São Paulo, Sexta-feira, 16 de Julho de 1999



Guerra Fria trouxe
avanços científicos

MARCELO FERRONI

da Reportagem Local

Apesar de o projeto Apollo não ter sido criado em nome da ciência, e sim pela Guerra Fria, as seis missões à Lua fizeram com que alguns aspectos do satélite chegassem a ser até mais conhecidos do que os da própria Terra. É o que diz Timothy Swindle, do Laboratório Planetário e Lunar da Universidade do Arizona, nos EUA.
Swindle tem trabalhado com o estudo de recursos energéticos do satélite. Com dados de sondas espaciais, ele desenvolveu um mapa da Lua com a localização de possíveis fontes de hélio-3, uma variação do hélio que poderia ser usada em usinas de fusão nuclear.
Em entrevista, o cientista falou sobre até que ponto o homem é mais eficiente que sondas não-tripuladas.

Folha - O uso de sondas espaciais pode obter mais dados científicos do que o envio do homem à Lua?
Timothy Swindle - A não ser que seja gasto muito dinheiro, sondas não-tripuladas obtêm mais informações. Por exemplo, pelo preço das sondas Clementine (1994) e Lunar Prospector (1998), não seria possível mandar ao menos uma pessoa à Lua. Mas, se há verba, é possível fazer mais coisas com pessoas do que com robôs. Por outro lado, se você tiver pessoas na Lua por outras razões, então é mais fácil realizar missões com humanos do que com sondas. Durante a Apollo 15, por exemplo, os astronautas estavam dirigindo seu veículo lunar quando um deles viu uma rocha que poderia ter sido uma das primeiras a se formar na Lua.
Eles mudaram o rumo e a recolheram, e ela realmente era uma das rochas mais antigas trazidas por humanos, tanto que ficou conhecida como Gênesis. Para tanto, teriam sido necessárias inúmeras missões robóticas para recolher aquela rocha tão preciosa, obtida pelo astronauta em um simples piscar de olhos.

Folha - Os resultados científicos obtidos pelo projeto Apollo poderiam ter sido apreendidos somente com sondas espaciais?
Swindle - O projeto Apollo não foi realmente um programa científico, foi feito durante a Guerra Fria, mas as descobertas científicas foram tremendas. Talvez tivéssemos aprendido o mesmo sobre a Lua se todo aquele dinheiro tivesse sido gasto em naves não-tripuladas, mas não acho que alguém teria gasto tanto em um projeto sem seres humanos.
Além disso, graças às descobertas das missões, hoje sabemos mais sobre a história inicial e composição da Lua do que sobre a Terra. Isso porque, em parte, a Lua é um planeta mais simples. Também descobrimos que, se só uma nação fez tudo isso, imagine o que um grupo faria.

Folha - Vale a pena ter uma base na Lua?
Swindle
- Depende do que se espera obter com ela. Uma base de mineração na Lua provavelmente não vale a pena. Por ora, não há nada que possamos minerar na Lua que não tenhamos na Terra, com exceção de hélio-3. Uma base científica com certeza seria importante (aprendemos mais sobre a Lua estando lá do que de qualquer outra forma), mas não tenho certeza de que sua utilidade justificasse o custo.

Folha - O homem deveria voltar à Lua?
Swindle
- Não sei de nenhum dado sobre a geologia da Lua que precisa da presença de um astronauta para ser obtido. Mas há coisas que só poderiam ser obtidas por humanos, como no caso de como sobreviver na Lua. Acho que o homem deveria voltar à Lua porque o espaço não é só “a fronteira final”, como diz o seriado “Jornada nas Estrelas”, mas é a única fronteira e a única forma de a civilização humana continuar a se expandir.
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