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  27 de dezembro
  Mistura Fina
   
   

Eleitores de baixa renda decidirão entre Lula e Suplicy

A pesquisa Datafolha sobre a eleição de 2002 publicada no domingo (24/12) precisa ser tomada pelo que é e não pelo que não é. Um levantamento dois anos antes da eleição reflete, sobretudo, índices de conhecimento dos candidatos. Em 1994 e 1998, Lula chegou a estar em primeiro lugar quando faltavam menos de cinco meses para o dia do voto. Depois Fernando Henrique subiu e ganhou no primeiro turno.

O eleitor sabe que falta muito tempo para o pleito. Está longe de definir o voto, ainda que tenha inclinações de momento. Tais inclinações podem manter-se e, em alguns casos, o farão. Em outros, poderá haver conversões inesperadas.

Lidos com essa cautela, os números do DataFolha revelam o estado de espírito do eleitorado hoje. Além de confirmar a liderança de Lula, o que o estudo mostra?

O grande trunfo de Lula sobre Suplicy é que os seus 30% de intenção de voto estão preferencialmente ancorados em eleitores de baixa renda. O apoio ao presidente de honra do PT cai conforme aumenta a renda, enquanto com Suplicy ocorre o contrário.

À primeira vista, o senador por São Paulo não tem com o que se preocupar. É um efeito natural: como os mais ricos são melhor informados, eles, hoje, têm maior conhecimento do nome de Suplicy. Nada que uma boa campanha na televisão tenha dificuldade em reverter. Nesse sentido, está certo o marido de Marta em comemorar.

O problema é outro. Acontece que a distribuição dos votos em Lula no survey do DataFolha indicam que houve uma reversão daquele que foi o grande entrave para que Lula vencesse a eleição de 1989. O apoio a ele aumentava com a renda e a escolaridade. Isso decorria de fortes resistências ao PT entre os eleitores mais pobres.

Se a atuação do PT e de Lula nos anos 90 foi capaz de suavizar preconceitos e medos, é possível que a disputa de 2002 traga novidades. As caravanas de Lula e as próprias campanhas de 94 e 98 podem ter produzido um efeito cumulativo. Note-se que a proporção de entrevistados que simpatizam com Lula está distribuída por todo o país em proporções razoavelmente equilibradas, enquanto os que se inclinam por Suplicy concentram-se no sudeste, onde ele atua.

Em todo caso, será necessário aguardar novas de ondas de entrevistas para ver se os números se repetem. A margem de erro às vezes induz a enganos. Mas os dados de domingo são inequívocos. Entre os eleitores cuja renda familiar mensal vai até 10 salários mínimos (ou seja o entrevistado mora em uma casa que aufere no máximo R$ 1.520,00), Lula dispõe de 31% das intenções de voto.

Seria necessário saber em quem tende a votar esse eleitor de Lula, caso ele não concorra, o que a reportagem da Folha não divulgou. Mas aparentemente, um número pequeno se transfere para Suplicy, uma vez que ele dispõe de apenas 8% das preferências na mesma categoria em que Lula atinge 31%.

Já na faixa de eleitores de maior renda (aqueles cujas famílias recebem mais de R$ 3.040,00), a disparidade é significativamente menor. Lula tem 22% e Suplicy 18%. Não podemos afirmar que sejam os mesmo eleitores que tenham passado de um para outro. No entanto, é plausível supor que, em alguma proporção, assim seja.

A pergunta crucial é: os votos que Lula aufere entre os eleitores de menores rendimentos são dele ou do PT? Isto é, com que facilidade podem ser transferidos uma vez que ele saibam quem leva a candidatura do partido? Trata-se de uma questão que pesquisas quantitativas e qualitativas mais próximas estarão habilitadas a responder.

Livro da semana

O escritor e pintor argentino Ernesto Sabato publicou um novo livro Chama-se "La resistencia" (Seix Barral, 148 páginas). Sabato fará 90 anos em 2001. Autor de "El túnel" e "Sobre héroes y tumbas", é um pensador de primeira, além de artista. "La resistencia" discute os rumos da sociedade contemporânea. Vale a pena.

Trecho

"Son muy pocas las horas libres que nos deja el trabajo. Apenas un rápido desayuno que solemos tomar pensando ya en los problemas de la oficina, porque de tal modo nos vivimos como productores que nos estamos volviendo incapaces de detenernos ante una taza de café en las mañanas, o de unos mates compartidos. Y la vuelta a la casa, la hora de reunirnos con los amigos o la familia, o de estar en silencio como la naturaleza a esa misteriosa hora del atardecer que recuerda no cuadros de Millet, tantas veces se nos pierde mirando la televisión! Concentrados en algún canal, o haciendo zapping, parece que logramos una belleza o un placer que ya no descubrimos compartiendo un guiso o un vaso de vino o una sopa de caldo humeante que nos vincule a un amigo en una noche cualquiera.

Verso pop da semana

"Boi, boi, boi da cara preta Pega o Toim Zé que ele tem medo de careta

Boi, boi, boi cara de louça Pega o Toim Zé que ele tem medo de moça

Boi, boi, boi cara de lua Toim Zé ainda chora Quando vê moça nua."

Tom Zé, em "Medo de mulher", gravada no disco "Jogos de armar" (Trama, 2000)


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