Descrição de chapéu dia das mães

Mães cuidam dos filhos, mas quem será que cuida delas? Crianças respondem

Dia delas é celebrado neste domingo (12) e inspira reflexão sobre cansaço, carinho e rede de apoio

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São Paulo

Lucca ainda é bem pequenininho, mas já sabe coisas importantes. Ele é craque, por exemplo, em entender quando sua mãe, Marina, está cansada. "Você precisa do seu espaço, né, mamãe?", ele costuma perguntar. Em casa, os dois têm o que eles chamam de "cantinho da calma", para onde vão em momentos assim —no cantinho de Marina, tem incenso e óleos essenciais, e no de Lucca, tem sua naninha e um bicho-preguiça de pelúcia.

"Minha mamãe é quem cuida de mim. A mamãe cuida de tudo. Ela sabe fazer tudo pra mim", diz Lucca, 3 anos e 10 meses de idade. "Ela faz minha comida, dá banho em mim. Me coloca pra dormir e me leva pra passear, me leva no parquinho. Ela me dá colo quando eu choro".

Marina, mãe de Lucca, é psicanalista e criou um grupo de apoio para mães - Stela Handa/Divulgação

A Folhinha pergunta para ele se cuidar de uma criança é fácil ou difícil. "É fácil. Mas eu dou trabalho", responde Lucca, que pode até achar isso, mas não é a única criança que dá trabalho aos responsáveis neste mundo.

No caso da família dele, moram juntos Lucca e Marina, que é uma mãe solo, ou seja, cria e educa seu filho sem a ajuda de um companheiro ou companheira. Em maio do ano passado, foi publicada uma pesquisa que mostra que 7 em cada 10 mulheres brasileiras são mães, e que metade dessas mães é solo.

Se a mamãe cuida do Lucca, quem cuida da mamãe? "A vovó! A vovó cuida bem da mamãe. Ela ajuda a mamãe a cuidar de mim", responde o menino. "Ele enche meu potinho de amor todos os dias. Naqueles dias em que estou exausta e cheia de problemas, olho para ele e lembro que tudo é por ele", diz a mamãe Marina.

Eu sei que hoje quem eu tenho do meu lado é minha mãe. Em todas as situações da minha vida em que eu precisei, quem estava era ela. É a pessoa com quem posso contar a qualquer momento. Costumo dizer que mãe é a pessoa que fica

Marina Rosenfeld

mãe do Lucca e filha da Paula

Lucca nasceu durante a pandemia. "Foi uma cena que me marcou muito, eu entrando sozinha na maternidade. Pensei 'Vou entrar sozinha, mas não vou sair sozinha, vou sair com meu filho'", lembra Marina. "É uma mistura de sentimentos. Uma sensação de muita completude e ao mesmo tempo de muito vazio."

Quando saiu do hospital carregando o pacotinho com Lucca dentro, Marina foi direto para a casa de sua mãe, e lá ficou até o bebê completar 11 meses. Para ela, mães precisam de redes de apoio, que é a maneira com que são chamados os grupos de pessoas mais próximas delas, e a quem elas podem pedir ajuda sempre que precisam.

Quem encabeça a rede de apoio de Marina e Lucca é a vovó Paulinha, 70 anos, aposentada. "Não sei o que seria da gente sem minha mãe", diz Marina. "Quando o Lucca está doente é minha mãe quem cuida, é ela quem busca ele na escola… Ela é muito importante no processo de desenvolvimento dele. E ele tem loucura por ela."

"Eu sei que hoje quem eu tenho do meu lado é minha mãe. Em todas as situações da minha vida em que eu precisei, quem estava era ela. É a pessoa com quem posso contar a qualquer momento. Costumo dizer que mãe é a pessoa que fica."

