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Estados Unidos

Nova crise com 737 Max derruba reputação da Boeing

Agora com problema de manufatura, modelo best-seller ameaça recuperação da gigante americana

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São Paulo

Maior sucesso comercial da indústria aeronáutica desde o anúncio de sua criação, em 2011, a linha 737 Max da Boeing tornou uma fonte inesgotável de problemas para a gigante norte-americana.

O novo problema com o modelo Max 9, ao que tudo indica de controle de qualidade na produção do avião, ameaça a recuperação da empresa após anos de grande turbulência.

O desprendimento do chamado plugue, uma tampa no local em que deveria haver uma porta se o avião estivesse configurado para levar mais passageiros, não é um acidente banal. Foi por pura sorte que ninguém morreu no caso ocorrido em voo da Alaska Airlines na sexta (5).

Plástico marca o local onde estava tampa de porta de avião que caiu em pleno voo da Alaska Airlines
Plástico marca o local onde estava tampa de porta de avião que caiu em pleno voo da Alaska Airlines - Mathieu Lewis-Rolland - 8.jan.2024 / Getty Images via AFP

A despressurização da cabine é brutal, empurrando eventuais vítimas para fora da aeronave —como ocorreu na explosão de uma bomba dentro de um Fokker-100 da então TAM sobre São Paulo, que matou um passageiro em 1997.

Como já indicou o NTSB (Conselho Nacional de Segurança nos Transportes, na sigla inglesa) americano, reforçado por vistorias em outros aviões, a suspeita principal é que tenham sido mal apertados e/ou insuficientes os parafusos aplicados à peça.

Do lado positivo, para a Boeing, é que parece ser um caso de fácil solução. A frota do Max 9 é pequena: são 217 aviões no mundo, 171 deles nos EUA, 144 deles divididos entre a Alaska e a United Airlines. Só nessas duas empresas, o conserto estimado em uma semana deve custar menos de R$ 100 milhões para a Boeing, uma multa de trânsito neste mercado.

Só que o nó é maior, de reputação. O erro apontado, se for só esse, é primário. E o modelo é o Max, a quarta geração da família mais bem sucedida da história da aviação comercial, que já vendeu mais de 11 mil aviões desde 1967, que ganhou uma fama terrível que une a galinha dos ovos de ouro ao patinho feio, para ficar em imagens juvenis.

O avião foi introduzido em 2017, e no ano seguinte passou por dois acidentes seguidos, que mataram 346 pessoas. O modelo acabou 20 meses no solo, até que o problema fosse diagnosticado e resolvido, e só voltou a voar em 2020.

Foi um choque: a Boeing havia redesenhado o avião de forma que seu centro de gravidade havia mudado, devido à colocação dos motores maiores mais à frente. Para compensar, um software corrigia o ângulo de voo, só que a empresa não explicitou isso em manuais de treinamento da nova aeronave.

O sistema em questão pifou nos dois acidentes, deixando pilotos sem orientação em um momento crítico do voo, a decolagem. Tudo acabou resolvido com novos treinamentos e atualizações de software, mas o estrago estava feito.

Com quase 5.000 encomendas quando começou a ser operado, o Max em suas versões 8 e 9 derrubaram a Boeing, que teve de paralisar sua produção. No processo, a empresa desistiu de comprar a divisão de aviação comercial da Embraer brasileira, caso rumoroso que ainda é objeto de litígios.

Para piorar tudo, o avião só foi liberado para voar quando a pandemia da Covid-19 começava a destroçar o mercado de viagens aéreas. A combinação levou a um tombo histórico nos mais de cem anos da Boeing.

Ele foi acentuado por outro problema de reputação, a suspensão temporária da produção do avião de grande porte 787 devido à baixa qualidade de produção. O avião havia tido problemas com suas baterias, que pegavam fogo em pleno ar, quando foi lançado, mas ao fim superou a crise.

A relativa normalização do mercado pós-Covid parecia trazer uma previsão de tempo em rota menos acidentada para a Boeing. Em 2022, a americana viu suas entregas crescerem 40%, com 480 aeronaves vendidas e outras 800, encomendadas.

Já no ano passado, segundo dados divulgados nesta terça (9), foram 528 vendas e 1.456 encomendas. Ainda estava atrás da europeia Airbus, que vendeu 720 modelos. Mas o crescimento era bem superior ao da arquirrival. A ação da Boeing vale cerca de metade do que valia antes da primeira crise do Max.

Tampa de porta de avião da Alaska Airlines que se soltou em pleno voo é encontrada em Portland, nos Estados Unidos
Tampa de porta de avião da Alaska Airlines que se soltou em pleno voo é encontrada em Portland, nos Estados Unidos - Divulgação/NTSB/Reuters

O Max 9 representa uma fatia muito pequena da carteira da Boeing, com 103 pedidos entre 4.256 encomendas da família 737 neste janeiro. Como um todo, o Max, que tem na versão 8 seu carro-chefe e tem duas outras à espera de certificação, representa 3/4 das encomendas da Boeing e 30% de seu faturamento.

O dano que fica é de conjunto. A velocidade da solução e a transparência, ambos itens em que a Boeing não se notabilizou nas crises passadas, deverá determinar o impacto final do novo problema com o Max.

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