"Quarto de Despejo" (1960), de Carolina Maria de Jesus, foi o livro com maior número de indicações no projeto 200 anos, 200 livros.
Lançada pela Folha, pela Associação Portugal Brasil 200 anos (APBRA) e pelo Projeto República (núcleo de pesquisa da UFMG) em maio deste ano, a iniciativa listou duas centenas de obras importantes para entender o Brasil a partir das indicações de 169 intelectuais da língua portuguesa. O diário de Carolina foi recomendado por 29 desses conselheiros.
Para discutir a relevância da autora, o Centro de Pesquisa e Formação (CPF) do Sesc São Paulo realiza nesta quarta (26), às 16h, mais um debate do ciclo Perguntas sobre o Brasil. A mesa, intitulada O que Carolina de Jesus Tem a nos Ensinar?, é realizada em parceria com a própria Folha e com a APBRA.
O debate será transmitido online e contará com a participação dos escritores Cidinha da Silva, autora de "Um Exu em Nova York" (2019) e "O Mar de Manu" (2021), e Tom Farias, autor de "Carolina, uma Biografia" (2018), roteirista e colunista da Folha.
A mediação ficará a cargo de André Dias, assistente na gerência de ação cultural do Sesc. A apresentação será feita por Patrícia Dini, técnica do CPF.
"Carolina, com seus escritos –grande parte inéditos em livros– há de nos ensinar sobre um Brasil em que ainda não caiu a ficha da herança colonial, que divide os brasileiros em duas categorias, os privilegiados e os despossuídos", diz Farias.
Mulher negra e favelada, Carolina nasceu em 1914 em Sacramento, no interior de Minas Gerais. Mudou-se para São Paulo em 1947, onde residiu na favela do Canindé, zona norte da cidade.
Lá, começou a escrever um diário. Os escritos foram reunidos e publicados em 1960 em "Quarto de Despejo", livro posteriormente traduzido para 13 idiomas e vendido em mais de 40 países.
"Carolina é um clássico dos anos 1960 e, finalmente, começa a se consolidar nesse lugar", diz Cidinha da Silva. A escritora, uma das convidadas para o projeto 200 anos, 200 livros, também recomendou a obra de Carolina entre as suas indicações.
"Trata-se de uma grande intérprete do Brasil, que tinha o sonho de escrever, que tinha um projeto literário e lutou por ele. Para mim, este é seu maior legado", ela completa.
Esse sonho, como ressalta Farias, não ficou limitado à não-ficção. "O grande desejo de Carolina era publicar sua obra ficcional, supostamente desprezada por Audálio Dantas, seu descobridor na favela do Canindé", ele conta.
"Hoje, diante de tantas avaliações sobre a importância de Carolina para a literatura brasileira, não publicar sua obra de ficção representa deixar de valorizar o que ela mais desejou durante os anos em que escreveu seus textos: tornar-se uma romancista", afirma Farias.
Além de "Quarto de Despejo", Carolina aparece ainda no projeto 200 anos, 200 livros com "Casa de Alvenaria" (1961) e "Diário de Bitita" (1981).
Segundo Cidinha, "Carolina nos convoca a escutar e a ler o Brasil desde dentro, desde a voz das pessoas negras economicamente depauperadas, mas que mantém a chama do sonho. Portanto, preservam sua humanidade a despeito de tudo e de todos".
A quarta mesa do ciclo Perguntas sobre o Brasil será transmitida nos canais do Sesc SP, do Diário de Coimbra e da APBRA no Youtube.
O ciclo Perguntas sobre o Brasil ocorre até maio de 2023, com discussões a cada duas semanas. Próximas edições abordarão lusofonia, feminismo e autoritarismo, entre outros temas. Confira a programação completa.
Veja também as edições anteriores do ciclo. Além da mesa que introduziu a proposta, foram realizadas conversas sobre os erros e acertos no campo da educação e acerca da literatura indígena.
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