Grupo Rumo continua inquieto após 27 anos

Separados desde 1992, integrantes lançam o ótimo álbum 'Universo' e fazem curta temporada de shows, já esgotada

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Ensaio do Grupo Rumo, que lança álbum inédito e faz show em SP
Da esq. para a dir., Hélio Ziskind, Geraldo Leite, Pedro Mourão, Paulo Tatit, Ná Ozetti, Luiz Tatit, Zécarlos Ribeiro, Gal Oppido e Akira Ueno  - Gal Oppido/Divulgação
São Paulo

O Grupo Rumo era algo inusitado no início dos anos 1980. Dez integrantes, carreira independente e uma mistura de sons brasileiros gerando algo novo, mas com um pé em antiguidades da MPB como Sinhô e Noel Rosa.

E a banda paulistana volta agora com um álbum de inéditas, “Universo”, e a mesma inquietação musical. Desde seu disco anterior, de 1992, o grupo esteve separado, com duas brevíssimas reuniões para shows, em 2004 e 2010.

A audição de “Universo” faz parecer que o novo trabalho é uma continuação natural dos outros álbuns. Apesar de alinhado com a chamada vanguarda paulista, o Rumo foi tão diferente de tudo que seus discos soam atemporais, nada datados. É um som que não envelheceu.

Essa impressão é defendida pela cantoraOzzetti, voz marcante no grupo. 

“Todo mundo estava preocupado se daria certo voltar a tocar junto. Foi só começar o trabalho que veio essa sensação de que esse tempo não tinha passado. Como se essa janela de tempo tivesse se encurtado.”

A volta do Rumo com material inédito começou a surgir em 2017, com um convite do produtor Marcio Arantes. “Ele não é do grupo, ele é de outra geração, tem idade para ser filho de qualquer um de nós. O pessoal estranhou a proposta, mas então o Sesc comprou a ideia”, conta Ná.

Então voltaram para o estúdio Ná, Luiz Tatit, Hélio Ziskind, Geraldo Leite, Akira Ueno, Paulo Tatit, Pedro Mourão, Gal Oppido e Zécarlos Ribeiro. Da formação “clássica”, falta apenas Ciça Tuccori, que morreu em 2003.

O novo disco chega praticamente junto com o documentário “Rumo”, de Flávio Frederico e Mariana Pamplona, que conta a história do grupo sobrepondo recursos de animação sobre depoimentos dos integrantes. Ná admite que o filme deu um gás a mais na volta, mas os lançamentos quase simultâneos foram coincidência.

“Cinema leva muito mais tempo, o filme começou um ou dois anos antes do disco, e o Marcio nem estava a par, só soube bem depois. Foi bom ver o documentário, enxergar de fora a nossa história. A gente nunca teve noção do que o Rumo significou para as pessoas.”

“Universo” tem a cara da banda, marcada por letras de poesia intensa, sofisticada mas com humor, e pela mistura de gêneros. “Uma característica da banda é que cada um traz sua própria bagagem musical”, diz Ná. “Todos opinam, mesmo em músicas nas quais a pessoa não vai cantar ou tocar. Todo mundo coloca a mão.”

O disco traz os tradicionais resgates de MPB, fechando com um samba, “A Maldade do Tempo”, e tem baladas como “Senha”. Mas, um pouco diferente do Rumo do século passado, apresenta canções com pegada pop, mais acessíveis, caso de “Quando Abri” e “História da História”.

Ná credita isso a Marcio Arantes, que contribuiu com os arranjos. “É uma condição de trabalho num grupo como esse estar muito aberto às interferências dos outros. Quando as canções chegam cruas, só com violão e canto, aí tem o trabalho coletivo de sentir o que essas canções pedem e o que elas oferecem.”

O grupo lança o disco em São Paulo, no Sesc 24 de Maio, de quinta (25) a domingo (28), com ingressos esgotados. Nos shows, deve tocar “Universo” e algumas canções marcantes do repertório antigo, 
como “Ladeira da Memória” e “Carnaval do Geraldo”.

Além desses shows, seria viável agora uma atividade mais intensa do Rumo? Ná não enxerga uma volta definitiva. “Acho difícil, Estamos em outro momento. Hoje é bem mais complicado, por causa das agendas.”

A cantora relembra a separação do grupo, há 27 anos. “Já era uma fase de todo mundo ter filhos. É diferente de quando você é jovem e está aberto às coisas. A gente nunca dependeu do dinheiro do Rumo para sobreviver, era puro diletantismo, que é até nome de um disco nosso”, brinca.

Sucesso de crítica e seguido como uma banda cult, o Rumo fazia muitos shows, mas nem sempre cobria os gastos de produção. “Nunca ganhamos dinheiro com o Rumo. Mas continuamos amigos e colaborando uns nos discos dos outros. Temos uma relação de família”, afirma Ná.

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