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Nélida Piñon é velada com cinzas de seu cachorro em cerimônia realizada na ABL

Primeira mulher a presidir a instituição literária, a escritora morreu em Lisboa e será sepultada no Rio de Janeiro

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Rio de Janeiro

Amigos e admiradores se despediram, na manhã desta quinta-feira, da escritora Nélida Piñon. Ela morreu no último dia 17, aos 85 anos, vítima de complicações de uma cirurgia na vesícula.

A escritora Nélida Piñon - Philippe Desmazes/AFP

O velório que ocorre no salão do Petit Trianon da Academia Brasileira de Letras, no centro do Rio de Janeiro, começou pontualmente às dez da manhã. Junto com o corpo da escritora estavam as cinzas de Gravetinho, um pinscher de 11 anos que sucumbiu à pneumonia em 2018.

As cinzas do cachorro estavam guardadas no escritório da ex-presidente da ABL e serão enterradas ao lado de Piñon, no mausoléu da Academia, no Cemitério São João Batista, em Botafogo. Será o primeiro cachorro a ter tamanha deferência.

Corpo da escritora Nélida Piñon é velado na ABL no centro do Rio
Corpo da escritora Nélida Piñon é velado na ABL no centro do Rio de Janeiro - Aléxia Souza/Folhapress

Nélida Piñon morreu no dia 17 de dezembro em Lisboa, onde estava internada. O traslado para o Brasil durou 11 dias. O corpo chegou ao Rio de Janeiro nesta quarta-feira.

Um dos nomes mais conhecidos da literatura brasileira em todo o mundo, a escritora foi a quinta ocupante da cadeira de número 30 da Academia Brasileira de Letras, eleita em 27 de julho de 1989, na sucessão de Aurélio Buarque de Holanda, e foi recebida em 3 de maio de 1990 pelo acadêmico Lêdo Ivo.

Em 1997, ela se tornou a primeira mulher a presidir a Academia no ano do centenário da instituição. No dia 2 de março, a ABL realizará a cerimônia Sessão da Saudade em homenagem à autora em seu salão principal.

O jornalista, escritor e atual presidente da instituição, Merval Pereira, destacou que, com seu legado, a colega lutava pela humanidade e por seu país. "Não apenas uma escritora, mas uma grande brasileira. Não lutava apenas pela literatura, mas também por valores humanísticos muito grandes. E as obras dela refletem isso."

Também imortal da Academia, a jornalista Rosiska Darcy definiu Piñon como sendo um orgulho para a instituição. "É um nome exponencial da literatura brasileira, e um orgulho para a academia. Hoje estou menos triste porque conseguimos trazê-la de volta, conseguimos velar ela nesta casa que era um de seus grandes amores. E vamos levá-la para o mausoléu, onde ela deve descansar entre todos aqueles que a admiraram e a amaram.O lugar dela é no Brasil e o país deve reverenciá-la."

Outros imortais como Antonio Carlos Secchin, Arnaldo Niskier, Carlos Nejar, Evanildo Bechara e Paulo Niemeyer também estiveram presentes na cerimônia de despedida.

Publicada em mais de 20 países, com traduções para inglês, espanhol, galego, francês, italiano, russo e chinês, a escritora assinou nove romances, três livros de contos e coletâneas de memórias, fragmentos e ensaios. Neste ano, doou parte de seu acervo pessoal ao Instituto Cervantes do Rio de Janeiro, formando a maior biblioteca de obras galegas do Brasil.

Seu último romance, "Um Dia Chegarei a Sagres", foi lançado em 2020, fruto de uma longa pesquisa em Portugal, onde passava a maior parte de seu tempo.

Segundo Merval Pereira, Piñon estava animada com os compromissos que tinha a cumprir em Portugal e na Espanha, antes de ser internada. Questionado pela reportagem pela demora do translado, o acadêmico disse que o feriado de Natal atrasou os trâmites. "Fizemos o máximo, a embaixada ajudou, mas não deu para adiantar a vinda do corpo para o Brasil."

Filha única, sem filhos e sem parentes próximos, Piñon fez constar em seu testamento um imóvel para suas duas cachorras, Suzy e Pilar, após a morte de Gravetinho.

A dupla será a dona dos quatro apartamentos da autora localizados em um edifício de luxo à beira da lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul carioca.

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