É um momento assustador para a literatura nos EUA, diz autora Jacqueline Woodson

Escritora que publicou mais de 40 livros, em sua maioria para jovens, lança no Brasil premiado 'Sonhos de Uma Menina Negra'

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São Paulo

"Este é um momento muito assustador para a literatura aqui nos Estados Unidos." A frase é da escritora americana Jacqueline Woodson, autora de quase 50 livros, a maioria deles para adolescentes. Em suas histórias, a autora fala de temas polêmicos que deixariam censores salivando, a fim de cancelar trechos ou até mesmo a obra toda, mas, por sorte, ela conta que até agora só teve de enfrentar o que chama de "desafios".

mulher negra sorri de óculos
A escritora Jacqueline Woodson, autora de 'Sonhos de Uma Menina Negra' - Divulgação

"Muitos livros estão sendo proibidos, especialmente livros de pessoas não brancas, porque não querem que as pessoas contem as histórias da história dos Estados Unidos. Qualquer livro que fale sobre escravidão, aprisionamento, movimento pelos direitos civis, Martin Luther King, todos eles estão sendo proibidos agora. Estão dizendo que esses livros fazem as crianças brancas se sentirem mal, e não querem que isso aconteça."

Jacqueline lançou em 2014 "Sonhos de Uma Menina Negra", que agora é publicado no Brasil pela editora Baião. O livro fala sobre como foi crescer nos Estados Unidos dos anos 1960 e 1970 sendo uma garota negra. É a história da própria autora, escrita em forma de verso.

Ela conversou por email com o Folhateen e falou sobre a onda de revisionismo que atinge a literatura, que tenta "limpar" livros de coisas que podem incomodar determinados públicos. "Não concordo com essa revisão da literatura. Isso é uma tentativa de revisar a história, e quando começamos a revisar a história não vamos nos lembrar dos erros que cometemos", diz Jacqueline.

"Acho errado revisar histórias. Acho errado banir livros. Acho errado tirar a literatura dos jovens. Eles merecem e são capazes de lidar com isso. Sugiro [aos adultos] ler com seus jovens. Leia os livros que eles estão lendo e tenha conversas com eles, porque é isso que muda o mundo, ser capaz de se sentir seguro e ter uma conversa."

A impressão que se tem é a de que Jacqueline escolhe o lado dos jovens sempre, em qualquer debate. Por exemplo, quando vem o argumento de que adolescentes estariam lendo menos hoje em dia. Para ela, a questão não é "menos" —é só um jeito diferente de ler.

"Os jovens leem textos no Instagram, no TikTok. Eles estão consumindo arte de maneira diferente. Estão lendo frases mais curtas, e acho importante que os alcancemos onde eles estão. Não podemos escrever livros com frases longas, capítulos longos em muitas páginas. Temos que pensar em outros meios."

Jacqueline Woodson nasceu em 1963 nos Estados Unidos. Por "Sonhos de Uma Menina Negra" ganhou o National Book Award. Foi nomeada Embaixadora Nacional da Literatura para Jovens pelo Library of Congress em 2018, e em 2020 recebeu a medalha Hans Christian Andersen.

Ela decidiu fazer arte inspirada nas dores da sua história porque acha que essa é a maneira mais fácil de transformar o passado. "Sonhos de Uma Menina Negra" tem vários trechos tristes, que mostram os efeitos da segregação racial.

"A ideia de que pessoas não brancas são inferiores às pessoas brancas, eu digo que isso é problema delas. Isso não tem nada a ver conosco como pessoas de cor, porque sabemos o quão incríveis somos. Sabemos quais desafios o mundo nos lançou simplesmente por causa da cor da pele em que nascemos. Sabemos que somos fabulosos."

Sonhos de Uma Menina Negra

  • Autoria Jacqueline Woodson (tradução de Nina Rizzi)
  • Editora Editora Baião, R$ 69,90 (336 páginas)
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