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  13 de dezembro
  Mistura Fina
   
   

ACM contra FHC é duelo do estilo Lacerda com o jeito PSD

O ataque de ACM a FHC na segunda-feira, quando afirmou a correspondentes estrangeiros no Rio que o presidente "tem sido tolerante para manter essa aliança", referindo-se implicitamente ao fato de o PMDB estar envolvido em acusações de corrupção, repõe um confronto de alto interesse para os cidadãos em geral e para os que gostam de política em particular.

A relação de amor e ódio entre o presidente da República e o atual presidente do Senado atravessou todo o período em que o tucano está no Planalto. Comandante do PFL - embora não inquestionável, como vem demonstrando as atitudes de Jorge Bornhausen - ACM procura fazer valer o peso do seu partido na aliança com o PSDB que conduziu FHC à presidência em 1994.

Dono de uma maneira impetuosa e destemida de agir, por vezes pareceu que ACM mandava no país, tendo, para muitos, chegado a dominar FHC no primeiro mandato. Com a entrada do PMDB na aliança, a partir de 1998, o poder de ACM sofre um enfraquecimento relativo, uma vez que FHC passa a contar com outro ponto de apoio congressual.

O ataque de segunda-feira é uma pressão para que FHC se desfaça do PMDB e volte a ficar só com o PFL (leia-se a ACM) como aliado no Parlamento. O que daria novamente ao senador da Bahia a condição de controlar FHC. Este é um dos aspectos principais da guerra sem quartel que ACM move contra Jader Barbalho, o qual, juntamente com os deputados Geddel Vieira Lima (BA) e Michel Temer (SP), mais o senador Renan Calheiros (AL) e o ministro dos Transportes Eliseu Padilha, controla o PMDB.

Essa disputa é importante, em primeiro lugar, porque está a influenciar a definição do quadro sucessório, o qual interessa a todos os cidadãos. Já comentei, na semana passada, os reflexos da guerra ACM-Jader no Senado sobre a sucessão presidencial. No entanto, convém repetir. Os mais fortes pré-candidatos do PSDB, Tasso Jereissati e José Serra, alinharam-se com um dos grupos. Tasso fechou com ACM e Serra obteve o apoio dos peemedebistas. Do ponto de vista programático, muita água ainda vai correr debaixo da ponte até as candidaturas presidenciais definirem-se de fato, mas hoje esse alinhamento significa que Serra está à esquerda de Tasso, embora ambos preparem um discurso econômico desenvolvimentista e voltado para o social. Porém como Tasso é empresário e ACM está à direita do PMDB isso ajuda Serra a compor uma proposta com abertura para a esquerda, como se pode observar na reportagem da revista República.

O segundo motivo de interesse é científico. Há duas grandes escolas de liderança na política brasileira. A pessedista e a udenista. A clivagem corta partidos e ideologias. Não se trata apenas de que ACM é originário da UDN. Existem políticos, como José Sarney, que embora originários da UDN, adotam uma postura PSD. Sarney é um conciliador por natureza. Outros, como Leonel Brizola, que era do PTB e antilacerdista doente, têm no sangue o gene da radicalização.

Duas as marcas de Carlos Lacerda, o maior líder que a UDN teve: a violência verbal contra os inimigos e a tendência a radicalizar sem limite quando o que estava em jogo era o poder. Veja-se até onde Brizola foi capaz de levar o conflito com o governador Garotinho.

Pois bem, ACM é um lacerdista. Não mede atos e palavras. Quando identifica um inimigo, faz o que for necessário para derrotá-lo. Não descansa enquanto o outro não está no chão. Depois, não oferece prêmio de consolação. É tudo ou nada. Age pelo medo. Divide, não soma.

Pode soar como uma maneira temerária de se conduzir na política. E é. ACM está sempre à beira de um ataque de nervos. Traz, contudo, imensa vantagem, a da liderança explícita. Ao falar claro, alto e sem papas na língua, o cacique da Bahia orienta, conduz, arregimenta. O resultado é: lançou FHC em 1993, como bem lembrou Eliane Cantanhêde, e já lançou o que pode ser o próximo presidente, Tasso Jereissati. Como Fernando Henrique é um político com características exatamente opostas, algo que eu chamaria provisoriamente de pessedismo weberiano, ou seja a procura de exercer a arte da conciliação do modo mais racional e desencantado possível, seu governo foi visto inúmeras vezes como sombra de ACM. Até que ponto foi, de fato, ou não, requereria uma análise que não é possível fazer aqui.

No entanto foi visto como tal, o que não deve ser nada agradável para FHC. Afinal, um político como ele não quer apenas deter o poder por algum tempo. Quer passar à história como um grande líder nacional. Como diria Maquiavel, quer a honra e glória.

O desfecho do caso no Senado tem, portanto, esse interesse extra. O de saber como terminará o duelo entre essas duas figuras, ACM e FHC, que encarnam estilos opostos de liderar.


Livro da semana

"Para entender o Brasil", da editora Alegro. Coletânea de nomes variados - de Rachel de Queiroz a Francisco Gros - sobre os mistérios do país.

Vejam trecho do depoimento do jornalista Zuenir Ventura: "Há pouco tempo começou a ser detectado nas favelas cariocas um fenômeno novo, ainda quase imperceptível. Só registra quem tem boas antenas. Trata-se de um rancor crescente daquelas populações contra a posição que ocupam dentro do nosso quadro social tão injusto.

(...)
O rancor das populações faveladas (...) não alcançou um nível que faça o morro descer, não tem ainda massa crítica. Mas já há sinais de que é uma identidade que vem se formando, uma maneira de se verem, aos outros setores da população e ao próprio país".


Verso pop da semana

"Nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito home"

Rita Lee e Zélia Duncan, em Pagu.


Errei

Alertado por Francisco Reimão da Costa, corrijo o verso de Jorge Benjor da semana passada:

Olha aí, meu bem
Prudência e dinheiro no bolso
Canja (e não caldo) de galinha não faz mal a ninguém.

 


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