Volatilidade no mercado também suspende negociações do Tesouro Direto

Oscilação de preços impediu que investidores alocassem ou resgatassem recursos

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São Paulo

A volatilidade que atingiu o mercado financeiro também provocou a suspensão de negociações do Tesouro Direto ao longo desta semana.

As suspensões nas negociações dos títulos públicos aconteceram na quarta (11) e na quinta-feira (12), por exemplo, dias em que a Bolsa brasileira apresentou quedas de 7,6% e 14,8%, respectivamente. Na semana, o Ibovespa teve quatro circuit breakers –quando as negociações de ações são suspensas.

Para o diretor comercial da Easynvest, Fabio Macedo, a mudança rápida de preços em todos os ativos e as incertezas acerca do coronavírus têm trazido muita turbulência para o mercado e atingem também outros tipos de investimento.

“Estamos vivendo dias de irracionalidade. E o que vemos agora é um efeito manada que acontece principalmente na Bolsa, mas que, por conta das fortes oscilações, também acaba respingando em outras classes de ativos”, afirma Macedo.

O analista de sistemas Andre Luiz Souto, que investe em títulos públicos no site Tesouro Direto, posa para foto em sua casa.
Tesouro suspende negociações ao longo da semana ante alta volatilidade do mercado - Rafael Hupsel - 13.nov.2010/Folhapress

Segundo o executivo, foi o estresse causado na curva de juros nos últimos dias que acabou trazendo desvalorização aos títulos prefixados e indexados à inflação.

“É difícil ter essa estatística de quem entrou ou saiu do Tesouro Direto, mas muitas pessoas acabaram perdendo dinheiro no intraday [dentro de uma mesma sessão regular]. Isso acontece, mas tem muita gente que assusta”, disse o diretor da Easynvest, afirmando que os resgates também puderam ser vistos em outros ativos de renda fixa, como debêntures, e mesmo fundos de investimentos.

A suspensão da negociação em dias de alta volatilidade, no entanto, é normal também para os títulos públicos. Segundo o Tesouro Nacional, o procedimento é adotado em momentos de uma oscilação mais forte nos preços e acontece para garantir que as transações sejam sempre realizadas a taxas justas.

“Nesse ambiente, onde negociam grandes investidores, como bancos, fundos e corretoras, as transações com títulos públicos ocorrem ininterruptamente das 9h às 18h, incluindo after-market [transações efetivadas após o fechamento da sessão]. Essas negociações fazem com que os preços e, consequentemente, as taxas dos títulos sofram alterações ao longo do dia”, afirmou o Tesouro em nota.

As taxas, segundo o órgão, são atualizadas três vezes ao dia –atualização considerada suficiente para permitir o funcionamento estável do programa a preços condizentes aos de mercado, em dias sem excesso de volatilidade.

“Quando há aumentos ou quedas bruscas nos preços dos títulos públicos, o Tesouro Direto suspende temporariamente as vendas e compras para evitar que o investidor feche uma transação a um preço que pode ficar rapidamente defasado. Uma vez restabelecida a normalidade, as operações são retomadas com preços alinhados aos preços do mercado”, disse o órgão.

Nesta sexta-feira (13), o Tesouro Nacional também anunciou o cancelamento de leilões de títulos públicos previstos para a próxima terça-feira (17) e quinta-feira (19). Foram cancelados um leilão NTN-B e os leilões de LTN e NTN-F.

"O Tesouro Nacional seguirá acompanhando a evolução das condições de mercado, para garantir o bom funcionamento do mercado de títulos públicos e de outros mercados correlatos", afirmou o Tesouro em comunicado.

Mantenha a calma

O processo, ainda que normal, causou revolta em investidores. Alguns chegaram até a publicar em suas redes sociais o descontentamento na falta de sucesso ao tentar acessar o Tesouro Direto para sacar seus recursos.

Segundo Macedo, da Easynvest, ainda que as suspensões do Tesouro Direto tenham a proteção do investidor como objetivo, esses estresses na hora do saque podem acontecer.

“Mas pode servir como um momento importante para o investidor que busca esses recursos porque acabou perdendo dinheiro na Bolsa de Valores. Se é uma reserva de emergência, talvez não seja a melhor decisão”, afirma o executivo.

Mas caso o dinheiro sirva apenas para uma realocação de recursos, Macedo diz que o investidor precisa avaliar as oportunidades do mercado.

“Tem que manter a calma e ter disciplina para montar uma carteira diversificada. Os juros estão na mínima histórica e objetivos de médio e longo prazo podem ser boas aplicações”, afirma.

O apelo dos investidores, por outro lado, surtiu efeito.

O Tesouro Nacional afirmou, em nota, que a partir de sexta-feira (13) os investidores poderão aplicar e resgatar normalmente os títulos atrelados à Selic, a taxa básica de juros, mesmo nos momentos em que os demais títulos do programa estiverem suspensos para reprecificação.

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