França quer medida contra sanções ao Irã e diz que Europa não é vassala dos EUA

Paris defende que a UE tenha poderes para proteger empresas que investem em Teerã

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Paris | Associated Press e Reuters

O governo francês disse nesta sexta-feira (11) que vai propor à União Europeia a criação de um mecanismo que proteja as empresas do bloco que decidam investir no Irã

A declaração é uma resposta a decisão americana de deixar o acordo nuclear com Teerã e de impor sanções não apenas ao país, mas também a companhias que façam negócios com ele, o que pode afetar diversos grupos franceses, como a petrolífera Total, as montadoras Peugeot e Renault, a farmacêutica Sanofi e a Danone, do ramo de alimentos.

O ministro das Finanças da França, Bruno Le Maire, disse em entrevista à rádio Europe-1 que os países europeus devem poder continuar fazendo negócios com o Irã e que os Estados Unidos não são "a polícia econômica do mundo".

"Queremos ser vassalos que obedecem a decisões dos Estados Unidos enquanto nos seguramos na barra de nossas calças? Ou queremos dizer que temos interesses econômicos e consideramos que devemos continuar a fazer comércio com o Irã?", disse ele. 

Le Maire sugeriu a criação de um organismo europeu que possa punir empresas estrangeiras, com poderes semelhante aos do Departamento de Justiça dos EUA.

Também defendeu uma alteração nas atuais regras, de 1996, que definem os mecanismos que podem ser usados para proteger o interesse de companhias no exterior.

A ideia, segundo o jornal britânico The Guardian, é criar um caminho jurídico que proteja as empresas europeias, impedindo que elas sejam punidas por sanções feitas por países de fora da União Europeia.

A proposta também permitiria que a Justiça europeia declarasse como ilegal as sanções impostas por terceiros, como a que os Estados Unidos decidiram aplicar. Le Maire sugeriu ainda a criação de uma agência que facilitaria negociações em euro entre Teerã e a UE. 

"Há uma percepção em todos os países europeus de que não podemos seguir na direção que estamos hoje, na qual nos submetemos às decisões americanas", disse o francês.

Segundo as novas sanções impostas pelo presidente Donald Trump, empresas de outros países que fizerem negócios no Irã poderão ser alvos de punições e não terão acesso ao sistema bancário dos EUA. 

Paris disse que negocia com Washington para que suas empresas não precisem seguir essa regra, mas Le Maire disse "não ter ilusões" sobre uma resposta positiva dos EUA.

Tanto Le Maire quanto o ministro das Finanças da Alemanha, Olaf Scholz, haviam falado ao secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, pedindo para ele considerar isenções ou adiamentos para companhias já presentes no país.

A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, e Trump concordaram em telefonema que conversas são necessárias para discutir como sanções americanas sobre o Irã irão afetar companhias estrangeiras operando no país.

A porta-voz de May disse que a primeira-ministra afirmou a Trump que Londres e seus parceiros europeus continuam “firmemente comprometidos” em garantir que o acordo seja mantido como a melhor maneira de impedir o Irã de desenvolver uma arma nuclear.

A chanceler alemã, Angela Merkel, também deu declarações nesta sexta em defesa da parceria entre Europa e Estados Unidos. “Há um caso sério, temos que dizer isso, mas não existe razão para duvidarmos completamente da parceira transatlântica”, disse, em referência aos americanos.

Ela também disse que há questões de como o acordo nuclear com o Irã poderá ser mantido sem a participação de um "poder econômico gigante" como os EUA.

Por isso, diplomatas franceses, alemães e britânicos —os três países da União Europeia que participaram do acordo— devem se encontrar na próxima semana com representantes iranianos para debater quais serão os próximos passos. 

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