Descrição de chapéu Governo Lula petrobras

Lula convoca Haddad para discutir futuro de Prates na Petrobras e cancela reunião

Titular da Fazenda desmarcou uma agenda que teria nesta segunda (8) em São Paulo para viajar para Brasília

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Brasília

O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) bate cabeça na definição do futuro do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. Reunião convocada para debater a crise na petroleira, na noite deste domingo (7), foi cancelada horas depois.

Lula chamou ministros para o encontro no Palácio da Alvorada —entre eles Fernando Haddad (Fazenda). O chefe da área econômica, que estava em São Paulo, onde teria agenda nesta segunda (8), viajou para Brasília.

A divulgação da reunião teria desagradado o presidente, que desistiu de receber os auxiliares.

O ministro Fernando Haddad (Fazenda) e o presidente Lula em evento no Palácio do Planalto - Gabriela Biló 26.mar.2024/ Folhapress

Aliados de Lula afirmam, sob reservas, que o destino de Prates está selado. Para esses interlocutores, a demissão é questão de tempo.

A expectativa, porém, é que Haddad interceda em favor da manutenção de Prates por temer impacto na economia e também sob o argumento de não haver justificativas técnicas para a exoneração do presidente da Petrobras, à exceção de sua personalidade e de seus rompantes nas redes sociais.

Outro argumento em prol da permanência de Prates seria o de que ele estava certo ao propor a distribuição de dividendos extraordinários aos acionistas da empresa, o que poderá ocorrer, ao menos parcialmente, no próximo mês.

Apesar dessas ponderações, colaboradores do presidente minimizam —embora não descartem totalmente— a possibilidade de dissuasão de Lula. Auxiliares do mandatário que esperam a saída de Prates ainda nesta semana dizem que não se pode duvidar do poder de convencimento de Haddad.

Em uma de suas publicações na internet, Prates atribuiu ao governo a decisão de não distribuir dividendos extras aos acionistas da empresa —medida que provocou perdas à Petrobras. No entanto, o presidente estaria descontente com Prates desde o anúncio de investimentos em energia eólica no país.

Segundo colaboradores de Lula, Prates deverá ser substituído pelo presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Aloysio Mercadante, com quem o petista já conversou sobre a sucessão durante uma de suas recentes viagens ao Rio de Janeiro.

Mercadante avisou a Prates e integrantes do governo que tinha sido sondado por Lula, mas sem que tenha sido formalmente convidado para a presidência da Petrobras.

Lula também já tinha manifestado a aliados a disposição de substituir Prates e vinha amadurecendo a ideia desde o mês passado.

Há, também entre interlocutores do presidente, quem defenda que a exoneração não ocorra em meio à fritura de Prates, que trava um embate público com os ministros das Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil, Rui Costa.

Nas palavras de um influente dirigente petista, demitir Prates no calor da fritura significaria dar legitimidade para uma prática nefasta. Tem pesado, no entanto, que seria recomendável encerrar a polêmica já.

Rumores envolvendo a demissão de Prates ganharam força após entrevista de Silveira à Folha, que admitiu haver conflito entre o seu papel e o do presidente da empresa.

Ele foi questionado e evitou avaliar se Prates estaria fazendo um bom trabalho. "A avaliação da gestão do presidente da Petrobras eu deixo a cargo do presidente da República", afirmou.

O presidente da Petrobras então teria pedido uma audiência com Lula para conversar sobre o bombardeio disparado contra ele por pessoas do próprio governo nos últimos dias.

A iniciativa foi vista por auxiliares do Planalto como um ultimato e acabou desagradando. Prates não está disposto a entregar o cargo.

Em sua defesa, assessores destacam mudanças promovidas pelo executivo na política de preços dos combustíveis e na política de dividendos, que atenderam a anseios do governo sem grandes impactos nas ações.

Agora, após a mais nova crise envolvendo os recursos devidos aos acionistas, Lula, que participou das discussões na época para retê-los, deve voltar a analisar um possível pagamento dos valores.

A avaliação na Petrobras é que o recuo na retenção dos dividendos em meio à queda das ações após rumores da saída de Prates comprova a tese da fabricação deliberada de uma crise.

Segundo essa tese, ao defender a retenção do dinheiro, em março, os ministérios de Minas e Energia e da Casa Civil ofuscaram a divulgação do balanço de 2023 da Petrobras, no qual a empresa registrou o segundo maior lucro da sua história.

Além de tentar evitar que a crise na petroleira cause mais danos políticos e econômicos à sua gestão, Lula cogita uma reforma ministerial, que não estava programada, para conter problemas de governabilidade.

No momento, a gestão petista vive uma tentativa de reverter a tendência de queda na aprovação de Lula, que busca soluções para ajustar uma comunicação criticada e tem pressionado ministros pela entrega de resultados.

Na semana passada, a Folha ouviu oito ministros e três secretários, que relataram fissuras entre os integrantes do governo nos últimos dias.

O chefe da Casa Civil figura entre os mais criticados e foi apontado por colegas da equipe ministerial como a origem de vazamentos na Esplanada. Mas as divergências e disputas vão além.

Incitado a tecer comentários sobre a coordenação do governo, a cargo da Casa Civil, um ministro chegou a afirmar, sob reserva, que a reportagem seria uma folha em branco se esse fosse o tema principal. Na sua opinião, não existe gestão de governo.

A falta de contato de ministros com Lula aumentou as queixas na Esplanada, com vários deles criticando o fato de que suas propostas param no Palácio do Planalto, sem que seja possível recorrer ao presidente.

O desgaste de Prates na Petrobras

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