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Guerra Fria trouxe
avanços científicos
MARCELO FERRONI
da Reportagem Local
Apesar de o projeto Apollo não ter sido criado em nome da ciência,
e sim pela Guerra Fria, as seis missões à Lua fizeram com
que alguns aspectos do satélite chegassem a ser até mais conhecidos
do que os da própria Terra. É o que diz Timothy Swindle, do
Laboratório Planetário e Lunar da Universidade do Arizona,
nos EUA.
Swindle tem trabalhado com o estudo de recursos energéticos do satélite.
Com dados de sondas espaciais, ele desenvolveu um mapa da Lua com a localização
de possíveis fontes de hélio-3, uma variação
do hélio que poderia ser usada em usinas de fusão nuclear.
Em entrevista, o cientista falou sobre até que ponto o homem é
mais eficiente que sondas não-tripuladas.
Folha - O uso de sondas espaciais pode obter mais dados científicos
do que o envio do homem à Lua?
Timothy Swindle - A não ser que seja gasto muito dinheiro,
sondas não-tripuladas obtêm mais informações.
Por exemplo, pelo preço das sondas Clementine (1994) e Lunar Prospector
(1998), não seria possível mandar ao menos uma pessoa à
Lua. Mas, se há verba, é possível fazer mais coisas
com pessoas do que com robôs. Por outro lado, se você tiver
pessoas na Lua por outras razões, então é mais fácil
realizar missões com humanos do que com sondas. Durante a Apollo
15, por exemplo, os astronautas estavam dirigindo seu veículo lunar
quando um deles viu uma rocha que poderia ter sido uma das primeiras a se
formar na Lua.
Eles mudaram o rumo e a recolheram, e ela realmente era uma das rochas mais
antigas trazidas por humanos, tanto que ficou conhecida como Gênesis.
Para tanto, teriam sido necessárias inúmeras missões
robóticas para recolher aquela rocha tão preciosa, obtida
pelo astronauta em um simples piscar de olhos.
Folha - Os resultados científicos obtidos pelo projeto Apollo
poderiam ter sido apreendidos somente com sondas espaciais?
Swindle - O projeto Apollo não foi realmente um programa científico,
foi feito durante a Guerra Fria, mas as descobertas científicas foram
tremendas. Talvez tivéssemos aprendido o mesmo sobre a Lua se todo
aquele dinheiro tivesse sido gasto em naves não-tripuladas, mas não
acho que alguém teria gasto tanto em um projeto sem seres humanos.
Além disso, graças às descobertas das missões,
hoje sabemos mais sobre a história inicial e composição
da Lua do que sobre a Terra. Isso porque, em parte, a Lua é um planeta
mais simples. Também descobrimos que, se só uma nação
fez tudo isso, imagine o que um grupo faria.
Folha - Vale a pena ter uma base na Lua?
Swindle - Depende do que se espera obter com ela. Uma base de mineração
na Lua provavelmente não vale a pena. Por ora, não há
nada que possamos minerar na Lua que não tenhamos na Terra, com exceção
de hélio-3. Uma base científica com certeza seria importante
(aprendemos mais sobre a Lua estando lá do que de qualquer outra
forma), mas não tenho certeza de que sua utilidade justificasse o
custo.
Folha - O homem deveria voltar à Lua?
Swindle - Não sei de nenhum dado sobre a geologia da Lua que
precisa da presença de um astronauta para ser obtido. Mas há
coisas que só poderiam ser obtidas por humanos, como no caso de como
sobreviver na Lua. Acho que o homem deveria voltar à Lua porque o
espaço não é só a fronteira final,
como diz o seriado Jornada nas Estrelas, mas é a única
fronteira e a única forma de a civilização humana continuar
a se expandir. |