Tédio no confinamento consolida reinado dos serviços de streaming

Número de assinantes de TV a cabo continua em queda no país, mas em ritmo mais lento

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São Paulo

Mesmo com as pessoas passando mais tempo dentro de casa e consumindo mais entretenimento, a quantidade de clientes da televisão por assinatura continua em queda no Brasil.

O auge das assinaturas foi em 2014, quando 20 milhões de brasileiros pagavam pelo serviço. Em maio deste ano, eram 15,2 milhões de assinantes, segundo dados mais recentes da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).

O que a pandemia provocou foi uma redução da velocidade de cancelamento de contratos. Se em 2019, entre março e maio, 411,6 mil pessoas deixaram de assinar o serviço, entre os mesmos meses de 2020 a redução foi de 130,7 mil clientes.

Em contraste, a Netflix aumentou em 27% sua base de assinantes no mundo entre o segundo trimestre de 2019 e o deste ano, chegando a mais de 192 milhões de clientes. A empresa não divulga o número de assinantes no país.

O domínio do streaming se reflete no lazer dos paulistanos nesta pandemia, como mostra pesquisa Datafolha realizada no começo do mês. Mais da metade dos moradores da cidade (59%) assinam aplicativos de séries e 46% têm TV por assinatura em casa.

A margem é ainda maior, embora em patamar mais baixo, entre os paulistanos das classes D e E —21% contra 5%—, o que pode ser explicado pela diferença de preço entre as plataformas.

Os aplicativos de streaming chegaram ao Brasil com valores muito mais baixos do que os praticados pelas TVs por assinatura. O plano mais básico do Amazon Prime Video, por exemplo, custa R$ 9,90, enquanto os planos iniciais das principais operadoras de TV por assinatura do mercado custam a partir de R$ 94,90.

Juliana Freitas, 24, que trabalha com gestão de projetos, chegou a cotar planos de televisão para o apartamento em que vive com o namorado, em São Paulo.

Para eles, que não têm nem canais de televisão aberta em casa, a assinatura seria interessante para ter acesso a conteúdo jornalístico e de variedades. Mas ela pagaria quase o dobro do que gasta atualmente com sete serviços de streaming, cujo valor divide entre familiares.

Segundo as operadoras de TV por assinatura, quem tem o serviço passou a utilizá-lo com mais frequência durante a pandemia, com mais horas vistas. Na Claro, esse aumento foi de 40%, de acordo com André Guerreiro, diretor de inteligência de mercado da empresa.

Em meados de março, as operadoras decidiram abrir o sinal de alguns canais para todos os seus assinantes. Para Gustavo Fonseca, vice-presidente de marketing e estratégia da Sky, isso fez com que os clientes tivessem contato com mais conteúdo oferecido pelas empresas e valorizassem mais suas assinaturas, reduzindo os cancelamentos.

As operadoras estão cientes do apelo das plataformas de streaming e, se não podem vencê-las, tentam se juntar a elas. Algumas estão incorporando a assinatura desses serviços aos seus pacotes, para que os consumidores possam acessar todo o conteúdo a partir de um só lugar e também pagar uma fatura única.

A Claro oferece pacotes com Netflix, enquanto a Vivo comercializa também o Prime Video, da Amazon, e o Globoplay, entre outros.

“O cliente é que vai decidir como consumir cada um desses produtos, e queremos que ele reconheça a Vivo como um lugar onde pode encontrar todos esses serviços”, diz Alfredo Clemente, diretor de marketing da empresa.

As operadoras de TV por assinatura também tentam atrair o consumidor acostumado com os aplicativos de séries e filmes ao oferecer seu próprio conteúdo em streaming.

O grupo Globo fez isso ao criar o Globoplay, que reúne conteúdo dos canais abertos e fechados da emissora, além de produções originais.

Segundo Erick Brêtas, diretor de produtos e serviços digitais da emissora, a plataforma teve um aumento de 242% nas horas consumidas entre março e junho deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado.

“Se o mercado quer consumir entretenimento dessa maneira, você tem que oferecer”, afirma Alberto Pecegueiro, que é ex-diretor da Globosat e atual consultor do grupo Globo.

O consumidor está se habituando a assinar várias plataformas para ter acesso ao conteúdo exclusivo de cada uma, e esse comportamento irá acabar forçando as operadoras a mudarem os seus produtos e estratégias de venda, de acordo com Pecegueiro.

A chegada de mais serviços de streaming ao Brasil, como a plataforma da Disney, com lançamento previsto para novembro, deve acirrar a disputa por novos assinantes. E as operadoras esperam que o excesso de oferta resulte em um desejo do consumidor de ter um serviço único que organize todos os outros.

“O consumidor vai ter que pagar individualmente por cada pacote, e a conta pode ficar mais cara do que ter a TV paga”, afirma o consultor.

Além dos serviços de streaming, outro desafio para o futuro da TV por assinatura no país está na pirataria do sinal das operadoras, que pode aumentar com a crise econômica causada pela pandemia.

A ABTA (Associação Brasileira de TV por Assinatura) estima que 4,5 milhões de casas tinham sinal pirata em 2018, no dado mais recente.

O acesso clandestino ao conteúdo da televisão acontece por meio de aparelhos que captam o sinal da programação paga e também por aplicativos de celular, o que facilitou ainda mais a prática.

O uso é tão disseminado no país que muitas pessoas compram os aparelhos piratas sem perceber que estão obtendo o sinal de forma ilícita. “A nossa experiência mostra que muitos usuários não se dão conta de que estão com serviço ilegal”, diz Fonseca, da Sky.

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