Acelera, FHC!

"Se não fomos capazes de crescer durante os 10 anos em que os Estados Unidos cresceram de forma excepcional, vamos crescer agora?" A pergunta é do empresário Eugênio Staub para o jornal Valor. Staub, que dirige a Gradiente, engrossa o coro dos que pedem mais energia do governo em busca do crescimento econômico a partir do ano que vem.

A unanimidade em torno de que o país precisa expandir a economia só é superada pela que existe hoje em São Paulo (escrevo na quinta, 28/12) a favor do São Caetano. Todos, da direita à esquerda, torcem pelo crescimento acelerado.

Apenas alguns exemplos dos últimos dias do ano. Delfim Netto, na Folha, pede ousadia de Fernando Henrique para que o Brasil cresça a uma taxa anual de 5% a 7%. "Nem a economia política nem a aritmética proíbem esse sonho. Ouse, sr. presidente, em nome de 170 milhões de esperanças". diz o ex-ministro do milagre brasileiro.

Josmar Verillo, vice-presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Papel e Celulose, também na Folha: "Para diminuir a pobreza e reduzir as desigualdades, o Brasil precisa crescer 6% a 8% _e não 4%". Aqui, o governo é acusado de ter tornado o monstro tributário mais feio do que já era. "Terá a responsabilidade histórica de não destruí-lo no momento certo."

Com ênfases e diagnósticos diferentes, Delfim e Verillo chegam à mesma conclusão de Staub. O Brasil precisa crescer mais do que os 4% deste ano. E não será fácil sequer manter o ritmo atual agora que a economia norte-americana entrou em baixa. As previsões otimistas (atenção, as otimistas) indicam que os EUA crescerão 3% no ano que vem, quando vinha na casa dos 6%. Os pessimistas acham que os americanos entrarão em recessão em 2001.

"Todo ano, em julho, o Malan fala que vamos começar a crescer de verdade; chega dezembro ele fala que alguma crise externa - primeiro a asiática; depois a russa; agora, o 'soft landing' dos EUA - vai nos impedir de crescer mais", arremata Staub.

Até parece que o controlador da Gradiente entrou no PT. No congresso que realizou em dezembro de 1999, o PT assinalava que "um debate tímido e inconsistente em fins de 98 alimentou especulações sobre a possibilidade de uma 'virada desenvolvimentista' no segundo mandato". Mas em seguida conclui: "A evolução da política do governo mostrou que ele mantém sua orientação neoliberal e tende a aprofundá-la".

Como se vê, a questão do crescimento tende a unificar nas críticas ao governo grande parte da opinião pública. Será que isso provocará alguma mudança? Aposto que não. Fernando Henrique é, sobretudo, realista, moderado e cauteloso. Tende a não fazer marola, para que o barco da presidência evite ser derrubado por alguma onda inesperada.

O afeto que se encerra

Dois artigos que valem ser lidos nesta época de festas. O simples porém inspirador texto da psicóloga e deputada Esther Pilar Grossi na Folha sobre o Natal e o do psicanalista Renato Mezan na Veja sobre mal-estar moderno.

Versos pop da semana

"Boi, boi, boi da cara preta
Pega o Toim Zé que ele tem medo de careta

Boi, boi, boi cara de louça
Pega o Toim Zé que ele tem medo de moça

Boi, boi, boi cara de lua
Toim Zé ainda chora
Quando vê moça nua."

Tom Zé, em "Medo de mulher", gravada no disco "Jogos de armar" (Trama, 2000)

Verso pop para o último fim de semana do ano:

"Light is fading darkness coming soon
Feeling lonely in this empty room"

Starkey/Hudson/Grakal/Dudas em "One", gravado em "Vertical man", de Ringo Starr.



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