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Ditadura de Mianmar ameaça dissolver partido de líder civil deposta em golpe militar

Comissão alega fraude nas eleições em que legenda apoiada pelo Exército sofreu ampla derrota em 2020

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Rangoon (Mianmar) | AFP

A junta que comanda Mianmar desde o golpe militar em 1º de fevereiro ameaçou dissolver o partido político da líder civil Aung San Suu Kyi por supostas fraudes nas eleições legislativas de 2020.

O presidente da Comissão Eleitoral de Mianmar, Thein Soe, afirmou que a investigação sobre os resultados do pleito realizado em novembro do ano passado, no qual o partido apoiado pelos militares foi derrotado, está quase concluída.

"Vamos analisar o que devemos fazer com o partido [Liga Nacional para a Democracia, LND] que agiu de forma ilegal: ou dissolvê-lo, ou processar quem cometeu esses atos ilegais, como traidores da nação", afirmou Soe em um vídeo divulgado pela imprensa local.

Há uma rua cheia de manifestantes, quase todos sentados, carregando cartazes com as cores vermelho e laranja e o rosto de Suu Kyi. No meio dos manifestantes sentados há uma em pé, com uma camisa azul e um microfone.
Manifestantes exibem cartazes com fotos de Suu Kyi durante protesto contra ditadura militar em Rangoon - Sophie Deviller - 12.mar.21/AFP

A Comissão Eleitoral se reuniu na sexta-feira (21) com os partidos políticos para discutir possíveis mudanças no sistema eleitoral, mas a LND não esteve representada na reunião.

O líder da junta militar, general Min Aung Hlaing, apresentou as supostas fraudes nas eleições como uma das justificativas para o golpe de 1º de fevereiro, em que Suu Kyi, o presidente mianmarense, Win Myint, e outras lideranças da LND foram depostos e presos.

A legenda, que comandava o país desde 2015, obteve 83% dos votos e conquistou 396 dos 476 assentos no Parlamento no pleito de novembro, mas foi impedida de assumir quando o golpe foi aplicado no dia da posse da nova legislatura. O Partido da União Solidária e Desenvolvimento, apoiado pelos militares, obteve apenas 33 cadeiras.

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Um veículo de comunicação local informou na quinta-feira (20) que a junta eliminou o limite de idade para a aposentadoria dos generais, o que permitiria a Hlaing permanecer nas funções mesmo depois de completar 65 anos, em julho.

Ao assumir o comando do país, o militar decretou estado de emergência por pelo menos um ano e prometeu transferir o poder após a "realização de eleições livres e justas". Para um país que viveu quase 50 anos sob domínio militar, porém, a promessa soou vaga e sem compromisso com valores democráticos.

Quase quatro meses depois do golpe de Estado, Mianmar vive um reinado de terror, com um levante popular reprimido a sangue e fogo, uma economia paralisada por uma greve geral e intensos combates entre o Exército e as facções rebeldes.

A repressão dos manifestantes pró-democracia e dos dissidentes causou mais de 800 mortes desde 1º de fevereiro. Enquanto isso, dezenas de milhares de civis foram forçados a deixar suas casas devido aos confrontos entre as Forças Armadas e as milícias étnicas, numerosas no país.

Suu Kyi, que recebeu o prêmio Nobel da Paz em 1991, não é vista em público desde sua prisão. Sob prisão domiciliar na capital Naypyitaw, a ex-líder civil deve participar de uma audiência presencial pela primeira vez na próxima segunda-feira (24).

Ela responde por quatro acusações criminais. As duas primeiras, apresentadas ainda na semana do golpe, foram de importação ilegal de seis walkie-talkies e de uma suposta violação dos protocolos de combate à propagação do coronavírus.

As outras duas são por ter supostamente violado uma lei de telecomunicações que estipula licenças para equipamentos e outra por publicar informações que podem "causar medo ou alarme", prática vetada pelo código penal que data do período colonial. Se for declarada culpada, a mianmarense pode ser banida para sempre da vida política e inclusive condenada a longos anos de prisão.


CRONOLOGIA DA HISTÓRIA POLÍTICA DE MIANMAR

  • 1948: Ex-colônia britânica, Mianmar se torna um país independente
  • 1962: General Ne Win abole a Constituição de 1947 e instaura um regime militar
  • 1974: Começa a vigorar a primeira Constituição pós-independência
  • 1988: Repressão violenta a protestos contra o regime militar gera críticas internacionais
  • 1990: Liga Nacional pela Democracia (LND), de oposição ao regime, vence primeira eleição multipartidária em 30 anos e é impedida de assumir o poder
  • 1991: Aung San Suu Kyi, da LND, ganha o Nobel da Paz
  • 1997: EUA e UE impõe sanções contra Mianmar por violações de direitos humanos e desrespeito aos resultados das eleições
  • 2008: Assembleia aprova nova Constituição
  • 2011: Thein Sein, general reformado, é eleito presidente e o regime militar é dissolvido
  • 2015: LND conquista maioria nas duas Casas do Parlamento
  • 2016: Htin Kyaw é eleito o primeiro presidente civil desde o golpe de 1962 e Suu Kyi assume como Conselheira de Estado, cargo equivalente ao de primeiro-ministro
  • 2018: Kyaw renuncia e Win Myint assume a Presidência
  • 2020: Em eleições parlamentares, LND recebe 83% dos votos e derrota partido pró-militar
  • 2021: Militares alegam fraude no pleito, prendem lideranças da LND, e assumem o poder com novo golpe de Estado
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