Descrição de chapéu Financial Times Estados Unidos

A executiva da Boeing que enfrenta turbulência logo nas primeiras semanas no cargo

Provável sucessora do CEO Dave Calhoun deve lidar com as consequências do incidente em pleno voo da Alaska Airlines

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Claire Bushey
Financial Times

Stephanie Pope ainda estava em sua primeira semana como a primeira diretora de operações (COO) da Boeing quando um acidente assustador em um 737 Max levou a empresa a uma nova crise e deixou a cadeia de suprimentos e fabricação que ela supervisiona sob os holofotes.

Antes de assumir esse posto, Pope era presidente do braço de serviços da fabricante de aeronaves, a Boeing Global Services —a única divisão a entregar lucro nos últimos anos.

Ela era um rosto relativamente novo para os investidores quando a empresa anunciou sua indicação ao cargo no mês passado, o qual ocuparia a partir de 1º de janeiro.

Não apenas uma funcionária de longa data da Boeing, Pope é amplamente considerada a provável sucessora do atual CEO, Dave Calhoun, quando ele se aposentar. Se conseguir o cargo, ela será a primeira CEO mulher da Boeing.

A diretora de operações (COO) da Boeing, Stephanie Pope - Geoffroy van der Hasselt - 11.dez.2023/AFP

Ela foi encarregada de supervisionar os negócios de aviação comercial, defesa e serviços da Boeing, e garantir operações sem dificuldades na cadeia de suprimentos, controle de qualidade e fabricação.

Essas são as mesmas áreas que estão sendo agora examinadas após o reconhecimento de Calhoun de que um erro levou à queda de uma peça de fuselagem de um voo do Boeing 737 Max 9 da Alaska Airlines na semana passada, deixando um buraco na cabine e aterrorizando os passageiros.

No mês passado, Pope disse que a Boeing continuaria a melhorar o desempenho "garantindo os mais altos níveis de segurança, qualidade e transparência em tudo o que fazemos".

Isso agora parece mais difícil, já que a FAA (Administração Federal de Aviação dos EUA) investiga se o avião fabricado pela Boeing atendeu às suas próprias especificações.

Cabe ao diretor de segurança da Boeing garantir que o 737 Max 9 possa voltar aos céus. Mas impedir que essas "falhas de controle de qualidade" aconteçam novamente, seja na fabricante de aviões ou em um de seus fornecedores, será o trabalho de Pope, configurando um momento decisivo para sua carreira.

Buraco onde ficava o painel da fuselagem que explodiu para fora do 737 da Alaska Airlines na sexta passada (5)
Buraco onde ficava o painel da fuselagem que explodiu para fora do 737 da Alaska Airlines na sexta passada (5) - NTSB - 7.jan.2024/Reuters

Pope cresceu nos subúrbios de Saint Louis, no Missouri, e seu pai trabalhou por 30 anos na fabricante de aeronaves McDonnell Douglas, onde começou como mecânico. Pope disse à revista local Plano Profile em 2017 que imaginava se tornar professora um dia.

Em vez disso, ela estudou contabilidade na Southwest Missouri State University, obtendo seu MBA na Lindenwood University.

Ela ingressou na McDonnell Douglas imediatamente após a faculdade, em 1994, como analista financeira, trabalhando em contratos para o treinador T-45 e o AV-8B Harrier, de acordo com uma matéria de 2007 no St. Louis Business Journal.

Em 1997, ela se juntou à Boeing quando ela se fundiu com a empresa do Missouri.

Aos 35 anos, ela já gerenciava mais de 100 funcionários como diretora financeira. Então, em 2012, o diretor financeiro Greg Smith a convidou para a sede da Boeing para liderar as relações com investidores. Ela nunca havia desempenhado esse papel nem morado em Chicago.

"As mulheres tendem a ser, eu incluída, mais hesitantes diante de desafios ou novas oportunidades, e isso realmente se resume ao medo de fracassar", disse ela em 2017. "Eu me lembro de que geralmente quando estou mais desconfortável ou com mais medo, esses são os momentos decisivos na vida em que cresci pessoal e profissionalmente."

Ela subiu na hierarquia, tornando-se CFO da divisão de serviços e depois assumindo o mesmo cargo no braço de aviões comerciais. Na mesma entrevista de 2017, ela observou que "a cultura supera a estratégia. Você pode ter a estratégia perfeita, mas se tiver a cultura errada, nunca terá sucesso".

Ela voltou para os serviços em abril de 2022 como presidente da unidade. Essa divisão da Boeing lida com tarefas para companhias aéreas que vão desde manutenção até sistemas de treinamento de pilotos e gerenciamento da cadeia de suprimentos.

Enquanto os aviões comerciais e a defesa acumularam prejuízos em 2022 e nos primeiros três trimestres de 2023, os serviços lucraram US$ 2,7 bilhões em 2022 e US$ 2,5 bilhões nos primeiros nove meses de 2023.

Quando assumiu esse cargo, a Boeing estava sofrendo após uma série de acidentes fatais em 2018 e 2019 resultarem na proibição mundial do 737 Max 8.

A pandemia de Covid-19 a atingiu ainda mais, pois a demanda despencou para viagens aéreas e, em seguida, para jatos. À medida que a demanda retornava, sua cadeia de suprimentos enfraquecia.

"Seu histórico nos serviços fala por si só", disse Rob Stallard, analista da Vertical Research Partners. "Depois de uma longa lista de CEOs [homens] bastante arrogantes na Boeing, espero que ela traga alguma normalidade."

Pope ainda terá que lidar com a política da Boeing, pois "ela certamente enfrentará o problema de não ser uma engenheira em uma empresa onde os engenheiros historicamente dominavam", acrescentou ele.

Há ironia nessa realidade, já que os homens que comandaram a Boeing durante seus momentos mais sombrios —Dennis Muilenburg, CEO no início da crise do Max, e Phil Condit, que liderou durante um escândalo de aquisição com o Departamento de Defesa dos EUA— eram ambos engenheiros.

O histórico de Pope na área das finanças pode ser visto como uma desvantagem por críticos que acreditam que os problemas da empresa —primeiro os acidentes fatais do Max e agora essa fuselagem danificada— derivam de privilegiar o retorno aos acionistas acima dos investimentos em engenharia e manufatura.

Quando a promoção de Pope a diretora de operações foi anunciada, parecia que o maior desafio que ela enfrentaria seria reverter os programas de preço fixo deficitários na divisão de defesa e aumentar a taxa de produção das aeronaves Max, dos atuais 38 por mês para 50 até meados da década.

Esse fator é fundamental para atingir a meta da empresa de obter US$ 10 bilhões por ano em fluxo de caixa até o final de 2026.

Ainda parece que o Max será seu principal desafio. Apenas de uma maneira diferente.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.