Descrição de chapéu Folha ESG sustentabilidade

Brasil pode receber R$ 6,5 tri em investimentos verdes, diz diretor do BC

Para Damaso, transição para uma economia com menor consumo de carbono deve ser destaque

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São Paulo

Os investimentos no Brasil voltados para negócios verdes poderão movimentar mais de US$ 1,3 trilhão (R$ 6,5 trilhões) até 2030, afirmou o diretor de regulação do Banco Central, Otavio Damaso recentemente em painel do congresso de tecnologia bancária CIAB, promovido pela Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) na última semana.

O valor foi estimado em um estudo da IFC (International Finance Corporation), que apontou que os negócios verdes movimentarão mais de US$ 23 trilhões (R$ 115,4 trilhões) globalmente até 2030 –sendo US$ 2,6 trilhões (R$ 13,1 trilhões) na América Latina e, desses, US$ 1,3 trilhão (R$ 6,5 trilhões) só no Brasil.

“Conseguimos identificar inúmeras oportunidades para realizar novos negócios que combinem inovação, tecnologia e sustentabilidade. Só o potencial de US$ 1,3 trilhão estimado pelo IFC já é uma enorme quantia a ser financiada no Brasil. Mas ao olharmos no aspecto geral, vejo um potencial ainda maior do que esse montante [para esse tipo de investimento]”, afirmou Damaso.

Sede do Banco Central, em Brasília
Sede do Banco Central, em Brasília - Ueslei Marcelino - 16.mai.2017/Reuters

Ainda segundo o diretor do BC, a expectativa é que um dos potenciais a serem observados nos próximos 20 ou 30 anos é o financiamento da transição para uma economia com menor consumo de carbono.

“Existem inúmeras oportunidades em cada um dos segmentos econômicos. [Tecnologia, inovação e sustentabilidade] são uma combinação muito poderosa e que pode gerar muitos negócios e oportunidades para a economia e para o sistema financeiro”, disse Damaso.

Apesar de ter ganhado força nos últimos meses, o debate sobre a adoção do ESG (ou ASG, melhores práticas ambientais, sociais e de governança) no mercado bancário já está na mesa de discussão dos agentes do sistema financeiro há alguns anos.

“Temos diversas normativas relacionadas a esse tema desde 2008 no sistema financeiro. Nos próprios bancos, as iniciativas acontecem desde a década de 90 e também vêm em uma crescente”, afirmou Annelise Vendramini, especialista em sustentabilidade e finanças sustentáveis e professora de mestrado da FGV (Fundação Getulio Vargas) que também estava presente no painel.

“A visão de que a instituição bancária precisa ter uma política socioambiental se ampliou, inclusive com a alocação de capital de acordo com o risco socioambiental”, completou.

Para os especialistas, a expectativa a partir de agora é que as instituições financeiras aumentem a inclusão do ESG em seus processos, tais como a adoção de uma análise mais social na hora da decisão de dar crédito, por exemplo, ou adotando novos processos no crédito rural que também envolvam inovações como blockchain – e que também possam ajudar a melhorar a rastreabilidade dos produtos.

Segundo Damaso, as instituições têm olhado para dois aspectos principais: o primeiro diz respeito aos riscos relacionados aos seus negócios financeiros e não financeiros e, o segundo, é em relação à realização de novos negócios.

“Do lado do regulador, nosso objetivo é alinhar esse contexto aos mandatos que temos no âmbito da regulação prudencial, de um lado tratando dos principais riscos relacionados ao tema e, por outro, incentivando as práticas de finanças sustentáveis”, afirmou o diretor do BC.

Desde o ano passado o Banco Central e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) têm se dedicado a incluir temas voltados para sustentabilidade e para as melhores práticas ambientais, sociais e de governança em suas agendas.

Em setembro do ano passado, por exemplo, o BC anunciou a entrada do tema sustentabilidade em sua agenda institucional, chamada de Agenda BC#. Além de medidas internas, a ação também inclui iniciativas voltadas para políticas de crédito, de supervisão e de regulação voltadas à sustentabilidade.

A agenda também prevê aumentar em até 20% nos limites de contratação para operações de crédito rural que reúnam características de sustentabilidade e coloca que a autarquia produzirá um relatório anual de riscos socioambientais como forma de prestação de contas.

Critérios de sustentabilidade para a seleção de empresas que gerenciam as reservas internacionais e para a seleção dos investimentos também foram inclusos.

Em dezembro foi a vez da CVM de anunciar sua agenda regulatória para 2021, propondo uma inclusão maior de aspectos voltados ao ESG.

Naquele mesmo mês, o órgão já havia colocado o tema em discussão em uma audiência pública voltada para revisar as regras sobre quais informações as companhias abertas devem prestar. Além do maior destaque à divulgação de fatores de riscos sociais, ambientais e climáticos, a comissão também propôs exigir um posicionamento das companhias em relação aos ODSs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) considerados relevantes no contexto de seus negócios.

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