São Paulo, Sexta-feira, 16 de Julho de 1999



"O Engenheiro-chefe"


“Um intelectual e um hábil artesão. Muitas vezes, enquanto o observava trabalhando, eu me surpreendi pensando que ele parecia ser de outro planeta, uma personagem de sonho”, dizia Anatoly Abramov, um dos principais assistentes de Sergei Pavlovich Korolev (pronuncia-se Karalióv), o misterioso “pai” do programa espacial soviético.
A identidade de Korolev foi um dos mais bem guardados segredos da URSS na Guerra Fria, não sem motivo: segundo James Harford, diretor-executivo emérito do Instituto Americano de Aeronáutica e Astronáutica, “Korolev dominou todo o programa espacial soviético. Seus feitos são equiparáveis aos de dezenas de companhias, centros e cientistas da Nasa juntos”.
Fascinado por aviação desde os tempos de infância, na Ucrânia (onde nasceu, em 12 de janeiro de 1907), Korolev formou-se em Engenharia Aeronáutica no Instituto Bauman de Tecnologia Avançada, em Moscou, e passou a integrar a equipe do legendário construtor de aviões Andrey Tupolev.
Em 1931, foi co-fundador de um grupo de cientistas que se dedicava a projetar foguetes movidos a combustível líquido. Em 1933, fez o primeiro lançamento bem sucedido de um foguete, tornando-se “protegido” do general Mikhail Tukhachevsky. Em 1937, Tukhachevsky foi preso e executado por Josef Stalin, sob a acusação de ter “colaborado com o nazismo”. Em 1938, Korolev foi detido, torturado e sentenciado a dez anos de prisão no campo de Kolyma, na Sibéria, onde os presos eram obrigados a escavar ouro.
Nos anos 30, Korolev (ao centro) testa carro com turbina

Em 1939, foi transferido para uma prisão especial para onde eram encaminhados cientistas que trabalhavam em projetos do Estado. “Reabilitado” ao término da Segunda Guerra, Korolev foi enviado à Alemanha para obter informações sobre os foguetes V-2. Nos anos 50, ele criou e dirigiu o programa soviético de foguetes espaciais, mísseis balísticos e satélites.
Korolev morreu em 14 de janeiro de 1966, aos 59 anos, de tumor canceroso no cólon. Seu obituário, publicado pelo jornal “Pravda” um dia depois, foi o primeiro reconhecimento público da identidade do “engenheiro-chefe”.

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