São Paulo, Sexta-feira, 16 de Julho de 1999



FILMES, LIVROS E DISCOS

O.J. Simpson é astronauta em "Capricórnio Um"


Depois de brilhar em um dos clássicos do nascimento do cinema, “Viagem à Lua” (“Le Voyage dans la Lune”, 1903), de George Méliès, a Lua foi cenário para muitas produções, principalmente filmes B de ficção científica dos anos 50. Em meio a muitas Luas habitadas por mulheres guerreiras, ciclopes ou lagartos gigantes, surgiu em 1950 uma pérola de baixo orçamento, “Destino: Lua” (“Destination Moon”), com roteiro do consagrado escritor Robert A. Heinlein. O filme respeitou os conceitos científicos vigentes e acabou inspirando uma geração de futuros astronautas. Em 1967, quando a corrida espacial estava no auge e até México e Itália despejavam produções do gênero, Stanley Kubrick e o escritor Arthur C. Clarke injetaram questionamentos filosóficos e religiosos em “2001: Uma Odisséia no Espaço” (“2001: A Space Odissey”, 1968). Mas a chegada do homem à Lua foi um golpe mortal no cinema de ficção científica. Os bons filmes sobre o tema se resumem a dramatizações de episódios reais da corrida espacial, como “Os Eleitos” (“The Right Stuff”, 1983), de Philip Kaufman, que mostra os pilotos de aviões a jato selecionados para o projeto Mercury; “Apollo 13” (1995), de Ron Howard, no qual Tom Hanks interpreta Jim Lovell, comandante da nave que não conseguiu pousar na Lua por problemas técnicos; e “Da Terra à Lua” (“From Earth to Moon”), minissérie em 12 episódios produzida pelo mesmo Tom Hanks para a emissora de TV paga HBO. Além dos documentários, vale destacar o tom de conspiração de “Capricórnio Um” (“Capricorn One”, 1978), de Peter Hyams. No filme, um jornalista descobre que o governo americano está simulando com imagens de estúdio uma missão espacial, abortada por uma falha técnica que a Nasa não quer assumir. O filme é marcante pelo roteiro inteligente e pela presença no elenco do polêmico ex-jogador de futebol americano O.J. Simpson.

Em 1865,
o francês Jules Verne lançou o livro “Da Terra à Lua”, um romance de aventura em que três homens são lançados de um canhão gigantesco e chegam ao solo lunar. Fantasias tão delirantes reinaram nos folhetins até a metade deste século, quando, notadamente nos anos 30 e 40, nomes como Robert A. Heinlein, norte-americano, e Arthur C. Clarke, britânico, mudaram o gênero, colocando mais ciência na ficção. Autor do aclamado “Um Estranho numa Terra Estranha”, Heinlein tratou das viagens à Lua em pelo menos oito de seus livros. Clarke, escritor guiado pelo rigor científico, publicou dezenas de obras, mas ficou definitivamente ligado ao cinema com o sucesso mundial de “2001: Uma Odisséia no Espaço”. Depois de 1969, a literatura "lunar" ficou praticamente restrita ao caráter documental, mas reluz como obra literária de força “Os Eleitos”, de Tom Wolfe, sobre as pressões sofridas pelos primeiros reais candidatos a astronauta.

A música pop deu pouca atenção à conquista da Lua, tratando o satélite como um simples adereço de cenário romântico, mas há exceções, desde um delírio inspirado por viagens interplanetárias como “Across the Universe” (70), dos Beatles, a “American Tune” (73), de Paul Simon, uma reflexão contundente do efeito da conquista da Lua na sociedade. Mas os clássicos imbatíveis foram perpetrados por David Bowie e o Police. Em “Space Oddity”, single lançado no mesmo mês em que o homem pousou na Lua, Bowie criou o Major Tom, melancólico astronauta que fica em órbita até enlouquecer. Nos anos seguintes, a idéia de que os astronautas retornavam do espaço meio loucos deu a Bowie uma aura de visionário. Em “Walking on the Moon”, que o Police lançou em 1979, Sting toca apenas três notas no baixo, repetidas vezes, para criar um clima rarefeito, "sem gravidade”.

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