Descrição de chapéu Todo mundo lê junto

Pintar unhas e cabelos e furar orelhas vira diversão entre as crianças

Dermatologista dá dicas para o uso seguro de produtos e ensina a cuidar da cicatriz da perfuração

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São Paulo

Alice C. G. mostra a unha do dedinho: um cotoco coberto por um tantinho de pele. Tem também um roxo ali do lado, coisa de quem teve casquinha recente. "Eu fui puxando, puxando, e saiu um pedação", diz rindo, sem revelar se um dia (ou hoje mesmo) roeu as unhas das mãos.

Agora, elas estão pintadas de azul, uma cor chamativa como são as cores favoritas de Alice, 10 anos, desde que ela começou a passar esmaltes, ainda pequenininha. "Lembro uma vez que a gente saiu pra comprar esmalte verde, porque minha mãe queria fazer uma melancia nas minhas unhas. Ela também fazia joaninha", conta.

Alice com suas unhas azuis e brinco de lámen - Folhapress

Na sua escola, Alice conhece algumas meninas que também curtem pintar as unhas, "mas são poucas", e também já viu meninos "que pintam de preto". "E conheço um menino que pintou de vermelho e todo mundo gostou."

Nos cabelos, a primeira vez que ela passou tinta foi aos 5 anos de idade —era uma mecha roxa. Todas as vezes, digamos, oficiais que Alice tingiu os fios aconteceram em salões de beleza, mas recentemente houve um desvio do padrão.

"Essa aqui pintei sozinha, no dia 25 de janeiro deste ano", revela, mostrando uma foto no celular. "Passei uma tinta que tenho aqui em casa. Pintar no salão é muito caro, e da última vez demorou tanto que eu fiquei com fome."

"Depois, eu queria pintar pro primeiro dia de aula, só que eu fiquei com preguiça, porque da última vez deu trabalho, tive que passar três [de]mãos. Mas tenho planos de pintar de novo. A mamãe falou que, como é só um pouquinho, ela descolore em casa mesmo. Eu não tô confiando", diz.

Para fazer as fotos da reportagem, Alice trocou de brincos. Tirou as bolinhas douradas com que recebeu a Folhinha em casa, e colocou os amarelinhos que reproduzem um lámen oriental. Foi Alice quem fez estes e mais alguns pares que ela mostra dentro de uma caixinha.

"Furei a orelha quando era recém-nascida. Faz um tempinho coloquei um brinco que era de ouro e prata e minha orelha ficou saindo uma aguinha, ficou meio doída. Queria muito fazer o segundo furo, mas minha mãe só quer que se for no lugar de acupuntura", reclama.

Os gêmeos Theodoro (esq.) e Benjamin (dir.), que curtem descolorir o cabelo, pintar as unhas e usar brincos - Bruno Santos/Folhapress

Os gêmeos Benjamin e Theodoro M. B., 14 anos, são amigos de Alana Beatriz A. R., 13 anos —o trio adora se enfeitar também com brincos, esmaltes e tinta no cabelo. A cor favorita deles todos nas unhas, por exemplo, é o preto.

"Comecei a pintar de branquinho, e ninguém falou coisas chatas para mim [na escola]", lembra Benjamin. Há dois anos, ele e o irmão começaram a descolorir os fios e passar tons vibrantes por cima. Ben, como é chamado na família, começou com azul e Theo foi de vermelho.

Alana, por sua vez, estreou com um rosa. "Minha família topou. Tive que descolorir e foi bem chato, o cheiro me fez passar mal", lembra. Os furos nas orelhas dos meninos vieram ano passado, e os dois escolheram brincos parecidos, argolas com uma cruz.

Mia O. L, de 10 anos, aproveitou a vontade de pintar as unhas como as que ela vê na internet para parar de roê-las. "Agora eu vou poder pintar, fazer desenhos, deixar ela muito bonita, fazer várias artes, e acho isso bem legal", conta, animada.

"Vou querer pintar na manicure quando puder, mas se não der vou pedir ajuda da minha mãe pra pintar em casa. Queria pintar de preto e branco, porque o time que eu torço é o Corinthians."

Os cabelos de Mia também já ganharam mechas roxa e rosa, e ela só não gostou que as tintas saíram antes do que esperava. Já os furos na orelha vão ter que esperar um pouco. A mãe de Mia conta que, porque ela faz lutas, ainda não poderá usar brincos.

"Fiquei muito triste porque era uma coisa que eu queria muito fazer, todas as minhas amigas tinham orelha furada, brincos legais. Mas, um dia, se eu conseguir, eu furo minha orelha e vou ficar bem feliz. Eu não sei se sou vaidosa, mas tenho meu jeitinho de cuidar das coisas."

Para todos eles, Mia, Theo, Ben, Alana e Alice, as cores e adornos pelo corpo são uma forma de se expressar, mas também uma grande brincadeira. Eles se divertem não só com o resultado, mas também durante todo o processo de escolha do que vão fazer.

A dermatologista Julia Peres, graduada pela USP (Universidade de São Paulo), avisa que o mais importante é que tudo parta de uma vontade da criança e do jovem, e que não seja algo imposto pela família.

Em relação aos esmaltes, por exemplo, Julia alerta que o ideal é que só crianças a partir dos 4 anos de idade usem o produto. "A criança ainda põe muito a mãozinha na boca e ela pode acabar ingerindo as substâncias potencialmente tóxicas que estão contidas no esmalte", explica.

"Porém, hoje em dia existem alguns esmaltes que são feitos à base de álcool e saem com água, são temporários. Então, quem for maior de 4 anos e desejar espontaneamente, as famílias podem permitir que se use esse tipo de esmalte."

Deste modo, explica a médica, há menos risco de que a pele esteja exposta prolongadamente a substâncias com potencial tóxico. Depois dos 12 anos, já é possível migrar para os esmaltes comuns, mas sempre observando se eles não causarão alergia.

"Os testes exigidos pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que fiscaliza esse tipo de produto] para os esmaltes para crianças são diferentes dos testes de esmaltes de adultos. Há um controle maior, com laudos para ver se são tóxicos ou se podem proliferar bactérias, por exemplo", explica Renan Borges, coordenador de marketing da Impala, fabricante de produtos de beleza.

Na hora de remover os esmaltes, Julia sugere o uso de produtos à base de óleo e que não contenham acetona. E será que pode tirar a cutícula? "Não recomendo. A cutícula é uma proteção da unha, ela cria uma barreira contra a entrada de microrganismos, bactérias e vírus", diz.

Para pintar os cabelos, ela acredita que o ideal seja esperar até os 12 anos também, para evitar o contato das tintas com a raiz dos cabelos e o couro cabeludo, que poderia absorver as tintas. Sprays temporários estão liberados para os menores, desde que não se durma com eles, para que não encostem na pele durante o sono.

Furos na orelha, por sua vez, não são um problema, segundo a dermatologista, desde que ao longo de ao menos um mês a família higienize com cuidado o local, usando antisséptico e deixando tudo sempre limpinho.

"Muitos brincos são feitos por um conjunto de metais e alguns deles contêm níquel, que é um dos metais que mais dão alergia. Então, quem tem alergia a um brinco, precisa trocar por um com uma liga mais pura", explica Julia. "Tente ouro mais puro, prata, resina ou aço cirúrgico. Mas, se tudo der alergia, o ideal é não insistir."

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por educadores e responsáveis com a criança

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