NOSSOS
COLUNISTAS

Amir Labaki
André Singer
Carlos Heitor Cony
Clóvis Rossi
Eleonora de Lucena
Elvira Lobato
Gilberto Dimenstein
Gustavo Ioschpe
Helio Schwartsman
Josias de Souza
Kennedy Alencar
Lúcio Ribeiro
Luiz Caversan
Magaly Prado
Marcelo Coelho
Marcelo Leite
Marcia Fukelmann
Marcio Aith
Nelson de Sá
Vaguinaldo Marinheiro

André Singer
asinger@uol.com.br
  22 de dezembro
  Mistura Fina
   
   

Sinais contraditórios

Como ler os indicadores econômicos divulgados nos últimos dias? Na quarta-feira (20/12), a Nasdaq fechou em queda de 7%. Em compensação, no começo da semana a contenção financeira da Argentina foi concluída com sucesso e os riscos de vazamento da crise para o Brasil caíram sensivelmente.

A conseqüência veio rápida: na própria quarta, o Banco Central reduziu a taxa de juros brasileira em 0,75 ponto, um corte 0,25 ponto superior ao esperado. O Federal Reserve americano, contudo, navega (ou melhor, estagna) em outra direção. Na terça (19/12), o Fed divulgou que manteria a taxa básica de juros da economia dos EUA em 6,5%, quando se esperava uma queda.

Note-se, de passagem, a diferença entre Estados Unidos e Brasil. Enquanto aqui se comemora juros de 15,75%, na América do Norte, 6,5% é considerado alto.

Voltemos ao ponto inicial. Como interpretar os números lançados à mesa quase junto com o peru de Natal? Esta coluna já havia assinalado a subjetividade inevitável na compreensão não dos fatos em si - estes são dotados daquela "verdade efetiva das coisas", de que falava Maquiavel -, mas do seu sentido. Em que direção apontam os acontecimentos?

Só o caráter subjetivo da interpretação pode explicar a leitura oposta da decisão do Fed na terça-feira. Enquanto os investidores norte-americanos decidiram vender as ações da Nova Economia, desconfiados de que uma taxa de juros alta prenuncia, no mínimo, a aterrissagem aos solavancos do avião econômico norte-americano, anunciada por aqui pelo site Primeira Leitura, o Banco Central do Brasil achou o contrário.

No comunicado do Comitê de Política Monetária atribui-se a decisão de diminuir os juros às "perspectivas favoráveis para a trajetória da inflação, reforçadas por um melhor cenário externo". O tal cenário externo é, além da blindagem argentina, a perspectiva de que, com a lentidão adequada, os juros norte-americanos irão declinar no primeiro trimestre de 20001. Ao menos é o que teria sido "transmitido" junto com a decisão de manter a taxa estável agora.

Em resumo, diante da mesma decisão - não abaixar os juros agora - os acionistas de Wall Street leram "aí vem solavanco", e o presidente do BC, Armínio Fraga, que há não muito tempo também era um dos engravatados de Nova York, leu "o chefe do Fed, Alan Greenspan, sabe o que faz e podemos passar um Natal tranqüilos, com juros mais baixos".

De fato, como mostra Robert Samuelson a única arma que Greenspan tem na mão é a taxa de juros e ele se dedica noite e dia ao assunto há 13 anos. Samuelson cita, a propósito, o novo livro de Bob Woodward (aquele de Watergate), "O Maestro", sobre o presidende do Fed.

A idéia é que Greenspan rege a economia norte-americana, porém, o surpreendente é que o faz com apenas um instrumento. Toda a sabedoria está em acioná-lo na hora e na proporção certas, uma vez que os efeitos demoram a ser sentidos. Na imagem usada pelo Primeira Leitura, é como acionar o freio de um carro que só vai começar a parar alguns quarteirões depois. Para fazê-lo corretamente, é necessário concentração e perícia.



