que os três partidos serão empurrados a encontrar um modus vivendi por um motivo simples, o de que juntos tem grandes chances de continuar mandando no Brasil. A questão é como e a que preço acharão o caminho da negociação. Pode parecer um problema de economia interna, e é, só que, repito, acabará por refletir sobre todos. Daí a necessidade de abrir o olho.

Livro da semana

O economista Gilberto Dupas faz um esforço de reflexão totalizante em "Ética e poder na sociedade da informação" (www.editora.unesp.br). É um pequeno volume que acaba de ser edita pela Unesp. Lembra o também rápido ensaio do sociólogo Anthony Giddens publicado este ano, "Mundo em descontrole". Giddens é considerado o ideólogo da terceira via.

Dupas, ex-presidente do Banespa (o que estará ele a pensar agora que o sr. Gabriel Jaramillo ocupa aquela que foi sua cadeira), tenta dar conta das transformações que transformaram o planeta nas últimas duas décadas e, em especial, nos anos 90. O tom não é otimista.

Como Dupas é muito bem informado, inteligente e escreve bem, vale a pena ler o livro. Veja um trecho para sentir o gosto:

"Na fase atual do capitalismo, auxiliado pela mutação das técnicas, surge um novo Estado. A classe dirigente já não é mais constituída por políticos mas por executivos de empresas, altos funcionários públicos e dirigentes de órgãos profissionais, sindicais, políticos, confessionais. Os partidos, as instituições e as tradições históricas perdem seu atrativo. Objetivos políticos perdem interesse. A finalidade da vida é deixada a cada cidadão, cada qual entregue a si mesmo, mesmo sabendo que este si mesmo é muito pouco."

Natal

Por falar em otimismo, as previsões sobre o Natal brasileiro parecem a discussão sobre a aterrissagem da economia norte-americana. Há números, indicadores e opiniões para todos os gostos. Desde o pessimismo mais atroz até o consumismo mais reconfortado.

Em Fortaleza

Vou para a capital do Ceará. O jornalista Paulo Mota recomenda capote e sorvete de manjericão no Restaurante do Faustino. Quem tiver outras sugestões, por favor asinger@uol.com.br.

Verso pop da semana

"Olha aí, meu bem
Prudência e dinheiro no bolso
Caldo de galinha não faz mal a ninguém."

Jorge Benjor

Até a volta.



As previsões sobre o Natal brasileiro são como as que se referem à aterrissagem da economia americana. Há números, indicadores e climas para todos os gostos. Desde o pessimismo mais atroz, que antevê maus sinais no cenário externo, até o otimismo risonho e franco, que decretou este como o melhor fim-de-ano dos últimos seis.


Leia colunas anteriores
29/11/2000 - Ver o rap do pequeno príncipe é fundamental
24/11/2000 - Apertem os cintos
22/11/2000 - Primeiros acordes do balé presidencial
17/11/2000 - Conhaque de Pitanga
15/11/2000 - Volta apoteótica

 


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