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Sinais
contraditórios
Como ler os indicadores econômicos divulgados nos últimos dias?
Na quarta-feira (20/12), a Nasdaq fechou em queda de 7%. Em compensação,
no começo da semana a contenção financeira da Argentina foi concluída
com sucesso e os riscos de vazamento da crise para o Brasil caíram
sensivelmente.
A conseqüência veio rápida: na própria quarta, o Banco Central reduziu
a taxa de juros brasileira em 0,75 ponto, um corte 0,25 ponto superior
ao esperado. O Federal Reserve americano, contudo, navega (ou melhor,
estagna) em outra direção. Na terça (19/12), o Fed divulgou que
manteria a taxa básica de juros da economia dos EUA em 6,5%, quando
se esperava uma queda.
Note-se, de passagem, a diferença entre Estados Unidos e Brasil.
Enquanto aqui se comemora juros de 15,75%, na América do Norte,
6,5% é considerado alto.
Voltemos ao ponto inicial. Como interpretar os números lançados
à mesa quase junto com o peru de Natal? Esta coluna
já havia assinalado a subjetividade inevitável na compreensão não
dos fatos em si - estes são dotados daquela "verdade efetiva das
coisas", de que falava Maquiavel -, mas do seu sentido. Em que direção
apontam os acontecimentos?
Só o caráter subjetivo da interpretação pode explicar a leitura
oposta da decisão do Fed na terça-feira. Enquanto os investidores
norte-americanos decidiram vender as ações da Nova Economia, desconfiados
de que uma taxa de juros alta prenuncia, no mínimo, a aterrissagem
aos solavancos do avião econômico norte-americano, anunciada por
aqui pelo site Primeira
Leitura, o Banco Central do Brasil achou o contrário.
No comunicado
do Comitê de Política Monetária atribui-se a decisão de diminuir
os juros às "perspectivas favoráveis para a trajetória da inflação,
reforçadas por um melhor cenário externo". O tal cenário externo
é, além da blindagem argentina, a perspectiva de que, com a lentidão
adequada, os juros norte-americanos irão declinar no primeiro trimestre
de 20001. Ao menos é o que teria sido "transmitido" junto com a
decisão de manter a taxa estável agora.
Em resumo, diante da mesma decisão - não abaixar os juros agora
- os acionistas de Wall Street leram "aí vem solavanco", e o presidente
do BC, Armínio Fraga, que há não muito tempo também era um dos engravatados
de Nova York, leu "o chefe do Fed, Alan Greenspan, sabe o que faz
e podemos passar um Natal tranqüilos, com juros mais baixos".
De fato, como mostra Robert
Samuelson a única arma que Greenspan tem na mão é a taxa de
juros e ele se dedica noite e dia ao assunto há 13 anos. Samuelson
cita, a propósito, o novo livro de Bob Woodward (aquele de Watergate),
"O Maestro", sobre o presidende do Fed.
A idéia é que Greenspan rege a economia norte-americana, porém,
o surpreendente é que o faz com apenas um instrumento. Toda a sabedoria
está em acioná-lo na hora e na proporção certas, uma vez que os
efeitos demoram a ser sentidos. Na imagem usada pelo Primeira
Leitura, é como acionar o freio de um carro que só vai começar
a parar alguns quarteirões depois. Para fazê-lo corretamente, é
necessário concentração e perícia.
Por falar em concentração, há uma minuciosa análise da candidatura
Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência da Câmara no site riscopolítico.
O cientista político Sérgio Abranches mostra que ela é pouco acreditada
entre o cardinalato tucano, porém pode ter saído do controle do
comando.
O perfil, aliás, traçado por Abranches sobre Aécio indica que ele
é visto como pouco maduro, pouco profissional, para o exercício
da função. No entanto, a campanha do neto de Tancredo serve a todos
aqueles que desejam enfraquecer ACM.
Para quem não lembra: ao vetar Jader Barbalho (PMDB-PA), ACM (PFL-BA)
rompeu o acordo que faria o PFL presidir a Câmara com Inocêncio
de Oliveira (PE) e o PMDB, o Senado, com Jader. Na confusão, a postulação
de Aécio, que corria por fora, cresceu ao receber o apoio do PMDB.
A ascensão de Aécio, portanto, enfraquece ACM, o que favoreceria
FHC, cansado da petulância
lacerdista do baiano. E como fica, no xadrez, a relação entre
FHC e Tasso, candidato à presidência da República de Covas e...
ACM? Não estaria aí a última esperança de José Serra, na conquista
do apoio de FHC?
Ainda sobre competência, vale a pena ler a análise de José Antonio
Dias no site www.elpincipe.com.
O autor afirma que o grau de incompetência política demonstrada
por Fernando De La Rua no primeiro ano de mandato é assustadora.
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Para anotar. O artigo de Joaquim
Francisco de Carvalho argumenta que a privatização das empresas
de eletricidade de São Paulo é um erro e que a Cesp Paraná não deveria
ser vendida.
Entre outras coisas, afirma que antes das privatizações, as tarifas
eram acessíveis às populações de baixa renda e hoje encontram-se
entre as mais altas do mundo, "e ainda serão dolarizadas", conclui.
Com a palavra, o governador Mário Covas.
Quinta-feira, 21/12, 11h37 (horário de Brasília), começou o verão.
Bom Natal e bom calor para todos.
Livro da semana
Nas minhas (poucas) horas vagas, gosto de ler sobre os Templários,
a ordem de cavaleiros medieval mais poderosa da Europa. Parece romance
policial, só que aconteceu na história real.
Acaba de sair no Brasil "Os Templários" (editora Imago), em que
o autor, Piers Paul Read, procura separar os fatos da montanha de
ficção criada ao longo dos séculos em torno da Ordem do Templo.
Trecho
"Qual foi o veredicto da história sobre os templários? Desde a época
do seu julgamento, a opinião estava dividida quanto a se eles haviam
cometido ou não os crimes a eles imputados. Dante Alighieri julgou-os
vítimas inocentes da cobiça do rei Filipe, ao passo que Raimundo
Lúlio, o poeta, místico, missionário e teórico das cruzadas maiorquino,
embora a princípio em dúvida, acabou por aceitar que as acusações
feitas contra a Ordem do Templo eram verdadeiras. Contudo, ambos
eram sectários: Dante tinha sido expulso de Florença pela facção
apoiada por Carlos de Anjou, enquanto Lúlio, como Filipe, o Belo,
era fanaticamente a favor da fusão das duas principais ordens militares".
Verso pop da semana
"No pretenden glorias ni laureles, laureles, laureles
Sólo pasan a papeles, papeles, papeles
Experiencias totalmente personales, zonales, zonales
Elementos muy parciales que juntados no son tales"
Léo Masliah, Biromes y servilletas, gravado por Milton Nascimento
em "Nascimento"
Verso popular para o primeiro
fim-de-semana do verão 2000/2001:
"Eu
não tenho onde morar
É por isso que eu moro na areia"
Dorival
Caymmi, "Eu não tenho onde morar"
Leia
colunas anteriores
20/12/2000 - Contas que não fecham
15/12/2000 - O Império dividido
13/12/2000 - ACM contra FHC é
duelo do estilo Lacerda com o jeito PSD
08/12/2000 - Turista acidental toma
cajuína em Fortaleza
06/12/2000 - Congresso, fim de milênio
e sorvete de manjericão
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