Por falar em concentração, há uma minuciosa análise da candidatura Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência da Câmara no site riscopolítico. O cientista político Sérgio Abranches mostra que ela é pouco acreditada entre o cardinalato tucano, porém pode ter saído do controle do comando.

O perfil, aliás, traçado por Abranches sobre Aécio indica que ele é visto como pouco maduro, pouco profissional, para o exercício da função. No entanto, a campanha do neto de Tancredo serve a todos aqueles que desejam enfraquecer ACM.

Para quem não lembra: ao vetar Jader Barbalho (PMDB-PA), ACM (PFL-BA) rompeu o acordo que faria o PFL presidir a Câmara com Inocêncio de Oliveira (PE) e o PMDB, o Senado, com Jader. Na confusão, a postulação de Aécio, que corria por fora, cresceu ao receber o apoio do PMDB.

A ascensão de Aécio, portanto, enfraquece ACM, o que favoreceria FHC, cansado da petulância lacerdista do baiano. E como fica, no xadrez, a relação entre FHC e Tasso, candidato à presidência da República de Covas e... ACM? Não estaria aí a última esperança de José Serra, na conquista do apoio de FHC?



Ainda sobre competência, vale a pena ler a análise de José Antonio Dias no site www.elpincipe.com. O autor afirma que o grau de incompetência política demonstrada por Fernando De La Rua no primeiro ano de mandato é assustadora.



Para anotar. O artigo de Joaquim Francisco de Carvalho argumenta que a privatização das empresas de eletricidade de São Paulo é um erro e que a Cesp Paraná não deveria ser vendida.

Entre outras coisas, afirma que antes das privatizações, as tarifas eram acessíveis às populações de baixa renda e hoje encontram-se entre as mais altas do mundo, "e ainda serão dolarizadas", conclui. Com a palavra, o governador Mário Covas.



Quinta-feira, 21/12, 11h37 (horário de Brasília), começou o verão. Bom Natal e bom calor para todos.


Livro da semana

Nas minhas (poucas) horas vagas, gosto de ler sobre os Templários, a ordem de cavaleiros medieval mais poderosa da Europa. Parece romance policial, só que aconteceu na história real.

Acaba de sair no Brasil "Os Templários" (editora Imago), em que o autor, Piers Paul Read, procura separar os fatos da montanha de ficção criada ao longo dos séculos em torno da Ordem do Templo.


Trecho

"Qual foi o veredicto da história sobre os templários? Desde a época do seu julgamento, a opinião estava dividida quanto a se eles haviam cometido ou não os crimes a eles imputados. Dante Alighieri julgou-os vítimas inocentes da cobiça do rei Filipe, ao passo que Raimundo Lúlio, o poeta, místico, missionário e teórico das cruzadas maiorquino, embora a princípio em dúvida, acabou por aceitar que as acusações feitas contra a Ordem do Templo eram verdadeiras. Contudo, ambos eram sectários: Dante tinha sido expulso de Florença pela facção apoiada por Carlos de Anjou, enquanto Lúlio, como Filipe, o Belo, era fanaticamente a favor da fusão das duas principais ordens militares".


Verso pop da semana

"No pretenden glorias ni laureles, laureles, laureles
Sólo pasan a papeles, papeles, papeles
Experiencias totalmente personales, zonales, zonales
Elementos muy parciales que juntados no son tales"

Léo Masliah, Biromes y servilletas, gravado por Milton Nascimento em "Nascimento"


Verso popular para o primeiro
fim-de-semana do verão 2000/2001:

"Eu não tenho onde morar
É por isso que eu moro na areia"

Dorival Caymmi, "Eu não tenho onde morar"




Leia colunas anteriores
20/12/2000 - Contas que não fecham
15/12/2000 - O Império dividido
13/12/2000 - ACM contra FHC é duelo do estilo Lacerda com o jeito PSD
08/12/2000 - Turista acidental toma cajuína em Fortaleza
06/12/2000 - Congresso, fim de milênio e sorvete de manjericão



 


| Subir |

Biografia
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A - Todos os direitos reservados.