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Nave tinha de ser leve e resistente
Cientistas de Adolf Hitler ajudaram os Estados Unidos
a superar a barreira das viagens à Lua
RICARDO BONALUME NETO
especial para a Folha
O pouso na Lua em 1969 só foi possível porque o presidente
americano John Kennedy havia injetado verba e pressa no programa espacial
dos EUA, como resultado direto de os rivais soviéticos terem colocado
o primeiro homem em órbita da Terra em 1961.
Mas uma decisão de 1945 foi também vital: a importação
de foguetes e de especialistas alemães, notadamente Wernher von Braun
(1912-1977) e Walter Dornberger (1895-1980).
Von Braun e sua equipe criaram o primeiro foguete balístico da história
utilizado em uma guerra, o V-2, usado para bombardear Londres no final da
Segunda Guerra. Parte dos técnicos alemães foi parar na URSS,
mas os principais foram para os EUA.
Von Braun dirigiu por dez anos o programa do míssil Redstone. Depois
foi para o Centro Espacial George C. Marshall, em Huntsville, Alabama, onde
seria desenvolvido o enorme foguete que levou as naves Apollo até
a Lua, o Saturn 5. Com a nave na ponta, o conjunto Saturn 5/Apollo chegava
a 111 metros de altura.
O desafio tecnológico era conseguir um foguete poderoso o suficiente
para levar uma nave em uma viagem de ida e volta com três astronautas
a bordo. Essa nave teria de ser o mais leve possível, mas ao mesmo
tempo capaz de manter os astronautas por alguns dias _comendo, respirando,
urinando, tudo isso protegidos da radiação e meteoritos do
espaço.
Von Braun achava a princípio que pelo menos dez foguetes teriam de
ser lançados antes de tentar colocar uma nave tripulada na ponta.
Mas, para ganhar tempo, uma ousada campanha de testes do Saturn 5 foi criada,
testando-se todo o conjunto de uma vez. O resultado foi que já no
terceiro vôo de um foguete desses havia uma nave com astronautas a
bordo, a Apollo 8, na qual uma equipe circunavegou a Lua sem pousar.
Três das principais empresas aeroespaciais estiveram envolvidas no
projeto do Saturn 5. A Boeing fez o primeiro estágio; a North American
Aviation fez o segundo; e o terceiro foi construído pela McDonnell
Douglas.
O peso do conjunto na hora da decolagem era de exatos 2.938.312 kg. Os cinco
motores do primeiro estágio consumiam querosene ao ritmo de 13.319
kg por segundo.
O programa Apollo envolveu o desenvolvimento de tecnologias novas, mas também
foi um desafio administrativo. No auge do programa, ele envolvia diretamente
390 mil homens e mulheres na indústria aeroespacial americana, 33
mil nos centros da Nasa (Administração Nacional de Aeronáutica
e Espaço) e 10 mil nas universidades norte-americanas.
Uma missão Apollo era feita por duas naves espaciais conjugadas,
uma para viajar até a Lua, e outra para descer nela. A que fazia
a viagem longa tinha um módulo de comando, onde ficavam os astronautas,
e um módulo de serviço, com os principais motores da nave,
combustível e reservas de oxigênio. O módulo lunar era
utilizado por dois dos três astronautas para ir e voltar da Lua.
Em 27 de janeiro de 1967, um incêndio causado por um curto-circuito
matou três astronautas americanos, Virgil Grissom, Edward White e
Roger Chaffee, em terra, a bordo da
Apollo 1.
Foi um momento crítico que poderia ter feito os americanos perderem
a corrida espacial. Foi necessário reestudar a nave.
Duas máquinas, 17 toneladas de alumínio, aço,
cobre, titânio e materiais sintéticos; 33 toneladas de propelente;
4 milhões de partes, 40 milhas (66 km) de cabos elétricos,
100 mil desenhos, 26 subsistemas, 678 interruptores, 410 fusíveis,
resumiu George Low, que dirigiu o programa de construção das
naves Apollo a partir de 1967.
Um subsistema é um conjunto de partes que faz uma determinada função,
como o controle ambiental da nave (temperatura, oxigênio etc.).
Uma medida da sofisticação necessária é o suprimento
de oxigênio. Um tanque convencional de oxigênio de um mergulhador
tem ar para uma hora. Na Apollo, a mesma quantidade de oxigênio durava
15 horas, pois o gás exalado era reciclado.
As naves Apollo eram extremamente confiáveis e versáteis,
apesar de darem sustos, como os alarmes que apareceram nos computadores
exatamente na hora em que o módulo lunar da Apollo 11 estava pousando.
Foram ignorados, e a missão foi um sucesso.
Em 1970, mesmo danificada, a Apollo 13 pôde trazer seus astronautas
salvos para a Terra. |