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Netflix vai enfrentar três gigantes antes do fim do ano

Apple, Disney e AT&T, vindos de outros setores, investem em vídeo por demanda pela promessa de crescimento

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A exemplo da Disney, maior grupo de mídia do mundo, e da AT&T, maior empresa de telecomunicações do mundo, a Apple vai à guerra contra a Netflix daqui a seis meses, no início da temporada de televisão no hemisfério norte.

O serviço de streaming Apple TV+, principal anúncio desta segunda (25) no Teatro Steve Jobs, marca a maior mudança de rota na empresa desde o iPhone, criado em 2007.

Tim Cook confirmou que o aplicativo será oferecido não só nos aparelhos da Apple, no sistema operacional iOS, mas em smart TVs de outros fabricantes, em outros sistemas.

A Apple quer agora concorrer em conteúdo com as outras gigantes que descobriram, talvez tarde demais, que alimentaram a Netflix de conteúdo até o limite em que esta ameaça se estabelecer como monopólio global.

A Apple é uma das quatro grandes de tecnologia agrupadas como Gafa, incluindo ainda Google, Amazon e Facebook. Foi por dois anos a maior empresa em capitalização de mercado dos Estados Unidos, mas perdeu a posição em janeiro para a Amazon.

Seu domínio sobre aparelhos, capitaneado pelo iPhone, mostrou sinais de perda de potência também na virada do ano, com as vendas do smartphone desacelerando.

Antes mesmo dos alertas recentes, a Apple já havia acordado para a urgência de entrar em conteúdo, daí ter separado US$ 1 bilhão para gastar em produções originais ao longo do ano passado, resultando nas estrelas de Hollywood que posaram com Cook.

Talvez seja tarde demais, como se ouve há meses sobre os projetos da Disney e da AT&T e agora também da Apple, mas os analistas do setor se dividem entre duas escolas de pensamento.

A primeira é que a Netflix se tornou tão dominante, não só no mercado americano, mas global, que não terá concorrentes. Os que entrarem a partir de agora precisariam oferecer serviços ligeiramente diversos e mais modestos, como a Amazon, que vem correndo atrás da Netflix há três anos, desde que passou a oferecer o Prime Video como aplicativo independente.

A segunda visão é que a Netflix mostrou o caminho e, na verdade, tornou mais fácil para os novos atores se estabelecerem em vídeo por demanda.

Valeria para Disney e AT&T, mas também para Globo Play e o BritBox recém-anunciado por BBC e ITV no Reino Unido, ou seja, plataformas de âmbito nacional ou regional. Por anos e até recentemente, ainda se especulava se a Apple não compraria a Netflix.

Foi o conselho interessado que o banco JP Morgan fez em relatório que tornou público em fevereiro, afirmando que seria a melhor alternativa para Cook, que tem nos cofres da Apple uma reserva de US$ 250 bilhões.

Seria parte da corrida de aquisições e fusões por que passam os setores de telecomunicações e mídia nos Estados Unidos, do qual as mesmas Disney, que comprou o estúdio Fox, e AT&T, que comprou todo o grupo Warner, são o melhor exemplo.

A consolidação nos dois casos, como seria também no da Apple se Cook resolver seguir a sugestão de comprar a Netflix, tem como propósito imediato acrescentar perspectiva de expansão, cada vez menor em seus setores de origem.

Mas a Netflix, pelos cálculos do JP Morgan, custaria hoje pelo menos US$ 189 bilhões à Apple, que de qualquer maneira já estava com seu projeto próprio em andamento.

A vantagem flagrante da Apple em vídeo por demanda com assinatura, SVOD na sigla em inglês, é que ela tem sua base de iPhone, de 1,4 bilhão de aparelhos ativos, para buscar assinantes —além dos US$ 250 bilhões para gastar com conteúdo, se Cook se decidir por concorrer, de fato, com a Netflix.

Os três novos atores, Disney, AT&T e Apple, vão se confrontar em setembro com estratégias diversas, em parte porque chegam buscando também preservar seu domínio nos setores de origem.

A Apple, com oferta limitada de conteúdo no TV+ e o aplicativo Channels, que estreia já em maio, reproduz o modelo da Amazon, que também aposta em pouca quantidade, com mais qualidade, e no seu próprio Channels.

O Disney+ deve enfrentar mais diretamente a Netflix, com modelo semelhante e baseado no americano Hulu, que agora controla. A AT&T ainda está por se definir publicamente, mas deve seguir oferecendo conteúdos também por outras plataformas, caso da HBO, que adquiriu junto com a Warner.

O que começa a ficar claro é que as tentativas de outros dois membros do Gafa, Google e Facebook, para entrar no setor enfrentam obstáculos, com noticiário já apontando freio no comissionamento de produções hollywoodianas para os respectivos serviços, Live e YouTube.

Por outro lado, com as três gigantes se somando a Netflix e Amazon e às campeãs nacionais, como Globo Play, BritBox e a alemã Maxdome, cresce o risco de saturação —que se projeta para o momento em que o consumidor gastar mais com vídeo por demanda do que gastava com TV paga.

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