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Rivalidade opõe pioneiros da Lua
Escolha de Neil Armstrong para ser o primeiro
homem a pisar na Lua deixou Aldrin ressentido
e abalou relacionamento entre astronautas
6.abr.99/Associated
Press
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Neil
Armstrong arremessa nas finais da temporada deste ano de beisebol
entre Houston Astros e Chicago Cubs |
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30.jun.99/Associated
Press |
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Edwin
Buzz Aldrin posa para foto sobre tapete intergaláctico,
na entrada de sua casa, na Califórnia (EUA) |
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da Sucursal de Brasília
O programa Apollo teve a participação direta de 376.700
funcionários da Nasa, a Agência Nacional do Ar e do Espaço
dos EUA.
Mas, para o público, só dois importavam: Neil Armstrong e
Edwin Aldrin. A relação entre esses dois homens foi complicada.
Aldrin tinha o ardente desejo de ser a primeira pessoa a pisar na Lua. Católico
fervoroso, achava que poderia inspirar centenas de milhões de pessoas
que seriam audiência cativa de quem tivesse essa primazia em julho
de 1969.
Armstrong, mais lacônico, discreto, teve a honra. Para Aldrin, o colega,
comandante da missão, decidiu em causa própria.
Diversos testemunhos independentes comprovam que a decisão foi superior,
do comando da Nasa, e teve motivos técnicos.
TROCA DE PAPÉIS
Aldrin aceitou-a, claro. Mas ficou ressentido. Trinta anos depois, no entanto,
ele é a estrela.
Nos últimos 15 dias, o segundo homem a pisar na Lua se transformou
na imagem quase exclusiva do aniversário da missão.
Armstrong está quase recluso há muito tempo. Aldrin é
o personagem das melhores fotos de divulgação da Apollo 11
feitas na superfície lunar: as que aparece descendo do módulo
Eagle, pisando no satélite e saudando a bandeira dos EUA, cenas registradas
pelo próprio Armstrong.
A presença do comandante da missão na Lua é quase nula
em registros fotográficos. Não há foto boa do momento
em que ele toca o solo lunar, apesar da cena ter sido transmitida, com má
qualidade, pela TV para todo o planeta.
Além disso, depois de ter enfrentado difíceis momentos pessoais,
inclusive grave crise de alcoolismo, Aldrin formou uma empresa que pretende
explorar o turismo espacial no futuro.
Tornou-se uma espécie de porta-bandeira da idéia de que dar
prioridade ao espaço é importante para a humanidade.
Hoje à noite, os dois estarão juntos, de novo, num jantar
em sua homenagem que a Nasa oferece em cabo Canaveral.
Michael Collins, o terceiro da Apollo 11, que ficou em órbita da
Lua à espera dos colegas, não irá interromper sua aposentadoria.
TRADIÇÃO ESPACIAL
Collins ficou ao lado de Aldrin na polêmica sobre quem deveria ser
o primeiro a sair do módulo lunar. O argumento dos dois era que,
pela tradição do programa espacial, o comandante ficava na
nave e o piloto saía: essa havia sido a regra na série Gemini.
Mas Deke Slayton, um dos eleitos do primeiro time de astronautas
(mas que nunca voou por causa de um sopro no coração), na
condição de chefe da equipe de astronautas, recomendou à
alta direção da Nasa que, na série Apollo, ocorresse
o inverso.
O motivo alegado era a configuração da nave. Para o piloto
sair antes, teria de passar por cima do comandante, cujo assento era ao
lado da escotilha. Por questão prática, Armstrong foi primeiro.
A justificativa não satisfez Aldrin. A decisão só reforçou
seu sentimento negativo por Armstrong, que já havia se expressado
em público ao menos uma vez.
Num dos testes em terra do módulo lunar, Armstrong usou sua autoridade
de comandante para não abortar a alunissagem simulada, apesar de
o computador de bordo mostrar que havia o perigo de um acidente grave.
Aldrin insistiu para Armstrong apertar o botão de aborto. O comandante
não fez nada, e a nave se espatifou na Lua. Armstrong
disse que estava colocando em prova o comando de Terra para ver se seria
percebido o problema a bordo (não foi).
Mas Aldrin ficou furioso. Deixou os testes aos gritos, e, mais tarde, no
alojamento, os dois tiveram uma discussão acirrada na constrangida
presença de Collins.
Apesar desses incidentes, Armstrong e Aldrin mantinham as aparências
e demonstravam respeito mútuo. O piloto pediu licença (concedida)
para comungar antes de descerem.
Armstrong também deixou que Aldrin falasse algumas palavras em favor
da compreensão universal quando chegaram à Lua.
Mas a única frase de Aldrin que passou à história (com
muito menos impacto do que o gigantesco salto para a humanidade
do colega) foi Magnífica desolação....
PASSADO DE GUERRA
Armstrong, que fará 69 anos no próximo dia 5, foi
um dos dois primeiros civis selecionados para o corpo de astronautas dos
EUA.
Ele havia sido piloto da Marinha na Guerra da Coréia (1950-1952).
Mas, em 1953, deixou as Forças Armadas e foi contratado como piloto
de testes da Comissão Consultora Nacional para Aviação,
agência civil do governo que precedeu a Nasa. Os colegas o tinham
como profissional sério, pessoa introspectiva, homem de coragem,
às vezes imprudente.
De volta da Lua, Armstrong cumpriu o papel de garoto-propaganda da Nasa
por dois anos. Mas, inspirado pelas lições de seu ídolo,
o pioneiro da aviação Charles Lindbergh, logo se retraiu para
uma vida distante da badalação do grande público.
Desde 1991, quando teve um ataque cardíaco, vive numa fazenda em
Lebanon, Ohio. Armstrong dá raríssimas entrevistas e recusa
convites para falar sobre os tempos de astronauta.
Aldrin, que fez 69 anos em 20 de janeiro, é veterano da Força
Aérea. Também lutou na Coréia.
Foi selecionado pela Nasa na terceira turma de astronautas (Armstrong é
da segunda) e se firmou como uma das pessoas mais importantes no processo
de aperfeiçoamento das técnicas de encontros entre astronaves
no espaço (chamados rendezvous), essenciais para o sucesso
da Apollo.
Ele escreveu três livros: um sobre o programa espacial, outro sobre
sua experiência como astronauta e o terceiro, recém-lançado,
de ficção científica.
Discute abertamente o período de seis anos em que lutou contra o
alcoolismo, creditando-o a uma crise de meia-idade provocada pela falta
de rumos profissionais após o desmantelamento do programa Apollo.
Afirma ter permanecido sóbrio a partir de 1984.
Dos 12 astronautas que foram à Lua, três morreram: Alan Shepard,
da Apollo 14, o primeiro norte-americano que foi ao espaço (em viagem
suborbital, em 1961), James Irwin, da Apollo 15, e, na semana passada, Charles
Conrad, da Apollo 12, em acidente de motocicleta.
(CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA) |