Descrição de chapéu Financial Times

Sonho de Elon Musk na China estagna enquanto híbridos ultrapassam a Tesla

Consumidores mudam para modelos híbridos plug-in de rivais locais como a BYD

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Edward White
Xangai | Financial Times

Os compradores chineses de carros estão evitando a Tesla à medida que fabricantes rivais inundam o maior mercado automobilístico do mundo com modelos de veículos elétricos mais avançados.

A participação da empresa americana nas vendas de elétricos chineses, incluindo híbridos de bateria e plug-in, caiu para 6,5% nos primeiros sete meses do ano, diante de quase 9% no mesmo período do ano passado, de acordo com dados da consultoria Automobility.

A empresa de Elon Musk, cujas vendas chinesas no primeiro semestre foram de US$ 10,6 bilhões (cerca de R$59,3 bi) em 2023 para US$ 9,2 bilhões (cerca de R$ 51,4 bi) em 2024, não lança um novo modelo elétrico na China desde 2019. Outras montadoras estão lançando mais de cem novos modelos no país somente este ano.

Fotografia mostra carros pretos enfileirados em um corredor de uma fábrica. O ambiente é iluminado com luz branca.
Carros Model 3 da Tesla, produzidos na China, durante evento na fábrica da empresa em Xangai - Aly Song - 7.jan.2020/Reuters

"Será muito desafiador —quase impossível— para a Tesla tirar vendas de qualquer concorrente sem novos produtos", disse Tu Le, fundador da consultoria Sino Auto Insights.

Os problemas da Tesla surgem à medida que as vendas de carros elétricos na China cresceram mais de 30% até agora em 2024, impulsionadas por um salto de quase 90% nas vendas de híbridos plug-in, segundo a Automobility. A tecnologia combina uma bateria menor com um motor a combustível de reserva. A Tesla não respondeu a um pedido de comentário.

Enquanto as vendas da Tesla caem, rivais chineses, incluindo a BYD apoiada por Warren Buffett, estão se beneficiando da corrida pelos híbridos. Os modelos foram inicialmente concebidos como uma tecnologia de transição mas, na China, eles também se beneficiam de generosos subsídios para elétricos e sua popularidade forçou empresas focadas exclusivamente em carros movidos apenas a bateria a reconsiderar suas linhas de produtos.

Tina Hou, que lidera a pesquisa automobilística da China para o Goldman Sachs, disse que o crescimento das vendas de veículos elétricos está vindo cada vez mais de fora das chamadas cidades de primeira linha —Pequim, Xangai, Guangzhou e Shenzhen. "Cada vez mais vendas incrementais virão das cidades de menor porte. Sua infraestrutura de carregamento não é tão desenvolvida, então as pessoas terão mais ansiedade de autonomia", disse ela.

Bill Russo, ex-chefe da Chrysler na China e fundador da Automobility, disse que as montadoras chinesas rapidamente atenderam à crescente demanda pós-pandemia por carros familiares com maior autonomia. Carros plug-in maiores e de baixo custo têm se mostrado populares para viagens de férias e fim de semana, disse ele: "O acesso a estações de carregamento pesa muito na decisão de compra."

A BYD, com sede em Shenzhen, controla a maior parte do mercado de plug-ins e lançou dois modelos híbridos este ano, com uma autonomia de 2.100 quilômetros a partir de uma única carga e um tanque de gasolina —mais de três vezes a autonomia do Model S da Tesla.

Em agosto, a Xpeng, apoiada pela Volkswagen, se concentrou exclusivamente em baterias e admitiu que estava "estudando de perto" novas tecnologias híbridas, enquanto a unidade Zeekr EV da Geely disse que lançará seu primeiro híbrido no próximo ano.

O crescimento dos híbridos de baixo custo na China está aprofundando o declínio de grupos automobilísticos estrangeiros, que têm sido lentos em fazer a transição dos motores de combustão interna. A participação das marcas chinesas nas vendas de carros domésticos subiu para um recorde acima de 60% este ano, disseram especialistas.

Ainda assim, Lei Xing, fundador da consultoria chinesa AutoXing, disse que a decisão da Tesla de oferecer empréstimos sem juros na China este ano ajudou a limitar as consequências. "Manter um crescimento estável é uma vitória na atual batalha", disse ele.

Neste cenário, analistas disseram que Musk está sob crescente pressão para convencer os reguladores chineses a dar sinal verde ao software de direção semi-autônoma da Tesla —apelidado de FSD, ou "direção totalmente autônoma", uma nova fonte de receita potencialmente lucrativa para a empresa.

Musk, cujo império empresarial também inclui a SpaceX e a plataforma X (antigo Twitter), acredita que implantar a tecnologia é fundamental para o sucesso futuro, incluindo no incipiente mercado de robotáxis. Ele priorizou seu desenvolvimento acima do lançamento de um carro elétrico de baixo custo, conhecido informalmente como Model 2.

No final de abril, o bilionário voou para Pequim e se encontrou com Li Qiang, o número dois do líder Xi Jinping. A viagem pareceu ajudar a Tesla a aliviar as preocupações regulatórias sobre a conformidade com a segurança de dados e abrir caminho para o acesso aos sistemas de mapeamento e navegação chineses. Especialistas disseram que isso sinalizou a aprovação de Pequim a Musk e seus planos tecnológicos.

Yuqian Ding, analista do HSBC baseado em Pequim, disse que houve sinais positivos dos parceiros locais da Tesla de que a plataforma de direção autônoma está mais próxima do lançamento. O software estaria disponível para mais de 1,6 milhão de carros da Tesla na China.

Quanto da plataforma da empresa estará disponível ainda é "amplamente debatido", disse Ding, acrescentando que a maioria dos rivais chineses da Tesla está trabalhando em tecnologias semelhantes.

Os analistas observam que as exportações da fábrica da Tesla em Xangai, que representam cerca de 20% a 30% da produção, servem como um amortecedor contra qualquer desaceleração na China. No entanto, Tu Le, da Sino Auto Insights, afirmou que é difícil ver a Tesla construindo "qualquer momentum" na China sem novos produtos ou uma mudança repentina de postura de Pequim em relação à regulamentação de direção autônoma.

"Acho que há um pouco de pensamento ilusório por parte do Elon. Não ficaria surpreso se, antes do final do ano, ele vier novamente e tentar lançar o FSD na China", disse ele.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.