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O
Império dividido
Habemus papa. Esta a expressão usada quando termina a eleição
do papa, em geral o resultado de demoradas e difíceis negociações.
Foi o que aconteceu agora nos EUA. A decisão final (?)
em favor de George W. Bush conclui um drama de 36 dias agônicos.
O mundo agradece a decisão. Para o resto dos países
a indecisão sobre quem ocupará a Casa Branca a partir
de janeiro era ruim porque ameaçava a estabilidade da economia
norte-americana e, portanto, dada a globalização,
de todas as outras ao redor do mundo.
Para o Brasil, o resultado é contraditório. De um
lado, é fundamental que a crise se encerre. A economia brasileira
está no fio da navalha. Há uma pequena recuperação
em curso. Qualquer sopro (e as dificuldades argentina já
preocupam o suficiente) pode jogar o país na recessão
outra vez. Ou seja, mais desemprego (como se o existente já
não fosse um horror), pobreza e violência.
Por outro lado, as primeiras impressões são de que
Bush procurará acelerar a Alca.
Como disse o embaixador
Ricupero, o problema não é de prazo. A questão
é que o republicano pode significar um endurecimento com
respeito às reivindicações brasileiras. Só
para lembrar, o Brasil precisa exigir, para aderir à Alca,
que os Estados Unidos abram o seu mercado para produtos agrícolas
como suco de laranja, açúcar, soja e café solúvel.
Do ponto de vista da ciência política, o impasse ianque
é dos mais interessantes. Como lembra a revista The
Nation, o sistema do Colégio Eleitoral foi estabelecido
pelos teóricos da democracia norte-americana porque desconfiavam
da sabedoria do povo. Por um século (o último caso
foi em 1888), o mecanismo ficou encoberto. Agora revela-se. Gore
ganhou no voto popular por 300 mil votos. Dia 18, vai perder no
colégio por três. Bush leva, mas com uma derrota moral.
Até porque a decisão da Suprema Corte também
é discutível. A vantagem republicana foi conquistada
por um voto (5 a 4), sendo que o alinhamento dos juízes parece
ter sido ideológico e não técnico. Claro, quem
nomeia os membros da corte são presidentes eleitos por partidos...Ou
seja, todo o sistema está em questão. Sem falar, nos
problemas de fraude eleitoral que foram constatados na Flórida.
Trabalho pesado para os cientistas políticos.
ACM
contra FHC é duelo do estilo Lacerda com o jeito PSD
O ataque
de ACM a FHC na segunda-feira
foi analisado aqui como demonstração da diferença
de estilos entre os dois: um é lacerdista, o outro pessedista
weberiano. A resposta suave de FHC
e a reiteração da crítica por parte de ACM
mostram que eu estava certo. Haverá que esperar janeiro,
com a eleição das mesas do Congresso e fevereiro ou
março com a suposta reforma ministerial para ver quem ganha
a parada.
Livro da semana
"Para entender o Brasil", da editora Alegro. Coletânea de nomes
variados - de Rachel de Queiroz a Francisco Gros - sobre os mistérios
do país.
Vejam trecho do depoimento do jornalista Zuenir Ventura: "Há pouco
tempo começou a ser detectado nas favelas cariocas um fenômeno novo,
ainda quase imperceptível. Só registra quem tem boas antenas. Trata-se
de um rancor crescente daquelas populações contra a posição que
ocupam dentro do nosso quadro social tão injusto.
(...)
O rancor das populações faveladas (...) não alcançou um nível que
faça o morro descer, não tem ainda massa crítica. Mas já há sinais
de que é uma identidade que vem se formando, uma maneira de se verem,
aos outros setores da população e ao próprio país".
Verso pop da semana
"Nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito home"
Rita Lee e Zélia Duncan, em Pagu.
Verso pop para o fim de semana
"Esse corpo moreno
Cheiroso e gostoso
Que você tem
É um corpo delgado
Da cor do pecado
Que faz tão bem"
Bororó, em Da cor do pecado, gravado por João Gilberto em João
voz e violão
Errei
Alertado por Francisco Reimão da Costa, corrijo o verso de Jorge
Benjor da semana passada:
Olha aí, meu bem
Prudência e dinheiro no bolso
Canja (e não caldo) de galinha não faz mal a ninguém.
Leia
colunas anteriores
13/12/2000 - ACM contra FHC é duelo
do estilo Lacerda com o jeito PSD
08/12/2000 - Turista acidental toma
cajuína em Fortaleza
06/12/2000 - Congresso, fim de milênio
e sorvete de manjericão
1º/12/2000 - Por que a disputa
no Congresso ficou tão importante
29/11/2000 - Ver o rap do pequeno
príncipe é fundamental
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