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André Singer
asinger@uol.com.br
  15 de dezembro
  Mistura Fina
   
   

O Império dividido

Habemus papa. Esta a expressão usada quando termina a eleição do papa, em geral o resultado de demoradas e difíceis negociações. Foi o que aconteceu agora nos EUA. A decisão final (?) em favor de George W. Bush conclui um drama de 36 dias agônicos.

O mundo agradece a decisão. Para o resto dos países a indecisão sobre quem ocupará a Casa Branca a partir de janeiro era ruim porque ameaçava a estabilidade da economia norte-americana e, portanto, dada a globalização, de todas as outras ao redor do mundo.

Para o Brasil, o resultado é contraditório. De um lado, é fundamental que a crise se encerre. A economia brasileira está no fio da navalha. Há uma pequena recuperação em curso. Qualquer sopro (e as dificuldades argentina já preocupam o suficiente) pode jogar o país na recessão outra vez. Ou seja, mais desemprego (como se o existente já não fosse um horror), pobreza e violência.

Por outro lado, as primeiras impressões são de que Bush procurará acelerar a Alca. Como disse o embaixador Ricupero, o problema não é de prazo. A questão é que o republicano pode significar um endurecimento com respeito às reivindicações brasileiras. Só para lembrar, o Brasil precisa exigir, para aderir à Alca, que os Estados Unidos abram o seu mercado para produtos agrícolas como suco de laranja, açúcar, soja e café solúvel.

Do ponto de vista da ciência política, o impasse ianque é dos mais interessantes. Como lembra a revista The Nation, o sistema do Colégio Eleitoral foi estabelecido pelos teóricos da democracia norte-americana porque desconfiavam da sabedoria do povo. Por um século (o último caso foi em 1888), o mecanismo ficou encoberto. Agora revela-se. Gore ganhou no voto popular por 300 mil votos. Dia 18, vai perder no colégio por três. Bush leva, mas com uma derrota moral.

Até porque a decisão da Suprema Corte também é discutível. A vantagem republicana foi conquistada por um voto (5 a 4), sendo que o alinhamento dos juízes parece ter sido ideológico e não técnico. Claro, quem nomeia os membros da corte são presidentes eleitos por partidos...Ou seja, todo o sistema está em questão. Sem falar, nos problemas de fraude eleitoral que foram constatados na Flórida. Trabalho pesado para os cientistas políticos.

ACM contra FHC é duelo do estilo Lacerda com o jeito PSD

O ataque de ACM a FHC na segunda-feira foi analisado aqui como demonstração da diferença de estilos entre os dois: um é lacerdista, o outro pessedista weberiano. A resposta suave de FHC e a reiteração da crítica por parte de ACM mostram que eu estava certo. Haverá que esperar janeiro, com a eleição das mesas do Congresso e fevereiro ou março com a suposta reforma ministerial para ver quem ganha a parada.


Livro da semana

"Para entender o Brasil", da editora Alegro. Coletânea de nomes variados - de Rachel de Queiroz a Francisco Gros - sobre os mistérios do país.

Vejam trecho do depoimento do jornalista Zuenir Ventura: "Há pouco tempo começou a ser detectado nas favelas cariocas um fenômeno novo, ainda quase imperceptível. Só registra quem tem boas antenas. Trata-se de um rancor crescente daquelas populações contra a posição que ocupam dentro do nosso quadro social tão injusto.

(...)
O rancor das populações faveladas (...) não alcançou um nível que faça o morro descer, não tem ainda massa crítica. Mas já há sinais de que é uma identidade que vem se formando, uma maneira de se verem, aos outros setores da população e ao próprio país".


Verso pop da semana

"Nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito home"

Rita Lee e Zélia Duncan, em Pagu.


Verso pop para o fim de semana

"Esse corpo moreno
Cheiroso e gostoso
Que você tem
É um corpo delgado
Da cor do pecado
Que faz tão bem"

Bororó, em Da cor do pecado, gravado por João Gilberto em João voz e violão


Errei

Alertado por Francisco Reimão da Costa, corrijo o verso de Jorge Benjor da semana passada:

Olha aí, meu bem
Prudência e dinheiro no bolso
Canja (e não caldo) de galinha não faz mal a ninguém.

 


Leia colunas anteriores
13/12/2000 - ACM contra FHC é duelo do estilo Lacerda com o jeito PSD
08/12/2000 - Turista acidental toma cajuína em Fortaleza
06/12/2000 - Congresso, fim de milênio e sorvete de manjericão
1º/12/2000 - Por que a disputa no Congresso ficou tão importante
29/11/2000 - Ver o rap do pequeno príncipe é fundamental

 


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