|
|
Vale a pena voltar?
Há exatos 30 anos, a Apollo 11 partia com astronautas
rumo à Lua. Agora, sem a Guerra Fria, o homem procura motivação
para decolar outra vez
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
Trinta anos atrás, às 10h32 (horário de Brasília),
quando o foguete Saturn 5, com a nave Apollo 11 no topo de seus 87 metros,
deixou a base de Cabo Canaveral, a maior batalha de propaganda da Guerra
Fria estava quase ganha pelos EUA, a não ser que uma improvável
tragédia acontecesse.
Se o lançamento tivesse sido adiado, a União Soviética
ainda poderia ter esperanças de clamar vitória. Três
dias antes, sua Lunik 15 partira, com a missão de trazer amostras
lunares de volta à Terra.
Mais alguns dias, no entanto, e todas as dúvidas sobre quem vencera
a corrida espacial estariam dissipadas de maneira emblemática. Em
21 de julho, enquanto Neil Armstrong e Edwin Aldrin descansavam a bordo
do módulo lunar, estacionado no mare Tranquillitatis (mar da Tranquilidade),
o Lunik 9 se espatifava no meio do mare Crisium (Mar das Crises).
Os prognósticos sobre o resultado da corrida haviam sido sempre favoráveis
aos soviéticos desde que, em 4 de outubro de 1957, seu Sputnik 1
se tornara o primeiro satélite artificial da Terra.
A engenhoca era coisa pequena: uma esfera metálica de 5,2 kg com
um transmissor de rádio e um termômetro alimentados por pilhas
químicas. Mas o seu bip, bip, bip do espaço incomodou
os norte-americanos quase tanto quanto um ataque militar.
O senso de humilhação nacional seria reforçado com
diversos outros golpes: Lunik 1, primeira espaçonave a passar perto
da Lua; Yuri Gagarin, o primeiro ser humano em órbita terrestre;
Valentina Chereshkova, a primeira mulher; Vostoks 3 e 4, o primeiro vôo
espacial em conjunto; Antonin Leonov, o primeiro passeio de cosmonauta fora
da cápsula.
Enquanto isso, os norte-americanos testemunhavam sucessivos fiascos de foguetes
que não decolavam ou explodiam no ar, ou comemoravam os feitos de
seus heróis apesar do amargor do atraso.
Sabe-se, agora, que o currículo dos soviéticos não
era tão perfeito quanto parecia. Seus fracassos eram escondidos e
os êxitos muito turbinados pela propaganda.
Desde o início, a capacidade industrial, financeira e tecnológica
dos EUA era superior.
Faltava vontade política. John Kennedy a forneceu. Nós
escolhemos ir à Lua nesta década... não por ser fácil,
mas porque é difícil, repetia ele em discursos.
Foi a determinação de Kennedy e seu sucessor, Lyndon Johnson,
que assegurou para o programa espacial 5% do Orçamento do governo
federal na década de 60 e viabilizou o resultado favorável.
Cada minuto que Armstrong e Aldrin caminharam na Lua custou US$ 853 milhões.
O programa Apollo gastou US$ 128 bilhões no total, equivalentes a
18,6% do PIB brasileiro deste ano, 25% mais que o Orçamento federal
do Brasil para 1999.
Os norte-americanos parecem ter achado que valeu a pena. Embora o entusiasmo
tenha passado, pesquisa de opinião pública realizada há
dois meses mostra que ainda existe sólido suporte de dois terços
dos eleitores a investimentos na exploração espacial.
Mas com destino a onde? Marte tem excitado a imaginação coletiva
do país desde que o Pathfinder mandou suas imagens daquele planeta
em 4 de julho de 1997.
No entanto, o custo de um programa Apollo para Marte é calculado
em até três vezes mais do que o da Lua há 30 anos. Isso,
apesar dos enormes avanços tecnológicos destas décadas.
Por exemplo, o computador de bordo da Apollo 11 tinha uma memória
ROM equivalente à um vigésimo de um disquete atual. E a memória
RAM de um computador pessoal médio de hoje é 8.000 maior do
que a do equipamento da Apollo.
Os norte-americanos não têm mais líderes que os conclamem
a fazer o que é difícil. Por isso, talvez optem, desta vez
também no espaço, pelo que é mais fácil.
O mais fácil é a Lua. Ainda mais se, no próximo dia
31, quando se chocar intencionalmente contra uma cratera do satélite,
a nave Lunar Explorer obtiver a prova definitiva de que existe água
na Lua.
Se houver, então também há hidrogênio e, portanto,
combustível para foguetes. A Lua poderá se tornar uma estação
espacial com recursos próprios para o homem se lançar ao infinito.
Há muitos planos nesse sentido e até investidores privados
interessados neles.
Se estiverem certos, a Lua poderá voltar a ser notícia em
breve. |