Junto de vovó Paulinha também estão na rede de apoio de Marina a Elaine e a Sandra, que cuidam de Lucca na casa deles e que já trabalharam mesmo quando Marina estava sem dinheiro para pagar pelo serviço delas. E também tem o Ivanildo, guarda da rua, que uma vez encontrou um remédio que Lucca precisava muito e que Marina não conseguia achar em farmácia nenhuma.

Na casa da Joana, que tem 9 anos, moram ela, seus quatro gatos, seu pai e sua mãe. Ela acha que cuidar de uma criança deve ser difícil.

"Porque você tem um ser vivo que você tem que cuidar, não dá para deixar morrer. Tem que comprar comida, comprar roupa, comprar um monte de coisa. Quando o bebê nasce tem que ficar cuidando a noite inteira porque o bebê tá chorando. E quando a criança cai tem que ir para o hospital, é difícil também", acredita Joana, que diz que sua mãe e seu pai cuidam dela.

"Minha mãe dorme comigo, fica comigo para eu conseguir dormir, me dá café da manhã, vê filmes comigo, me ajuda a analisar as lições", afirma. Joana diz que, quando sua mãe era pequena, foi cuidada pelos pais. Hoje, o time aumentou. "Os pais dela, o papai e eu [cuidamos dela]."

E como são esses cuidados? "Quando ela chora, o papai sempre pergunta se ela tá bem, eu também. Aí, quando ela tá dormindo, a gente sempre fecha a porta pra não fazer muito barulho. Quando ela tá dormindo e não tirou a lente [de contato], a gente avisa. Quando ela tá procurando o celular, que é quase de cinco em cinco minutos, a gente ajuda a procurar", explica.

Francisco tem 11 anos e mora com sua mãe e seus gatos. "Cuidar de uma criança é difícil, porque requer muitos cuidados, e não pode fazer de qualquer jeito", diz ele.

Samira, mãe de Francisco, dá ao filho "ensino, lazer, caráter e respeito", conta o menino. "Eu vejo minha mãe como uma heroína. Eu vejo minha família como um abrigo quente que sempre vai me acolher nos momentos difíceis e felizes. Desde me ensinar a cozinhar ou a limpar a casa, eu sempre me senti acolhido nesse lar."

Eles [adultos] têm menos necessidades que crianças, porém também são gente

Francisco, 11 anos

filho da Samira

Na família deles, ele diz, todos se cuidam juntos. E cuidar de adultos, segundo Francisco, também não é nada fácil. "Eles têm menos necessidades que crianças, porém também são gente."

Alice também tem 11 anos e mora com sua mãe e seu pai. São eles que cuidam dela, diz Alice. "E eles mesmos se cuidam. "Quando estão com dor de cabeça, eles tomam um remédio, e normalmente tomam um chá ou um café para relaxar."

Ser mãe pode ser cansativo e exigir força —do corpo e da cabeça. Marina, a mãe do Lucca lá do começo, explica que a maternidade se parece com um avião em alguns momentos. Sabe quando, antes de uma viagem, os comissários explicam que, numa emergência, os adultos devem colocar suas máscaras de oxigênio antes de colocar as das crianças? Ser mãe é assim.

"As mães têm que estar bem para conseguirem cuidar dos filhos", diz Marina, que trabalha como psicanalista e é especialista em parentalidade, ou seja, na relação de mães e pais com seus filhos.

Marina criou um programa de estudos e apoio para mães, e nele elas são estimuladas a se cuidar. Além disso, Marina também ensina as crianças a ser boas ajudantes em casa —como nenhuma criança é (ou pelo menos não deveria ser) responsável pelos adultos que cuidam dela, elas ao menos podem colaborar no dia a dia e torná-lo mais fácil para todos.

"Se você já tem idade para fazer determinadas coisas, pode ir fazendo", recomenda. "Assim, você vai desenvolvendo uma coisa chamada 'autonomia'. Então, conforme a sua idade, você pode aprender a tirar os pratos da mesa, lavar sua louça, dobrar e guardar sua própria roupa, guardar seus brinquedos e assim por diante."

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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