São Paulo, Sexta-feira, 16 de Julho de 1999



Nave tinha de ser leve e resistente


Cientistas de Adolf Hitler ajudaram os Estados Unidos
a superar a barreira das viagens à Lua

RICARDO BONALUME NETO

especial para a Folha

O pouso na Lua em 1969 só foi possível porque o presidente americano John Kennedy havia injetado verba e pressa no programa espacial dos EUA, como resultado direto de os rivais soviéticos terem colocado o primeiro homem em órbita da Terra em 1961.
Mas uma decisão de 1945 foi também vital: a importação de foguetes e de especialistas alemães, notadamente Wernher von Braun (1912-1977) e Walter Dornberger (1895-1980).
Von Braun e sua equipe criaram o primeiro foguete balístico da história utilizado em uma guerra, o V-2, usado para bombardear Londres no final da Segunda Guerra. Parte dos técnicos alemães foi parar na URSS, mas os principais foram para os EUA.
Von Braun dirigiu por dez anos o programa do míssil Redstone. Depois foi para o Centro Espacial George C. Marshall, em Huntsville, Alabama, onde seria desenvolvido o enorme foguete que levou as naves Apollo até a Lua, o Saturn 5. Com a nave na ponta, o conjunto Saturn 5/Apollo chegava a 111 metros de altura.
O desafio tecnológico era conseguir um foguete poderoso o suficiente para levar uma nave em uma viagem de ida e volta com três astronautas a bordo. Essa nave teria de ser o mais leve possível, mas ao mesmo tempo capaz de manter os astronautas por alguns dias _comendo, respirando, urinando, tudo isso protegidos da radiação e meteoritos do espaço.
Von Braun achava a princípio que pelo menos dez foguetes teriam de ser lançados antes de tentar colocar uma nave tripulada na ponta. Mas, para ganhar tempo, uma ousada campanha de testes do Saturn 5 foi criada, testando-se todo o conjunto de uma vez. O resultado foi que já no terceiro vôo de um foguete desses havia uma nave com astronautas a bordo, a Apollo 8, na qual uma equipe circunavegou a Lua sem pousar.
Três das principais empresas aeroespaciais estiveram envolvidas no projeto do Saturn 5. A Boeing fez o primeiro estágio; a North American Aviation fez o segundo; e o terceiro foi construído pela McDonnell Douglas.
O peso do conjunto na hora da decolagem era de exatos 2.938.312 kg. Os cinco motores do primeiro estágio consumiam querosene ao ritmo de 13.319 kg por segundo.
O programa Apollo envolveu o desenvolvimento de tecnologias novas, mas também foi um desafio administrativo. No auge do programa, ele envolvia diretamente 390 mil homens e mulheres na indústria aeroespacial americana, 33 mil nos centros da Nasa (Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço) e 10 mil nas universidades norte-americanas.
Uma missão Apollo era feita por duas naves espaciais conjugadas, uma para viajar até a Lua, e outra para descer nela. A que fazia a viagem longa tinha um módulo de comando, onde ficavam os astronautas, e um módulo de serviço, com os principais motores da nave, combustível e reservas de oxigênio. O módulo lunar era utilizado por dois dos três astronautas para ir e voltar da Lua.
Em 27 de janeiro de 1967, um incêndio causado por um curto-circuito matou três astronautas americanos, Virgil Grissom, Edward White e Roger Chaffee, em terra, a bordo da
Apollo 1.
Foi um momento crítico que poderia ter feito os americanos perderem a corrida espacial. Foi necessário reestudar a nave.
“Duas máquinas, 17 toneladas de alumínio, aço, cobre, titânio e materiais sintéticos; 33 toneladas de propelente; 4 milhões de partes, 40 milhas (66 km) de cabos elétricos, 100 mil desenhos, 26 subsistemas, 678 interruptores, 410 fusíveis”, resumiu George Low, que dirigiu o programa de construção das naves Apollo a partir de 1967.
Um subsistema é um conjunto de partes que faz uma determinada função, como o controle ambiental da nave (temperatura, oxigênio etc.).
Uma medida da sofisticação necessária é o suprimento de oxigênio. Um tanque convencional de oxigênio de um mergulhador tem ar para uma hora. Na Apollo, a mesma quantidade de oxigênio durava 15 horas, pois o gás exalado era reciclado.
As naves Apollo eram extremamente confiáveis e versáteis, apesar de darem sustos, como os alarmes que apareceram nos computadores exatamente na hora em que o módulo lunar da Apollo 11 estava pousando. Foram ignorados, e a missão foi um sucesso.
Em 1970, mesmo danificada, a Apollo 13 pôde trazer seus astronautas salvos para a Terra.

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